30/04/2015 - 19:00
A melhor recomendação para quando as coisas não dão certo é voltar para casa e começar de novo. Essa deverá ser a estratégia adotada pelo banco inglês HSBC, a partir do segundo semestre. No último dia 24, durante uma reunião de acionistas em Londres, Douglas Flint, presidente do Conselho de Administração do banco, levantou a hipótese de mandar a sede mundial de volta para Hong Kong. “A questão é complexa e é cedo para avaliar o que vamos fazer, mas o Conselho já determinou que o banco avalie o melhor lugar para sua sede”, disse Flint.
Nostalgia? Não, corte de custos. O banco pretende fugir do Fisco. O governo inglês cobra uma taxa parecida com os depósitos compulsórios no Brasil, o chamado “bank levy”. Com alíquota de 0,21%, esse imposto incide sobre todos os passivos bancários e deverá arrecadar US$ 4,5 bilhões, em 2015. Por ser o maior banco britânico, o HSBC tem de pagar o “bank levy” sobre seus depósitos em todo o mundo, o que eleva a fatura para US$ 1,4 bilhão por ano. Se voltasse para a antiga casa, o banco reduziria essa despesa em até 80%. Propostas desse tipo ganham importância quando os investidores pressionam por resultados melhores.
Na assembleia da sexta-feira, 23, um grupo que representa 7% dos acionistas rejeitou os bônus propostos para os executivos, ante 11% de rejeição registrados na assembleia do ano anterior, evidenciando uma crescente insatisfação com os resultados. Em Hong Kong, onde domina os mercados de varejo e atacado, o HSBC lucra 30% ao ano, sua melhor margem em todo o mundo. O desempenho também é exuberante em outros países asiáticos, onde os retornos oscilam entre 20% e 25% ao ano, graças, principalmente, ao crédito à exportação.
Essas cifras sublinham as dificuldades nos países emergentes, o Brasil entre eles. O banco amargou um prejuízo de R$ 549 milhões por aqui, em 2014, mesmo tendo ampliado seu volume de empréstimos em 6,5%, para R$ 32,5 bilhões. Não por acaso, ao apresentar o balanço do banco em fevereiro, o CEO Stuart Gulliver afirmou que as operações no Brasil e na Turquia, ao lado de México e Estados Unidos, representavam “os maiores problemas” e seriam postas em revisão.
A retirada de mercados menores já começou. No seu auge, em 2010, o HSBC operava em 87 países e empregava 307 mil funcionários. Desde então, o banco fechou as portas em 24 países, metade deles na América Latina, e o número de funcionários caiu para 266 mil. O banco deverá apresentar seu plano estratégico aos acionistas no dia 9 de junho, e vários acionistas defendem uma saída pura e simples de mercados emergentes importantes, como México, Turquia e Brasil. Procurado, o HSBC Brasil não comentou o assunto.