Em 1995, a Pixar lançou o filme Toy Story, que é considerado um marco da animação no cinema. No enredo, Woody, brinquedo favorito de Andy, vê sua posição de destaque ameaçada pela chegada de Buzz Lightyear, um boneco espacial cheio de itens tecnológicos. Eles se tornam rivais, mas, quando se perdem durante a mudança da família, são obrigados a agir em parceria para encontrarem seu dono. A lição de moral da obra infantil – “A união faz a força” – parece ter motivado a Disney, hoje dona da Pixar e da marca Toy Story, e a Warner. As empresas são concorrentes no mercado de games em outros países pelo mundo, mas resolveram unir forças no Brasil para atuarem no segmento que deve entrar em 2013 pela primeira vez na casa do R$ 1 bilhão em negócios. 

 

129.jpg

Clayton Oliveira, diretor de marketing da Warner Games: “Trabalhamos

sem discriminar marcas no País”

 

As duas companhias vão lançar juntas uma série de títulos neste ano, sendo o principal deles o Infinity, que terá diversos personagens da Disney. “Existe uma sinergia grande das empresas no País”, afirma Clayton Oliveira, diretor da Warner no Brasil. “A parceria aqui é, no mínimo, estratégica.”Nos manuais de estratégia corporativa, esse tipo de aliança, que prevê colaborações pontuais entre empresas adversárias, tem um nome: coopetição. Um exemplo clássico, é a cooperação entre a Apple e a Samsung. Embora compitam acirradamente no mercado de smartphones, a empresa coreana, dona do Galaxy, é fornecedora de chips para o iPhone e para outros produtos da empresa americana, como o tablet iPad e o tocador de músicas iPod. 

 

A fórmula de operar com parceiros já é utilizada pela Warner no Brasil há alguns anos. A empresa tem contrato com a americana Eletronic Arts e com a britânica Codemaster para atuação conjunta por aqui. Essa estratégia é exclusiva entre os mercados de games operados da Warner. Dessa forma, ela vende no varejo local produtos como o consagrado jogo de futebol Fifa, o game de guerra Battlefield, o título oficial da Fórmula 1 e franquias da Disney, entre outros, além de suas próprias séries, como Batman e Lego. O portfólio mais amplo do que em outros países faz com que a divisão nacional seja a segunda no segmento de games para a Warner, apenas atrás dos Estados Unidos. “Procuramos trabalhar sem discriminar marcas no País”, diz Oliveira. “Esses parceiros nos deixam mais fortes.”

 

No primeiro trimestre do ano, a divisão de games da Warner cresceu acima do superaquecido mercado brasileiro, que vem dobrando de tamanho a cada 12 meses. A empresa vem aumentando seus esforços. Atualmente, o lançamento de um jogo no País demanda o dobro do investimento do que há dois anos. Os títulos da Warner são, em sua quase totalidade, legendados ou dublados em português e com manuais traduzidos. A divisão já tem parcerias para produção nacional há cinco anos, mas elas foram intensificadas em 2012. “Nosso investimento em marketing também está crescendo 100% ao ano”, afirma Oliveira. A empresa fechou contrato com celebridades para serem porta-vozes e participarem de forma ativa de seus títulos. 

 

O rapper Marcelo D2, o apresentador Tiago Leifert e o comentarista Caio Ribeiro, da Rede Globo, assim como os atores Dan Stulbach e André Ramiro, irão promover jogos da empresa em 2013. “Vou trabalhar em parceria com a Warner e terei músicas minhas no Fifa 2014”, disse D2. “Estarei presente em diversos eventos da franquia.” A aposta da Warner no mercado nacional é baseada não apenas no crescimento dos últimos anos, mas principalmente na expectativa para os próximos. O segmento de games no País sofreu até a sexta geração – no início dos anos 2000, com a pirataria, a venda de artigos originais era praticamente zero. Na sétima, que começou a chegar por aqui em 2007, as empresas criaram defesas para os produtos ilegais, mas ainda tinham os altos impostos como barreira. 

 

Nos últimos anos, elas se instalaram no País para diminuir esses custos. Os consoles da sétima geração tiveram uma queda de cerca de 50% nos preços, hoje próximos a R$ 1 mil. Além disso, a oitava geração chega ao País no final do ano, simultaneamente ao lançamento internacional. Ou seja, em 2014, o Brasil terá duas gerações de videogames no mercado, com preços mais amigáveis. “Esperamos que a base instalada de consoles de sétima geração chegue a 6,5 mil unidades no próximo ano”, afirma Bertrand Chaverot, responsável pelos negócios da Ubisoft na América Latina. “Isso faz com que o Brasil se torne um dos principais mercados no mundo, maior que a França, por exemplo.” Esse aumento de base se reflete no interesse das empresas. 

 

A feira Brasil Game Show dobrou em tamanho e valor de investimento em 2013. “Neste ano, seremos a terceira principal feira do mundo”, diz Marcelo Tavares, criador e organizador do evento que acontece em São Paulo, em outubro. “Em espaço, já somos comparáveis à principal feira do setor, a E3.” Na esteira do crescimento do mercado, as empresas estão lançando produtos mais elaborados no País. Um exemplo é a principal aposta de Warner e Disney para o Natal de 2013, o jogo Disney Infinity. O título reúne os personagens mais badalados das animações da Disney, como o pirata Jack Sparrow, o monstro Sulley e o super-herói Senhor Incrível. Ele precisa de uma estrutura extra para ser executado nos consoles, o que eleva seu preço.

 

O pacote inicial custa R$ 300, o que dá direito a três personagens. Para aumentar a experiência, outros elementos para o jogo infantil serão vendidos separadamente. “O Brasil já está pronto para esse tipo de produto”, diz Oliveira. “O Infinity será a nossa principal aposta para o Natal”. A parceria entre Woody e Buzz Lightyear durou por muitos anos, como se viu no terceiro filme da série Toy Story, lançado em 2010. E se depender de JC Rodrigues, diretor da Disney para a América Latina, as companhias também terão uma parceria duradoura. “Mudamos nosso status no Facebook de ‘enrolados’ para ‘em um relacionamento sério’”, diz Rodrigues.

 

130.jpg