06/04/2011 - 21:00
O apelido de Warren Buffett, o maior investidor do mundo, é Oráculo de Omaha, em referência à sede de sua mítica empresa de investimento Berkshire Hathaway e às tacadas acertadas que levaram sua empresa a lucros bilionários. Mas quando se trata de prever os acontecimentos dentro do próprio templo, o terceiro homem mais rico do planeta, com patrimônio de US$ 50 bilhões, falhou.
David Sokol, um dos candidatos mais bem cotados à sucessão do octogenário Buffett, deixou a companhia em meio ao que pode se transformar num escândalo de compra de ações com informação privilegiada.
David Sokol: lucro de US$ 3 milhões com aquisição de ações da Lubrizol
Sokol deixou a Berkshire Hathaway na quarta 30, depois de revelar que comprou US$ 10 milhões em ações da companhia química Lubrizol Corp. para sua carteira pessoal. Isso teria ocorrido antes que a Berkshire anunciasse, em janeiro, que estava comprando a Lubrizol por US$ 9 bilhões. O problema é que o próprio Sokol fora quem recomendou à Buffett a aquisição da companhia, lucrando US$ 3 milhões como pessoa física com a operação.
A saída de Sokol foi anunciada num comunicado incomum, em que Buffett e Sokol dizem que não houve nada de ilegal na transação. Mas a Securities and Exchange Commission (SEC), xerife do mercado de capitais americano, informou ao The Wall Street Journal que investigará o assunto. Buffett e Sokol afirmaram que a demissão não tinha “absolutamente nada a ver” com a questão e o executivo estava saindo para administrar o próprio patrimônio.
Warren Buffett: críticas a conflitos de interesse não evitaram problema em casa
O embaraço é grande para Buffett, um dos maiores críticos dos conflitos de interesse em bancos e no mercado financeiro. Apesar dos bilhões na conta, ele vive na mesma casa há 50 anos em Omaha, no Estado americano de Nebraska, e mantém hábitos simples que já viraram folclore, como sua preferência por hambúrgueres com refrigerante.
Doará sua fortuna quase integralmente para obras de caridade, deixando uma pequena parcela para os filhos e netos. Suas cartas aos acionistas da Berkshire são famosas pelas alfinetadas em operações complexas montadas por bancos, negociações antiéticas ou salários inflados dos CEOs das companhias abertas.
No entanto, o maior problema agora não é de imagem, mas de sucessão. Buffett centraliza todas as decisões de investimento. A Berkshire já informava estar considerando quatro candidatos, sem mencionar seus nomes.
Mas investidores viam Sokol, na companhia há 11 anos, como o principal candidato. Como agora nem videntes conseguem entender o que acontecerá nos próximos anos, na empresa as ações refletiram a decepção do mercado diante dessa rara bola fora do velho Oráculo, caindo 3,2% no dia do anúncio.