22/09/2010 - 21:00
Na reta final da campanha presidencial, a candidata Marina Silva, do PV, teve boas notícias. Embora ainda oscile entre 9% e 10% das intenções de voto, ela comemorou alguns avanços que vêm sendo captados em sondagens qualitativas. Marina ganhou votos entre os eleitores com maior renda e escolaridade. Em Brasília, cidade que, segundo alguns analistas, antecipa tendências, ela ultrapassou José Serra e atingiu o segundo lugar, com 24% das intenções de voto. “O que estava aparecendo nas ruas agora começa a despontar nas pesquisas”, diz Marina. Na terça-feira 14, ela concedeu entrevista exclusiva à DINHEIRO sobre suas propostas para a economia. Marina prega uma reforma tributária e na lei das licitações para dar vantagens a empresas que protegem o meio ambiente.
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DINHEIRO – A sra. diz que pretende trocar o embate pelo debate. Quais são as propostas que a sra. quer debater?
MARINA SILVA – Saúde, educação, segurança pública, saneamento básico, infraestrutura, desenvolvimento sustentável, as propostas que interessam ao Brasil. E discutir isso de forma tranquila. A gente tem que expor aos brasileiros o que cada candidato pensa. E mesmo no caso de denúncias, não é politizar para tirar vantagem eleitoral. A gente faz a crítica para aperfeiçoar a gestão pública, para avançar na política. Temos ganhos na área econômica, ganhos na área social, e o que se vê é um imenso retrocesso político. Isso não é bom para a democracia.
DINHEIRO – Quais são suas propostas para a reforma tributária?
MARINA – Defendemos uma reforma tributária que estabeleça o princípio da justiça tributária, da transparência, da simplificação e da progressividade. No Brasil, quem ganha menos paga mais imposto. Não podemos ter uma discussão sobre reforma tributária sem que as pessoas saibam quem paga mais, quem paga menos, para onde vão os recursos. A reforma tributária não pode ser feita vendo apenas a demanda do Estado, que é consumidor de recursos. Tem que ser vista também pelo lado da oferta dos serviços e dos bens que o Estado oferece para a sociedade.
DINHEIRO – E isso implica uma redução da carga tributária ou não?
MARINA – Isso implica termos o controle do gasto público sem prejuízo dos investimentos estratégicos. É fundamental aumentar os recursos para a educação e para a saúde com a regulamentação da Emenda 29. Para termos investimentos de qualidade em saúde. Nós defendemos limitar o aumento do gasto público à metade do aumento do PIB como forma de fazer com que o equilíbrio fiscal permaneça, para que não tenhamos prejuízo dos investimentos estratégicos. E principalmente fechar o dreno da corrupção. O caso do Amapá já denuncia que é um dreno muito grande. É quase o equivalente ao que se investe em educação. É 5% do PIB sendo drenado para a corrupção.
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DINHEIRO – Como pretende gerir a política de juros? É preciso reduzir a taxa?
MARINA – O controle da política dos juros tem que ser baseado nos instrumentos de política econômica, combinando duas ferramentas. Que a gente possa reduzir os gastos públicos para ter mais investimentos. E reduzir gasto público fechando principalmente o desperdício da corrupção e do fisiologismo que aumenta e agiganta o Estado.
DINHEIRO – A sra. disse que vai dar incentivos fiscais para empresas verdes. Que tipo de incentivo e como se pode definir uma companhia verde?
MARINA – Existem critérios de sustentabilidade para as atividades produtivas. Hoje existem inúmeros critérios que são feitos de forma independente, científica. As empresas que fazem além do que a lei exige não têm nenhum incentivo. Uma empresa que coloca um filtro mais sofisticado para redução do ar não recebe nem uma política de juros mais baixos. Eu proponho a criação de meios econômicos para incentivar uma produção mais sustentável. Defendo que, quando se faz um empréstimo para um frigorífico na Amazônia, tenha ali critérios de sustentabilidade. Que a gente faça mudanças na Lei 8666 (que rege as licitações públicas) para compras verdes. Hoje não se compra produto certificado de madeira da Amazônia porque tem que ser pelo menor preço. Mas menor preço não significa o melhor caminho. Pode-se comprar uma mesa ou uma cadeira que veio de uma reserva indígena, que veio de forma predatória. Às vezes você compra um produto que tem um trabalho infantil. Esse custo não é computado, mas ele é pior. Então, se fizermos uma reforma da Lei 8666 para incentivar as compras públicas com qualidade social e ambiental, é possível alavancar determinados produtos para que eles possam ter um preço acessível para o conjunto da população.
DINHEIRO – Como a sra. recebeu o crescimento nas pesquisas no Distrito Federal e entre os eleitores com maior renda e escolaridade? É fruto das denúncias de quebra de sigilo?
MARINA – Aquilo que eu já encontrava nas ruas começa a aparecer nas pesquisas. Eu já dizia que o que eu encontrava nas ruas era bem maior do que estava aparecendo nas pesquisas. É fruto disso.