07/05/2015 - 18:30
Pense no Rio Grande do Sul e as imagens que vêm à mente são as típicas: churrasco, chimarrão, homens de roupas bordadas e as agências do Banrisul, banco controlado pelo governo do Estado. No entanto, no que depender do governador José Ivo Sartori (PMDB), isso vai mudar. Ao discursar na cerimônia de posse do economista Luiz Gonzaga Veras Mota, novo presidente do banco, em 16 de abril, Sartori disse querer um Banrisul “sem comprometimento ideológico e capaz de viver da própria capacidade”. Para Veras Mota, isso quer dizer mudar radicalmente a face da instituição.
“Nosso acionista controlador é o Estado, mas nossos concorrentes, em sua maioria, são privados, e nossa gestão deve ser privada”, diz ele, no banco desde 1979. Na prática, o Banrisul buscará crescer além das fronteiras do Estado e pretende concorrer com os gigantes nacionais. O desafio de Veras Mota e dos sete novos diretores é tornar o Banrisul mais competitivo e atraente aos investidores. A tarefa não será fácil. O banco é listado em bolsa desde 2007, quando captou R$ 2,1 bilhões. Desde então, as ações se valorizaram 58%, em linha com a média do sistema financeiro, embora os papéis do Banrisul sejam mais voláteis que os de outros bancos, o que provoca reticências no mercado, mesmo entre os conterrâneos.
Matias Dieterich, sócio e analista da corretora gaúcha Solidus, não costuma recomendar as ações do Banrisul. “O fato de ser um banco estatal ainda afasta e preocupa muitos investidores, principalmente pelas mudanças de diretoria a cada troca de governo”, diz Dieterich. Hoje o banco é coberto por 14 analistas. Sete recomendam a compra, cinco a manutenção, e um indica a venda. Mesmo antes da mudança de comando no governo do Estado – Sartori sucedeu o petista Tarso Genro –, o Banrisul já vinha a galope, de pé nos estribos. Um dos pilares do crescimento é a promotoda de vendas Bem, uma joint-venture entre o banco estatal e o grupo Matone, que possui 50,1% do capital da empresa, especializada na intermediação de empréstimos consignados para aposentados do INSS e servidores públicos.
Com 50 lojas e cerca de 800 correspondentes, a Bem intermediou empréstimos de R$ 3,04 bilhões em 2014, um crescimento de 24,2% em doze meses, e o lucro líquido foi de R$ 6,4 milhões. Em janeiro, a Bem recrutou o executivo Wagner Aguado, egresso do Bradesco, para melhorar os números. Os consignados, porém, são apenas uma parcela dos empréstimos concedidos pelo banco gaúcho. A carteira de crédito total fechou em R$ 30,4 bilhões em 2014, alta de 14,4% no ano, puxada pelos financiamentos agrícolas. Segundo analistas, a estratégia de empréstimos mais agressiva elevou os custos.
Com isso, nos últimos três anos, os ganhos do banco caíram 23,5%, enquanto o total financiado subiu 50,1%. O lucro do ano passado foi de R$ 691,4 milhões, queda de 12,7% em relação a 2013, e representando uma rentabilidade patrimonial de 12,2%, abaixo da média de 14,9% obtida por Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Itaú Unibanco. Em 2014, as ações do Banrisul subiram 23%, mas, neste ano, amargam perdas de 20%. Fiel às tradições expansionistas dos seus conterrâneos, o colorado Veras Mota afirma que o próximo desafio do Banrisul é tornar-se uma marca nacional. Presente nos 497 municípios gaúchos, onde briga diretamente com Bradesco e Itaú, o banco agora quer levar essa concorrência para outras unidades da Federação.
Já está presente em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará e Pernambuco. Anteriormente, a abertura de agências nesses locais destinava-se a atender empresas gaúchas que se aventuravam fora do estado. Agora, a estratégia é atender clientes de todos os lugares. “Temos potencial para cada vez mais ser um banco nacional”, diz Veras Mota. O boi é grande, então é preciso cortá-lo em bifes. Assim, o crescimento passa por áreas como seguros e cartões. Em novembro passado, o Banrisul vendeu à Icatu Seguros a exclusividade na distribuição de seguros em sua rede de agências.
Com isso, o banco assumiu 49,9% do capital da subsidiária gaúcha da seguradora, avaliados em R$ 115 milhões, atendendo 1,5 milhão de clientes individuais e 17 mil empresas. “Os seguros são fundamentais para nossa estratégia de expansão”, diz o presidente. Nos cartões, em 2013, a Banrisul Cartões lançou a Vero, empresa de adquirência que concorre com Cielo e Rede e que já movimentou R$ 15 bilhões desde o lançamento. “Nosso desafio é desenvolver maior relacionamento com as redes de varejo ”, diz Bolívar Moura Neto, presidente da Banrisul Cartões. A estimativa é que a fatia de mercado da Vero cresça dos atuais 1,6% para 5% nos próximos cinco anos.