27/05/2022 - 3:00
A expressão “tempestade perfeita” pode ser bem aplicada a 2022. O ano teve (e ainda tem) de tudo um pouco. Retorno das infecções pelo coronavírus na China e uma campanha global dos bancos centrais para combater uma inflação persistente. Para piorar, algo que não ocorria há sete décadas, uma guerra nas fronteiras da Europa, provocou uma turbulência ímpar nos mercados de petróleo, com consequências globais sobre os preços. Nesse cenário, a alternativa proposta pelo vice-presidente de investimentos, vida e previdência da SulAmérica, Marcelo Mello, é reduzir os riscos e aproveitar as oportunidades do mercado, que não são poucas. “A conjuntura leva muitos investidores a ter uma visão mais pessimista”, disse ele. “Porém, quase todos os mercados já apresentaram correções expressivas em relação às máximas do ano passado, o que proporciona muitas oportunidades.”
Como justificar essa visão otimista? Segundo Mello, apesar de toda a volatilidade do mercado, o Brasil segue atrativo para os investidores internacionais. O executivo avalia que o processo de elevação das taxas de juros pelo Banco Central (BC) está quase encerrado, mas ainda há espaço para apertos adicionais na Selic. Devido à greve dos servidores, faz tempo que o BC não divulga o Relatório Focus, com as projeções do mercado para inflação, juros e crescimento econômico. Mesmo assim, não se descarta a hipótese de que a Selic, atualmente em 12,75% ao ano, chegue a 13,5% ou, no extremo do conservadorismo, a 14% ao ano. “Isso quer dizer que títulos do Tesouro, sem risco, vão pagar juros reais de 5% ao ano, o que é uma taxa muito difícil de se encontrar em outros países.
“Quando o ciclo de aperto monetário se aproxima do fim, os preços dos ativos locais costumam se valorizar” Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência da SulAmérica.
Isso fornecerá um fluxo de capital capaz de impedir que as cotações desabem, e permitirá também que eventuais barganhas sejam aproveitadas pelos investidores. E há outro ponto. “Há um padrão histórico de comportamento dos preços dos ativos”, afirmou Mello. “Quando o ciclo de aperto monetário se aproxima do fim, os preços dos ativos locais costumam se valorizar.”
CURTO PRAZO No entanto, a estratégia para aproveitar essas oportunidades na travessia eleitoral é bastante específica. A ordem na empresa de gestão de recursos da SulAmérica foi reduzir os prazos e privilegiar aplicações mais líquidas, que permitam mudanças rápidas de posição em caso de necessidade. “Há dois ou três anos, cerca de 70% da nossa carteira estava em posições estruturais, com maturação em dois ou três anos”, disse ele. “Atualmente, a totalidade dos recursos está em posições táticas.”

Nesse cenário, quais os riscos? Segundo Mello, a maior preocupação dos investidores deveria ser uma guinada populista na retórica eleitoral à medida que a data da eleição se aproxima. Na visão do executivo, esse é um cenário extremo, pois o eleitor brasileiro tem um perfil menos “indignado” do que o dos eleitores nos Estados Unidos e na Europa. “A cultura do brasileiro não é de reação, nem de ruptura”, disse ele. Porém, se a situação econômica vier a se deteriorar em um cenário em que inflação e desemprego sigam elevados, a tentação populista será muito maior. “Se os candidatos viáveis tiverem um discurso responsável em termos de política fiscal, a eleição deverá ter pouco impacto sobre os preços dos ativos”, disse ele. “No entanto, se a estratégia eleitoral for assumir um discurso populista e sem compromisso com a estabilidade fiscal, isso com certeza provocará uma depreciação significativa dos preços dos ativos.”