22/12/2022 - 2:40
Se a história do setor aéreo fosse uma série, poderia ser comparada a Lost: a luta pela sobrevivência após a turbulência. O principal motivo para o movimento brusco foi a pandemia do coronavírus. “O fechamento dos aeroportos em todo o mundo trouxe graves consequências para o caixa das empresas, que continuavam com custos, porém sem receita”, disse o especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos Gustavo Gomes.
Após o pior momento da Covid-19, as companhias até conseguiram sair da ilha com o fim das medidas restritivas e o avanço da vacinação da população. No terceiro trimestre de 2022, as duas aéreas com ações na Bolsa brasileira, Azul e Gol, ainda tiveram prejuízos. A primeira, de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre. O resultado, porém, apresentou redução de 26% em relação ao mesmo período de 2021. Já a Gol teve prejuízo similar, de R$ 1,54 bilhão, cifra 38,7% menor que no mesmo trimestre do ano passado.
Paulo Luives, especialista em renda variável da Valor Investimentos, disse que os números mostram evolução. “Um dos motivos para isso são as tarifas, que já estão sendo vendidas a patamares acima do pré-Covid, o que ajuda na retomada financeira”, afirmou.
AZUL Para 2023, a Azul estimou Ebitda de R$ 5 bilhões. Dois fatores determinariam o resultado. O primeiro seria o preço das passagens aéreas, que pode atingir níveis recordes. Já o segundo motivo seria a queda dos custos com combustíveis da aviação, puxada pela previsão de baixa do petróleo no mercado internacional.
Para os analistas da Genial Investimentos Ygor Araújo e Bernardo Noel, o número projetado para o Ebitda é otimista. “Trabalhamos com um cenário de maior dificuldade de crescimento da demanda no segundo semestre”, disseram em relatório. Na mesma linha está o Santander. O banco prevê resultado na casa dos R$ 4,6 bilhões, alta anual de 48%. Já Luives, da Valor, acredita que o número possa ser factível. “Um dos fatores é a proposta de dobrar a operação no aeroporto de Congonhas, em São Paulo”, disse o analista.

A Azul também prevê uma queima de caixa de R$ 3 bilhões para acelerar o processo de redução da dívida. De acordo com os analistas da Genial isso pode deixar a empresa um passo à frente da Gol. “A redução da alavancagem (endividamento) e um possível cenário de queda no preço do petróleo nos faz acreditar que ela possivelmente terá uma pressão menor em suas margens em relação a Gol”, afirmam Araújo e Noel em análise conjunta.
GOL A concorrente possui expectativas de melhora, é o que comenta Gomes, da Acqua Vero. “Esperamos um volume maior de voos, ocupação maior e tendência positiva para o cenário doméstico, o que pode ser interessante para a empresa”, afirmou. A Gol não divulgou os números para o próximo ano, mas de acordo com os analistas Lucas Barbosa, Lucas Esteves e Gabriel Tinem do Santander, a Gol deve atingir um Ebitda de R$ 4,1 bilhões em 2023, alta de 89% na comparação com 2022. “A expectativa é de um aumento nos preços das passagens em combinação com a queda do preço do petróleo”, disseram.
Os analistas do Santander comentaram ainda que a Gol está sendo negociada abaixo do nível histórico de dez anos e há a possibilidade de o ativo se recuperar nos próximos anos. No entanto, eles reduziram o preço-alvo da Gol de R$ 21,50 para
R$ 9,30, devido ao cenário macroeconômico, mesmo assim, o potencial de valorização é calculado em 33,62% para o final de 2023. O cálculo também foi feito para Azul, com corte no preço-alvo de R$ 30,00 para R$ 13,70 por ação, mas com potencial de valorização de 30,47% na mesma base de comparação.
Sobre as greves dos aeronautas, os analistas esperam um impacto no curto prazo, principalmente no final de ano e férias de verão. “As greves podem impactar essa melhora que as empresas do setor vinham apresentando, e ela veio em um período fundamental para as companhias”, afirmou Gomes.