07/03/2014 - 21:00
O conceito de cidade inteligente não é novo. Há mais de dez anos ideias para se criar soluções tecnológicas voltadas às grandes metrópoles vêm sendo amplamente discutidas. De lá para cá, já surgiram propostas para minimizar deficiências em serviços de segurança, aumentar a eficiência e a precisão do transporte público e aprimorar a gestão da saúde. Foram desenvolvidas até invenções para prever – e reduzir – os danos causados por catástrofes naturais. Muitos devem se lembrar do terremoto que matou mais de 20 mil japoneses, em março de 2011, mas não tirou nenhum trem de alta velocidade dos trilhos na capital Tóquio.
Michael Cremen: “A preocupação do governo com a infraestrutura e os investimentos
que estão sendo feitos nessa área têm gerado grandes oportunidades”
O que poucos sabem, no entanto, é que um desastre foi evitado graças a uma tecnologia desenvolvida pela gigante nipônica Hitachi. A companhia, que faturou US$ 96 bilhões no ano fiscal encerrado em março de 2013, instalou sensores ultramodernos nos trens. Ao primeiro sinal de sismo, as locomotivas pararam, os vagões abriram as portas e milhares de pessoas puderam se abrigar durante o tremor. O que isso tem a ver com o Brasil, onde não há terremotos? Tudo, segundo a Hitachi. Para a companhia japonesa, a infraestrutura defasada é um filão a ser explorado.
Com pequenas adaptações, por exemplo, os mesmos sensores que paralisaram o sistema de trens no Japão poderiam melhorar a eficiência e a pontualidade do transporte público de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, o consumo de água e eletricidade seria reduzido em até 25% se houvesse a utilização de softwares de monitoramento e captação das chuvas, como o sistema que foi instalado em Viena, na Áustria. “A preocupação do governo com a infraestrutura e os investimentos que estão sendo feitos nessa área tem gerado grandes oportunidades”, diz à DINHEIRO o americano Michael Cremen, vice-presidente global de vendas da Hitachi Data Systems (HDS), divisão tecnológica da empresa.
Trata-se de uma inegável fonte de bons negócios. No mundo, segundo pesquisa da consultoria americana Wikibon, o setor movimentará US$ 1,27 trilhão até 2020. Essa gigantesca cifra justifica a intenção da Hitachi de criar modelos de cidades sustentáveis no Brasil, cada um voltado às demandas específicas de cada local. O País deverá ter município exemplo, que servirá como laboratório para o desenvolvimento de novas tecnologias nos próximos anos, de acordo com o vice-presidente da filial da América Latina, Pedro Saenger. “Para começar, podemos investir em uma cidade menor ou até implementar soluções no Rio de Janeiro, que será sede de grandes eventos até 2016”, afirma Saenger.
Além das novas tecnologias, o foco da Hitachi no Brasil atende pelo nome de “inovação social”. Entre 2012 e 2015, a companhia investirá US$ 300 milhões em infraestrutura. A meta é alcançar um faturamento de US$ 1,5 bilhão no País em dois anos. Em 2012, as receitas da filial brasileira foram de US$ 370 milhões. A relação da Hitachi com o Brasil vem de longa data. Nos anos 1960, a companhia modernizou um mecanismo antiquado de distribuição de água no sistema Cantareira, em São Paulo. A tecnologia permitiu à Sabesp uma melhor eficiência no abastecimento das residências e empresas, em uma cidade em franco crescimento e cada vez mais industrializada.
A infraestrutura do Cantareira, no entanto, tem se mostrado insuficiente atualmente, diante do maior período de estiagem na capital paulista em mais de 80 anos. “A tecnologia se atualiza cada vez mais rápido e as cidades precisam acompanhar esse ritmo para não se tornarem obsoletas”, diz Cremen. A Hitachi não está sozinha no mundo das cidades inteligentes. A gigante japonesa enfrenta a concorrência de outras companhias de peso, como as americanas Intel, Cisco e General Electric.
Segundo Cremen, vice-presidente mundial, a vantagem da Hitachi é estar em todas as cadeias do setor, desde a concepção da inteligência até a execução de produtos e serviços. Atualmente, a Hitachi produz desde maquinários para construção civil e equipamentos para hospitais até televisores e ar-condicionados. A HDS, divisão tecnológica, atua em todos os setores da companhia. “Mas queremos sair dos bastidores da empresa, para também sermos conhecidos pelo consumidor”, diz Cremen. “Estamos preparados para isso.”