É sempre assim. Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Não falta pão nos Estados Unidos, ainda a maior potência econômica mundial, mas o rescaldo dos 18 meses de recessão em 2008 e 2009 irrita a população – a taxa de desemprego está em 9,6% – e pode ferir de morte política o principal ocupante da Casa Branca. Justamente no Dia de Finados, o democrata Barack Obama enfrentará a fúria da oposição conservadora no primeiro grande teste eleitoral de seu governo. Revoltada com a política econômica, a direita americana promete surrar o Partido Democrata na terça-feira 2 , roubando-lhe a maioria na Câmara de Representantes e no Senado. 

 

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Barack Obama: ele pode sair com minoria das eleições parlamentares marcadas para o dia 2 de novembro

 

Se depender dos simpatizantes do Tea Party (Festa do Chá), movimento de ultradireita que tomou corpo no Partido Republicano nos últimos meses, a onda anti-Obama irá dominar o Congresso nessas eleições e transformará os dois últimos anos de seu mandato num inferno, inviabilizando até sua candidatura à reeleição. 

 

Estão em jogo as 435 cadeiras da Câmara e um terço das vagas no Senado. Há quem diga que, independentemente do resultado das urnas, o destino político do primeiro presidente negro dos Estados Unidos está traçado. 

 

A economia, que no tempo das vacas gordas elege qualquer um que esteja no poder, favorece o crescimento da oposição em tempos de crise e ameaça Obama. “Os Estados Unidos provavelmente irão enfrentar dois anos de paralisia do ponto de vista macroeconômico. 

 

Nada vai acontecer”, disse à DINHEIRO Edwin Truman, membro sênior do Peterson Institute for International Economics, um influente think tank baseado em Washington. “O melhor prognóstico é uma situação de xeque por dois anos, até a eleição presidencial. 

 

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Estilo retrô: os líderes do Tea Party se inspiram nos heróis da Independência americana,

que se rebelaram contra a opressão inglesa no século XVIII

 

Um novo presidente e seu Congresso terão um novo mandato”, avalia. Este é um cenário desalentador para quem foi eleito para mudar o jeito de fazer política, mas por enquanto só conseguiu a insatisfação do próprio eleitorado e o ressurgimento do radicalismo de direita – o slogan “Change” virou “Change Back” nas placas dos protestos do Tea Party, em que os manifestantes se vestem com roupas antigas e defendem ideias do século retrasado. 

 

Por eles, não haveria Banco Central, sistema público de saúde, assistência social, seguro-desemprego ou salário mínimo. O Estado seria mínimo e os impostos, menores ainda. A religião e a moral conservadora seriam resgatadas, os imigrantes, expulsos.  O padrão-ouro de câmbio seria reinstaurado. São “fundamentalistas” que buscam apoio numa interpretação enviesada da Constituição, definiu a revista Newsweek.

 

Esse tipo de radicalismo ecoa quando a população sofre na pele a crise econômica e não encontra respostas satisfatórias por parte dos políticos moderados. Foi assim na Alemanha de Hitler, lembrou Noam Chomski, do Massachusetts Institute of Technology, ao analisar o Tea Party. É um alerta importante. 

 

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Propostas arcaicas: eles são protecionistas, contra toda e qualquer imigração e defendem

até ideias obsoletas, como o padrão-ouro

 

Os eleitores americanos podem estar perdendo a esperança. A economia desacelerou no segundo trimestre. As expectativas do FMI são de crescimento de 2,6% do PIB em 2010 e de 2,3% em 2011. 

 

É um resultado pífio para quem gastou quase US$ 800 bilhões para estimular os negócios, salvou banqueiros da bancarrota e aumentou o rombo nas contas públicas, argumentam os líderes do Tea Party, como as folclóricas Christine O’Donnell, candidata ao Senado pelo Estado de Delaware, e Sarah Palin, candidata derrotada a vice-presidente em 2008. 

 

Famosas pelas suas gafes, elas conseguiram um feito e tanto: tomaram espaço de republicanos mais moderados, conseguiram amplo espaço na mídia e colocaram o Tea Party no centro do debate eleitoral. Obama que se cuide.

Enviado especial a Washington (EUA)