27/08/2015 - 18:00
Jornalista e articulador de propostas um tanto quanto excêntricas, Freddy Ehlers, titular do recém-criado Ministério do Buen Vivir (Bem-Viver), no Equador, é um dos encarregados de disseminar uma cultura que propõe o equilíbrio entre seres humanos e a natureza. Crítico do consumo exagerado e da obsessão pelo crescimento desenfreado, Ehlers foi premiado pela ONU por seu comprometimento com a sustentabilidade.
O sr. integra o Ministério do Bem-Viver, criado em 2013. No que consiste esse conceito?
A essência do bem-viver não é uma ideologia. Ela é baseada no conceito da felicidade, com elementos que podem ser medidos, como o acesso à educação, à saúde e à segurança. Há, também, uma parte importante que é vinculada com a natureza. Bem-viver é saber conciliar as necessidades internas de um país com as demandas da sociedade.
É possível integrar os ideais do bem-viver ao regime capitalista?
O problema é que tanto o regime capitalista, quanto o socialista atual, relacionam o conceito do bem-estar ao estilo da classe média de países ricos. Ambos voltados, em maneiras distintas, para os bens materiais. Para viver como a classe média desses países vamos precisar de três a cinco planetas.
O que deve ser mudado?
No governo do Equador as primeiras mudanças foram feitas na Constituição, com alterações em palavras e documentos. Dedicamos um capítulo à natureza. Não podemos seguir destruindo árvores e rios. Também avançamos na questão da educação e da saúde.
Esses avanços podem influenciar grandes potências mundiais?
O presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, a principal potência mundial, recentemente, fez algumas pequenas alterações em sua política de emissão de gases, o que mostra que a nossa geração é a primeira que sente os efeitos das mudanças climáticas e é a última que poderá fazer algo para mudar isso.
E como fica o crescimento econômico mundial?
Há uma esquizofrenia no mundo, atualmente, com modelos econômicos e políticos inconstantes, que prezam, cada vez mais, lucrar e fazer com que a economia cresça por meio do consumo, o que aumenta a emissão de gases poluentes no planeta. O sistema capitalista de crescimento é limitado e não há como integrar com o conceito de bem-viver.
Qual é o caminho?
Os modelos políticos e econômicos devem conciliar as necessidades internas de um país com a demanda da sociedade. E não incentivar o consumo exagerado. O marketing é o demônio da sociedade, pois vende um conceito de vida que não é cabível em nosso planeta.
Qual é o papel das empresas nesse contexto econômico?
É muito importante que os empresários compreendam esse novo modelo. É uma tarefa difícil, mas não impossível. Não há alternativas. Eles ganharão menos dinheiro, mas, por outro lado, terão mais amor e vivência.
Qual a importância da educação nesse quesito?
A educação é fundamental para mudarmos a mentalidade da sociedade. Estamos iniciando um grande plano nacional de valores para ser praticado. E voltamos isso para as crianças. Entre os valores fundamentais estão respeito, gratidão, perseverança, inovação, solidariedade e honestidade.
Há alguma relação entre a cultura que o senhor combate e casos de corrupção?
A corrupção não é um problema exclusivo do Brasil, mas do mundo inteiro. Enquanto houver corrupção, haverá pobreza. É necessário que existam leis que proporcionem uma mudança radical no sistema. Só há corrupção porque as pessoas querem mais dinheiro do que já têm.
O que seria a cidade do futuro?
Apresentaremos a proposta da cidade do futuro, para implementarmos em Quito. Levamos em consideração os indicadores da Unesco ligados à alimentação e a meios de locomoção, e não apenas edifícios e casas.