16/10/2015 - 20:00
No início do mês, em entrevista a emissoras de rádio baianas, a presidente Dilma Rousseff destacou que a balança comercial está melhorando e que a tendência da inflação, na casa dos dois dígitos, é de queda. “Eu estou vendo luz no fim do túnel”, disse a presidente, numa rápida análise sobre a situação econômica do País. Na mesma entrevista, Dilma afirmou que as pessoas deveriam colocar os interesses do Brasil acima dos interesses pessoais. Ela se referia aos parlamentares que ameaçavam derrubar os seus vetos à chamada pauta bomba, elevando os gastos públicos.
O curioso, entretanto, é que os tais interesses do País vêm sendo ignorados nos últimos 13 anos pelos governos petistas. Com um claro viés ideológico, os formuladores da política comercial externa só têm olhos para o eixo Sul-Sul, com ênfase no Mercosul e em países africanos. Como se tivéssemos voltado à Guerra Fria, na segunda metade do século XX, empunhamos bandeiras do tipo “Yankees, go home!” e viramos as costas para as principais potências econômicas, como os EUA e a União Europeia.
A aproximação com a China, é bem verdade, talvez tenha sido o único avanço comercial efetivo, embora a pauta de exportações para a segunda maior economia do mundo seja extremamente limitada a soja e minério de ferro. Seria também uma tolice não reconhecer que a economia brasileira apresentou um importante avanço no governo Luiz Inácio Lula da Silva, alcançando o posto de sexta maior do mundo. A pujança, no entanto, não se transformou em protagonismo comercial. Há dois fatores que explicam por que o Brasil jamais abocanhou fatia relevante das exportações e das importações globais – a participação do País na corrente de comércio é de mísero 1,3%.
O primeiro fator é a relutância em abrir as fronteiras, como se o protecionismo fosse uma política industrial inteligente e moderna. O segundo é a falta de parcerias comerciais relevantes. Desde 1991, o Mercosul só firmou acordos de livre-comércio com Egito, Israel e Palestina, enquanto as negociações com a União Europeia se arrastam há cerca de 10 anos. Na semana passada, no entanto, o governo Dilma deu uma pequena demonstração de que, com um pouco de boa vontade e lucidez, é possível conquistar novos mercados.
Foi firmado um acordo automotivo com a Colômbia, que prevê cotas de veículos que serão exportados com tarifa zero. No ano que vem, a cota será de 12 mil unidades, subindo para 25 mil em 2017 e 50 mil em 2018. A demanda anual por veículos na Colômbia é de 300 mil unidades, um cliente que obviamente interessa às montadoras instaladas no Brasil. E isso independente da atual crise econômica. A visita oficial de Dilma ao país vizinho, que é o terceiro maior mercado da América do Sul, foi a primeira em quase cinco anos de mandato.
“Temos de trabalhar os temas comerciais diante das dificuldades econômicas”, afirmou o presidente colombiano Juan Manuel Santos.
Em discurso a uma plateia de empresários dos dois países, Dilma reconheceu que o Brasil “é uma economia muito fechada”. “Nós, hoje, estamos vendo uma forma de abrir a economia brasileira para o resto do mundo.” Se realmente pensa desta forma, a presidente precisa trocar a equipe que formula a fracassada política comercial externa. Não há dúvidas de que existe luz no fim do túnel. Falta querer encontrá-lo.