Quando Alain-Dominique Perrin, então chairman da Cartier, decidiu criar o Salão da Alta Relojoaria, em 1991, a premissa era de que o evento deveria ser para poucos. E tem sido assim desde então. Ao contrário das exposições convencionais, onde há ingressos à venda e um vaivém frenético de visitantes, no Salon de Genebra só entram convidados. A regra vale também para os expositores. Apesar de o metro quadrado no evento custar R$ 10 mil, para estar ali é preciso receber o convite para tal honraria. Não à toa, a 26ª edição do SIHH, que aconteceu na semana passada, chamou atenção: pela primeira vez, os organizadores abriram espaço para marcas pouco conhecidas do público.

Nove fabricantes independentes, como De Bethune, MB&F e Urwerk tiveram a chance de expor seus lançamentos ao lado de grifes renomadas como Montblanc, Piaget e Baume & Mercier, todas do grupo Richemont. “Sempre quisemos combinar o conhecimento ancestral das Maisons com a nova geração”, disse Fabianne Lupo, presidente da Fundação Haute Horlogerie, organizadora do Salão e ligada ao grupo Richemont. Nas entrelinhas, a frase reflete uma das maiores necessidades da indústria no momento: manter-se atraente ao público jovem em um mundo tomado pela tecnologia.

Nada mais natural, portanto, do que abrir espaço para ateliês que, apesar de pequenos, têm mostrado um forte potencial inovador. Um dos desafios é convencer as novas gerações a investir investir em uma peça de US$ 50 mil produzida meticulosamente, quase uma obra de arte, no lugar de um relógio que recebe chamadas e e-mails como o Apple Watch, vendido a US$ 350. “Os fabricantes tradicionais já passaram por isso, com a concorrência dos japoneses, nos anos 80, e sobreviveram. Resta saber se serão capazes de passar por essa nova prova de fogo”, diz o analista Robin Hurni, da Digital Luxury Group.