18/11/2022 - 2:50
A maior parte do setor varejista brasileiro enfrenta um período difícil e turbulento. Pelo menos esse é o mosaico apresentado após a temporada de balanços do terceiro trimestre de 2022, visto que seis das nove empresas analisadas nesta reportagem (Americanas, Arezzo, Centauro, Grupo Soma/Hering, Guararapes/Riachuelo, Lojas Renner, Magalu, Marisa e Via) tiveram prejuízo ou queda no lucro.
Mas será que as coisas estão tão ruins assim? Para quem olha de forma simples e superficial, todo o setor aparenta estar em ruínas impactado por uma taxa básica de juros (Selic) em patamar elevado, em 13,75% ao ano. Mas não é exatamente assim. As empresas do setor de varejo de moda conseguiram passar bem em meio a esse furacão, tanto que nesse segmento apenas a Marisa teve prejuízo.
“A grande parte das empresas que tiveram esse bom desempenho foram as companhias de varejo de moda, que possuem clientes de média e alta renda, como Arezzo e Grupo Soma”, disse a analista da XP Investimentos Daniela Eiger. Para a especialista, as empresas com clientes de maior poder aquisitivo não sentiram tanto impacto, pois essas classes sociais não sofrem tanto quanto os consumidores de baixa renda em períodos inflacionários, como foi em 2022. “Essas empresas tiveram os melhores resultados do setor”, afirmou.

“Grupo Soma é a melhor empresa do setor até o momento. Eles entregaram um bom crescimento de receita e melhora de rentabilidade” Daniela Eiger analista da XP Investimentos.
Por outro lado, Marisa, que é uma empresa do varejo de vestuário, não conseguiu ir tão bem quanto as concorrentes. A companhia foi a única a registrar prejuízo entre as marcas de moda. Para Acilio Marinello, coordenador do MBA Executivo em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios, dois fatores foram fundamentais para o desempenho abaixo dos pares da Marisa. “O primeiro foi que ela fez um planejamento de estoque com um sortimento de vendas muito apertado para a temporada de inverno. E como o frio se estendeu, o volume de estoque não foi tão atrativo”, disse Marinello. Outro ponto, segundo ele, foi a inadimplência do M. Bank, fintech da Marisa que libera crédito para os clientes . “Isso causou um aumento de 281% no volume de perdas que deu o total de R$ 48 milhões”, afirmou Marinello.
Já no varejo de bens duráveis, a tormenta foi grande. As três maiores empresas do segmento, Americanas, Magalu e Via, tiveram prejuízo, algo que já era esperado. Para Eduardo Daronco, analista da Suno, com uma inflação mais elevada, os consumidores têm que direcionar mais recursos para adquirir os mesmos produtos do supermercado. “Isso reduziu o poder de compra para bens de maior valor”, afirmou. Outro ponto é a alta de juros, que dificulta o acesso ao crédito pelos clientes.
PERSPECTIVA Os três analistas entram em consenso de que o varejo de moda tende a ser o melhor nos próximos trimestres. No entanto, eles se dividiram ao eleger a melhor do setor. Para Daniela Eiger e Eduardo Daronco, o Grupo Soma tende a ser a melhor empresa do segmento. Daniela disse que “eles entregaram um bom crescimento de receita, melhora de rentabilidade e ainda sinalizando uma perspectiva de uma continuidade disso nos próximos trimestres”. Já o professor da Trevisan acredita que a Lojas Renner é a joia da coroa. “Ela acabou virando um sistema muito forte, principalmente após investimentos em sua distribuição para reduzir o tempo de entrega”, afirmou. “E a empresa também acabou de lançar um programa de fidelidade, o que é muito positivo.”
Por outro lado, todos concordam que a Americanas foi a pior no trimestre e que a empresa não possui expectativas animadoras. Daronco afirmou que “a empresa teve desenho difícil, principalmente pela queda nas vendas, explicada não só pela menor demanda, como pela elevada concorrência, principalmente no digital”. Para ele, o cenário de juros altos e inflação elevada deve continuar pressionando, seja pelo arrefecimento da demanda, seja pelo resultado mais negativo.