Revolucionar um setor da economia é algo para poucos. Mesmo entre os empreendedores mais bem-sucedidos, são raros os que transformaram radicalmente uma área de negócios. Menor ainda é o número daqueles que conse­guem modificar duas ou mais indústrias diferentes, como é o caso de Steve Jobs, o criador da Apple. O investidor sueco Niklas Zennström, de 46 anos, faz parte dessa pequena elite global. Ele é o fundador do site Kazaa, serviço pioneiro de compartilhamento de canções e vídeos pela rede, e do Skype, primeira e maior empresa de telefonia online do mundo. Trata-se de duas companhias que colocaram em xeque, respectivamente, a indústria do entretenimento e a de telefonia. 

 

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Potencial: ao oferecer acesso gratuito à web via equipamentos móveis, empresa americana

pode afetar os negócios das operadoras

 

Como se não bastasse, Zennström está por trás agora de uma nova start-up capaz de virar do avesso um segmento de negócios – novamente o de telecomunicações. Seu novo projeto é a FreedomPop, que oferece banda larga móvel de alta velocidade nos EUA. Detalhe: de graça. Além de ser um dos idealizadores do projeto, Zennström é um dos investidores da nova companhia, que tem atraído a atenção da imprensa americana. “Parece bom demais para ser verdade”, escreveu a revista Time. O slogan FreedomPop, que captou cerca de US$ 10 milhões com investidores internacionais de risco para começar a funcionar, não poderia ser mais direto: “A internet é um direi­to, não um privilégio”. 

 

Slogans à parte, o fato é que o serviço deve interferir diretamente nos negócios de operadoras e fabricantes de celulares. Nos EUA, por exem­plo, as empresas de telefonia móvel compram um iPhone 5 por cerca de US$ 600 e o revendem por US$ 199. A explicação para isso é simples: ao subsidiar o preço de um smartphone, as operadoras esperam lucrar com o uso de internet móvel rápida pelos seus clientes pelos dois anos seguintes – esse é o prazo médio do contrato de fidelidade para planos de dados por lá. “As grandes empresas de telecomunicações, como Verizon e AT&T, têm margens de lucro bem altas, especialmente nos EUA, onde o nível de competição é muito baixo”, disse à DINHEIRO Stephen Stokols, CEO da FreedomPop. 

 

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A FreedomPop é a nova investida do sueco Niklas Zennström,

fundador do Skype

 

Um concorrente que ofereça o mesmo serviço de graça certamente as forçaria a diminuir suas margens sobre os planos de acesso à web. “Sem dúvida, é um modelo radical, capaz de ameaçar a indústria de telecomunicações”, afirma Renato Pasquini, analista da consultoria Frost & Sullivan. Não é difícil acompanhar o raciocínio. Apenas nos EUA, a receita com tráfego de dados deve chegar a cerca de US$ 100 bilhões no próximo ano. “Mas ainda é muito cedo para avaliarmos se essa empresa vai ser ou não bem-sucedida”, afirma Pasquini. A FreedomPop começou a atuar no mercado americano no início de outubro, em parceria com a operadora Clearwire. 

 

No próximo ano, entra em vigor um acordo com outra operadora, a também americana Sprint, que lhe permitirá ampliar sua cobertura para todo o país. A FreedomPop oferece 500 megabytes de internet móvel de graça para qualquer pessoa por mês. Para dar uma dimensão do que representam esses números, o usuário médio americano consume 450 megabytes de dados nesse período. E se um usuário precisar de mais dados, a FreedomPop fornece 1 gigabyte adicional por US$ 10 ou 5 gigabytes por US$ 35. Os serviços pagos do FreedomPop são substancialmente mais baratos que os oferecidos pelas operadoras americanas – um pacote da Verizon de 4 gigabytes, por exemplo, custa US$ 70 por mês. “Queremos fazer pela internet móvel o que o Skype fez pela comunicação por voz e vídeo, mas em uma escala ainda maior”, afirma Stokols.