Poderia ter sido o fim. Mas foi o recomeço. A pandemia instaurada no início de 2020 resultou no fechamento de todas as academias do Brasil por alguns meses. A Gympass, plataforma colaborativa de atividade física, teve de se transformar. Mais uma vez. A experiência adquirida desde 2012 pelos fundadores César Carvalho, Vinicius Ferriani e João Barbosa serviu para que a dificuldade fosse convertida em oportunidade. Afinal, os sete anos inicias da empresa – até 2019, antes da disseminação mundial do coronavírus – foram marcados por muitas mudanças no modelo de negócio. Com essa bagagem, encararam a pandemia e alteraram mais uma vez o rumo da companhia. Com aulas on-line e mais foco em serviços de bem-estar e saúde mental. “A gente teve uma queda significativa de receita, mas conseguimos manter o ecossistema funcionando naquele período de incertezas”, disse Barbosa.

Hoje, a Gympass está quase três vezes maior do que era antes da pandemia. Além do Brasil, está em outros dez países – Estados Unidos, Argentina, Chile, México, Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha, Reino Unido e Romênia -, possui uma rede global de 50 mil academias, clínicas, personal trainers, aplicativos e cerca de 10 mil empresas parceiras que oferecem a plataforma como benefício a seus colaboradores. E nesses 10 anos de atuação já foram realizados mais de 200 milhões de check-ins, que representam 6 bilhões de minutos de bem-estar.

PILOTO Se profissionalmente João Barbosa corre para buscar a curva positiva no balanço financeiro da Gympass, na vida pessoal ele acelera nas pistas pela categoria Porche Cup. (Crédito:Divulgação)

Números que refletem o bom momento da empresa, que tem uma das suas principais vertentes de crescimento justamente a saúde mental e bem- estar, que já representa em torno de 20% da receita — os números absolutos não são divulgados. Inclusive lançou uma nova vertical que se chama Wells, que apoia o RH das companhias parceiras. A solução oferece avaliação clínica, capacitação para lideranças, rodas de conversa estruturadas e sessões de terapia com especialistas, tudo personalizado. “Estamos no nosso melhor momento”, afirmou Barbosa, que além de trabalhar para que a Gympass permanecesse de pé, teve de correr em sua vida pessoal.

Quando a pandemia começou, um dos países mais afetados foi a Itália. Barbosa morava lá com a família. No dia em que o governo italiano anunciou o fechamento das fronteiras com outros países, as pessoas tinham 24 horas para sair de lá. Barbosa pegou alguns pertences e de carro seguiu até a Suíça. Foi um dos últimos a sair da Itália. E conseguiu pegar o último voo da Europa para o Brasil. Deixou seu veículo no aeroporto suíço. Só teve como pegá-lo quatro meses depois. A conta: 15 mil francos, cerca de R$ 83 mil na conversão atual.

Colocou a vida no lugar e a empresa também. Além da vertical Wells, outras iniciativas estão em andamento. Uma delas é a parceria com a SulAmérica, que reembolsa os conveniados que fazem atividade física. Outra é com o Sleep Cycle, um rastreador de sono com 1 milhão de usuários globalmente — os assinantes do Gympass passam a ter acesso à funcionalidade. “Saímos da pandemia melhor do que entramos. Não somente olhando para atividade física, mas com uma gama de produtos mais completa”, disse o fundador, que exerce a função de vice-presidente de parcerias e novos negócios para o Brasil, que é a maior operação da companhia – responsável por pouco mais da metade do faturamento da Gympass. “Hoje temos um produto mais estruturado e pensado nessa nova realidade.”

Muito diferente de quando começou, dez anos atrás, com R$ 100 mil. Se antes os fundadores batiam de porta em porta das academias e empresas para firmarem parceria, hoje são as companhias que os procuram para ingressar na plataforma. Entre 400 e 500 novas entram todos os meses. Apesar disso, do valuation de US$ 2,2 bilhões, dos US$ 520 milhões de aportes recebidos de fundos como General Atlantic, Softbank e Valor Capital Group, o balanço ainda não fecha no azul. Nesse caso, a busca é pela saúde financeira. “Estamos no caminho”, disse João Barbosa, que busca a curva positiva da Gympass, enquanto na vida pessoal acelera na Porche Cup, onde tenta ganhar musculatura — é o 43o colocado entre 48 pilotos.