14/10/2022 - 2:40
No último dia 6 de outubro, o Itaú Unibanco desafiou as plataformas digitais e anunciou taxa zero de corretagem em investimentos na Bolsa. A medida agradou os investidores da corretora, que está entre as líderes do varejo (pessoa física), de acordo com dados da B3 e da Anbima. Apesar de o corte de tarifas não ser novidade — desde 2017, as plataformas fazem promoções do tipo taxa zero para atrair clientes — o tema é incomum entre os grandes bancos. No segmento das plataformas, a taxa zero ocorre em alguns produtos, mas, claro, há ganhos de escala e receitas em outros produtos e serviços dentro do pacote ofertado aos clientes. Segundo analistas de mercado, as plataformas estão incomodando os bancos. Para entrar na guerra de igual para igual, o Itaú abrirá mão do faturamento com corretagem. No segundo trimestre de 2022, de acordo com o relatório gerencial do banco, foi registrado receita de R$ 997 milhões com assessoria econômico-financeira e corretagem com operações de renda variável (ações) e renda fixa.
Na batalha atual, o Itaú zerou a taxa de corretagem na negociação de ações, BDRs (recibos de ações estrangeiras), ETFs (fundos negociados em Bolsa) e opções para clientes de todos os segmentos do banco (agências, Uniclass, Personnalité e Private) que negociam exclusivamente via canais digitais no home broker da Itaú Corretora ou pelo aplicativo íon Itaú. É uma medida ousada. Antes, essa taxa era fixa em R$ 4,90 por ordem para corretagem e R$ 2,90 em operações day trade. Em outras palavras, o banco está reduzindo seu faturamento para competir com as demais plataformas.
“O nosso objetivo é proporcionar aos investidores a melhor e mais completa experiência em suas jornadas de alocação, com transparência, e acesso facilitado a um portfólio completo de produtos”, disse o diretor de Produtos de Investimento e Previdência do Itaú Unibanco, Claudio Sanches. “Acreditamos que esse movimento pode contribuir para que um número ainda maior de pessoas passe a diversificar seus investimentos, respeitando os perfis de investidores e objetivos.”

“Acreditamos que esse movimento pode contribuir para que um número ainda maior de pessoas passe a diversificar seus investimentos na Bolsa” Claudio Sanches Diretor de produtos de investimentos do Itaú Unibanco.
O banco informou que a iniciativa só é válida para os canais digitais. As taxas de corretagem foram mantidas para os clientes atendidos pela mesa de operações ou por telefone, independentemente do segmento. O CEO da Dom Investimentos, Gabriel Maksoud, lembrou que, no passado, as taxas para operar na Bolsa eram caras. “As primeiras plataformas começaram a zerar as taxas de corretagem lá em 2017 e 2018, começou com a Clear, depois Modalmais, BTG Pactual e XP/Rico”, disse Maksoud. “Esse movimento do Itaú é importante. Daqui para frente, com todo mundo com taxa zero, o diferencial passa a ser a qualidade da assessoria e do atendimento.”
Para o professor da FAC-SP Rodrigo Simões, o objetivo do Itaú em zerar corretagem é a busca de ganhar participação de mercado para não perder clientes para a concorrência. “O saldo médio por pessoa das carteiras de investimentos vem diminuindo, então se você ainda cobra corretagem é um ponto negativo, o cliente passa a olhar para o concorrente”, afirmou. Ao mesmo tempo, Simões lembrou que o Itaú adotou postura ativa em relação aos competidores. “Ele vem tentando adquirir outras plataformas, como a Avenue, a principal corretora do mercado norte-americano para brasileiros, então está aí uma fatia de receita que o banco quer morder”, disse Simões.
Diante da concorrência do Itaú, o momento das plataformas será ainda mais desafiador. Na última terça-feira (11), por exemplo, as ações da XP em Nova York (EUA) fecharam em queda de 9,25% em seu pior pregão em dois meses, diante dos temores de recessão global e do pessimismo no mercado norte-americano. No Brasil, o recibo da ação da XP negociado na B3 (XPBR31) encerrou com perdas de 8,15%, a R$ 100,91 por BDR. Ou seja, há dúvidas para o investidor sobre como as plataformas vão reagir a esse cenário.