16/05/2012 - 21:00
Um sonoro “basta” ressoou das urnas da França e da Grécia, na semana passada. As derrotas do presidente francês, Nikolas Sarkozy – o 11º governante a cair em decorrência da crise na Europa –, e do governo grego, nas eleições parlamentares, evidenciaram o esgotamento da paciência da população com a falta de resultados das políticas de austeridade. Nas ruas, os europeus pediam crescimento já, mesmo que à custa de um menor rigor fiscal. “A austeridade não pode ser a única alternativa ao crescimento”, discursou o socialista François Hollande, novo presidente francês e defensor de um relaxamento dos cortes nos gastos públicos adotados pela maioria dos países da União Europeia.
Hollande e a voz das urnas: população francesa não aguenta mais a política
de corte de gastos públicos.
A tese de que o excessivo rigor defendido pela Alemanha e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) só tem aprofundado a recessão das economias do bloco parecia ganhar expressão. Na segunda-feira 7, o primeiro ministro da Itália, Mario Monti, reforçou a posição de Hollande.“ É fundamental que a Europa adote com urgência políticas para o crescimento”, afirmou o político italiano. Com um déficit fiscal médio de 4,5% e uma dívida pública equivalente a 82,5% do PIB do bloco, os 27 países da União Europeia têm pouca margem para adotar medidas de estímulo às suas economias, sem melindrar o mercado financeiro. Principal fiadora do pacote de austeridade, ao lado de Sarkozy, a chanceler alemã, Angela Merkel, não demorou a reagir ao discurso de Hollande.
Na quinta-feira 10, ela defendeu as reformas estruturais como a melhor fórmula para revigorar a Europa. “Crescer pelo endividamento nos levaria novamente ao início da crise”, disse. Merkel ficou de receber Hollande na terça-feira 15, em Berlim, horas depois de sua posse como novo presidente francês. “Hollande não tem outra opção senão se entender com Merkel”, afirma Justin Vaïsse, do Brookings Institute, em Washington. A falta de consenso político é o primeiro e mais difícil entrave para a revisão do atual pacto fiscal europeu. Em seguida, será necessário costurar um acordo sobre como aplicar recursos de estímulo à economia do bloco.
Merkel, a irredutível: a chanceler alemã não aceita negociar
um afrouxamento fiscal para reaquecer a economia europeia.
A Comissão Europeia, braço executivo da UE, voltou a discutir uma injeção de capital do Banco de Investimento Europeu (BEI) – equivalente ao BNDES – com um aporte de € 10 bilhões. O assunto será colocado em pauta na reunião do órgão, em 28 de junho. Esses recursos seriam alocados para investimentos e para recuperar a baixa competitividade das economias do continente. Estradas, ferrovias e outras obras estruturantes auxiliaram no esforço para baixar a taxa de desemprego, que chegou a 10,2% no bloco e superou os 24% na Espanha e 21,7% na Grécia. O grande desafio é convencer o bloco sobre a eficácia dessas medidas. Mas Hollande, ao menos, teve o mérito de inserir o foco no crescimento na pauta dos países europeus.