01/02/2012 - 21:00
Os executivos do banco UBS no Brasil têm tido muitas chances de exercitar sua paciência – e isso vai além dos tradicionais jogos de computador, que banqueiros de investimentos têm pouco tempo de usar. Em abril de 2010, os suíços do UBS anunciaram, com toda pompa, sua intenção de voltar a disputar a liderança do mercado de bancos de investimentos por aqui, galgando posições nos rankings de fusões e aquisições, gestão de recursos e abertura de capital, da qual desfrutaram entre 2006 e 2008 (veja gráfico ao final da reportagem). Para isso, eles investiram US$ 112 milhões na compra de quase todas as atividades da corretora paulista Link, da família do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. No entanto, após quase dois anos, esse esforço não deu nenhum resultado.
O UBS sumiu no radar e nem sequer aparece nas listas de mercado elaboradas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Como isso ocorre com um dos maiores bancos europeus, líder do mercado suíço? Simples: o UBS está de mãos atadas. Hoje, comprador e comprado são vizinhos no prédio luxuoso no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo, mas não se relacionam formalmente. “A Link e o UBS têm um contrato de compra e venda assinado e aguardam a aprovação dos órgãos competentes para a efetivação do negócio”, informou a corretora por meio de sua assessoria de imprensa. Enquanto isso não ocorre, o UBS faz poucos negócios. “Eles perderam muito espaço no private banking”, diz um executivo que trabalha para uma instituição concorrente.
Os resultados são fracos, apesar de essa área – e a presidência do banco – ter sido entregue a Lywal Salles, que dirigiu com brilhantismo o private do Itaú e o levou à liderança do mercado até sua aposentadoria compulsória em 2010. Os números são igualmente pífios na área de banco de investimentos. Segundo a Anbima, o UBS não participou de nenhuma fusão e aquisição nem IPO desde 2009 – os dados oficiais vão até setembro do ano passado. Suas únicas atuações perceptíveis foram a assessoria aos japoneses da cervejaria Kirin na compra da Schincariol e uma participação na costura que fez a PepsiCo abocanhar a fábrica de biscoitos Mabel, em novembro passado. Esses negócios foram obtidos graças à rede de contatos de Eduardo Centola, executivo do UBS responsável pela área de banco de investimento.
Ex-presidente para as Américas do sul-africano Standard Bank e um dos principais executivos do Goldman Sachs por aqui, Centola tem um excelente trânsito no meio empresarial e garantiu alguns mandatos de empresas interessadas em comprar concorrentes. O que vem atrasando o relógio dos suíços é uma conjunção infeliz de fatores. Presente no Brasil desde o início da década passada, ao chegar o UBS oferecia principalmente serviços de private banking. Especialidade nacional ao lado do queijo e do chocolate, esse negócio consiste em gerir o patrimônio dos muito ricos de maneira muito, muito discreta. Nos anos 90, o sistema bancário suíço passou por um intenso processo de consolidação e o UBS tornou-se, ao lado do rival Credit Suisse, um dos líderes do mercado local.
Contatos: Eduardo Centolla costurou as duas transações em que
o UBS participou em 2011.
Além das atividades tradicionais, ambos passaram a disputar transações típicas de bancos de investimentos, como estruturar aberturas de capital e a costurar fusões e aquisições. No Brasil, ambos cresceram por meio de aquisições. O Credit Suisse aproveitou a ressaca da crise da Ásia de 1997 e assumiu o Banco Garantia. Nove anos depois, em 2006, o UBS compraria o Pactual por US$ 2,5 bilhões. Na época, André Esteves, que presidiu o Pactual, resumiu as expectativas com uma comparação musical. “Nós somos a melhor banda de rock do pedaço e agora temos um amplificador muito mais potente.” De fato, a associação fez barulho. A compra do Pactual garantiu ao UBS a liderança de vários segmentos do mercado. Pelas contas da Anbima, entre 2001 e 2005, o banco gravitava ao redor da décima posição em fusões e aquisições.
Em 2006, ele saltou para o terceiro lugar e abocanhou 46,5% dos negócios fechados no ano. Um salto equivalente ocorreu com a estruturação de aberturas de capital, os Initial Public Offerings (IPO). Pouco ativo nesse segmento no início da década, o banco chegou ao primeiro lugar em 2007, com quase 30% dos negócios. Essa fase áurea durou pouco tempo. Em 2009, premida pela crise, a matriz na Suíça demitiu 19 mil pessoas e vendeu diversas operações mundo afora. A unidade brasileira foi recomprada por Esteves e rebatizada como BTG Pactual, que hoje é um dos líderes do mercado. Poucos meses depois, com uma mãozinha do governo suíço, o UBS voltou ao azul. Ao mesmo tempo, a economia brasileira despontava como um porto seguro contra as turbulências globais.
Para recomeçar no Brasil, o UBS anunciou a compra da Link. Além de ser uma das corretoras mais ativas, que vem liderando os negócios com derivativos na BM&FBovespa nos últimos dez anos, a empresa já vinha desenvolvendo uma pequena atividade de fusões e aquisições. Seria o embrião ideal para um banco de investimentos, mas esse processo emperrou no Banco Central (BC). Qualquer instituição financeira precisa de sua permissão para abrir as portas. No caso de bancos estrangeiros, também é necessária a autorização da Presidência da República. Nenhuma das duas foi obtida até agora. A esperança do UBS é consegui-las ainda neste trimestre, se o processo não for novamente adiado. Por que esse processo ainda não foi concluído? Em primeiro lugar, o BC está muito mais exigente em relação às permissões de funcionamento dos bancos.
Poucos negócios: o Private Bank do UBS, chefiado por Lywal Salles, está longe do mercado.
“Há algum tempo, quando havia poucos candidatos a entrar no País, quem queria abrir as portas precisava apenas contratar a consultoria certa e preencher corretamente os formulários”, diz um veterano do mercado. “Hoje, muitos estrangeiros querem operar no Brasil e o BC está bem mais seletivo.” Os técnicos em Brasília não apenas avaliam o capital da empresa e a idoneidade dos executivos, mas querem discutir planos de negócio e saber se o banco terá algo a acrescentar ao sistema local. O fato de o UBS ter saído em 2009 e tentado voltar em 2010 não pegou bem. “Indicou falta de comprometimento com o mercado”, diz o executivo. A segunda justificativa é uma necessidade adicional. Hoje, candidatos a participar do sistema têm não apenas de cumprir as exigências regulatórias e de capital, mas também são “convidados” a comprar alguma das instituições financeiras em liquidação.
Negada pelo BC, a prática é confirmada por três executivos do sistema financeiro que participaram de processos recentes de abertura de bancos e vem sendo um entrave nas tratativas dos suíços com os técnicos em Brasília. O BC informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comenta processos específicos. “A análise de um processo depende da natureza da operação e dos objetivos do interessado e pode requerer mais tempo, conforme for o grau de complexidade do plano de negócios apresentado”, diz o BC. Enquanto a autorização não sai, resta aos executivos do UBS aprimorar seus sistemas – que já estão bem azeitados – e exercitar sua paciência. Procurado pela DINHEIRO, o UBS não concedeu entrevista .
Colaborou Denize Bacoccina, de Brasília