O topo da pirâmide é sempre mais concorrido. Isso vale para tudo, inclusive no varejo de lifestyle. Buscando um público com poder aquisitivo mais alto e brigando por espaço com marcas nacionais e internacionais, está o grupo Restoque. Dono de grifes tradicionais e queridas dos consumidores, como Le Lis, Bo.Bô, John John, Dudalina e Rosa Chá, ele tem buscado caminhos para se manter relevante, crescer sua base de clientes e continuar atuando na ponta. Depois de um 2022 agitado com a conversão de R$ 1,64 bilhão em dívidas, o grupo entra em uma nova fase com novo nome, nova diretoria e aumento de capital.

A escolha do nome Veste, segundo a empresa, se alinha ao propósito de posicioná-la como especialista em seu setor. Após sete anos como CEO, Livinston Bauermeiste irá para o conselho de administração. Alexandre Afrange, um dos fundadores da Le Lis e atual diretor de operações, voltará à posição de CEO, que ocupou até 2014. Agora com o nome Veste S.A. Estilo, a antiga Restoque acaba de receber injeção de R$ 100 milhões para acelerar a digitalização e fortalecer sua rede de lojas físicas. A meta é ambiciosa: crescer 50% até 2025 sem abrir mão do DNA de suas marcas e do estilo que as consagraram na moda.

Para uma melhor compreensão do atual movimento da Veste é preciso voltar alguns anos, para antes da pandemia. Em 2019 a empresa deu início a um processo de reestruturação que visava corrigir alguns desvios em seu caminho de desenvolvimento. O foco era o tripé preço, produto e estoque, como afirmou o presidente do conselho da empresa, Marcelo Lima. A estratégia de diminuir a quantidade de produtos disponíveis em loja e girar o estoque mais rápido garantiu mais agilidade na operação e resultou em melhora no desempenho dos pontos de venda. “Focamos muito no aproveitamento dos produtos”, disse Lima. Segundo ele, isso significou não apenas limitar o número de peças por SKU (unidade de manutenção de estoque, na sigla em inglês) como ajustar a precificação de cada uma das marcas. Como reflexo desse movimento, o número de outlets caiu de 30 para nove — e há previsão de fechar mais alguns. Já as vendas na mesma loja, parâmetro muito usado no varejo, aumentaram 32,3% no terceiro trimestre de 2022 se comparadas às do mesmo período de 2021. Quando a comparação é com 2019, o aumento foi de 47%. Outro indicador que cresceu foi o das vendas por metro quadrado. No acumulado dos nove primeiros meses de 2022, a alta foi de 58,3% em relação a 2021.

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Na lista de desafios recentes, a Restoque ainda precisava resolver um endividamento que somava R$ 1,76 bilhão. Para contornar a situação, a empresa apresentou aos credores um plano de conversão de debêntures em ações. A ideia foi aprovada em agosto deste ano por 97,4% dos debenturistas, entre eles a WNT Capital (com 56% do total) e Santander, Bradesco e Banco do Brasil. A proposta teve assessoria do Banco Master e foi aprovada em assembleia geral da empresa. No mesmo dia, as ações tiveram alta de 5,5%. A conversão diminuiu o montante para R$ 130 milhões, com aumento de capital de R$ 1,6 bilhão.

Resolvido o problema da dívida, vieram os passos seguintes, com o novo nome e o aporte de capital de R$ 100 milhões, anunciado na quarta-feira (14). O recurso será destinado a promover o crescimento do e-commerce e a atualizar lojas físicas. Com receita de R$ 118,3 milhões no acumulado de janeiro a setembro de 2022, o e-commerce nos canais B2C integra uma estratégia omnichannel que representa 17,9% do faturamento total da empresa. Os próximos passos de investimento nessa frente incluem a criação de aplicativos para cada uma das marcas e melhorias dos sites.

Já a reforma das lojas, que dará sequência a um movimento iniciado este ano, inclui bem mais que mudanças corriqueiras. Os pontos de venda ganharão um novo conceito para conversar melhor com os clientes. Das 186 unidades que o grupo possui, dez já foram repaginadas este ano. Entre elas, lojas da Le Lis (que inclusive mudou de nome, perdendo o Blanc) e John John, as duas principais marcas do grupo. Para 2023, o cronograma do grupo prevê mudanças em outras 51, entre elas algumas da Dudalina, com modelos ainda em estudo pela empresa.

Além do objetivo de aumentar o faturamento em 50% até 2025, a Veste quer elevar o Ebitda em 100% no mesmo período. No acumulado de janeiro a setembro esses valores ficaram em R$ 968,8 milhões e R$ 139,6 milhões, respectivamente. Nada que Lima considere impossível de alcançar: “Estamos assumindo metas muito conservadoras no crescimento orgânico. Não temos nenhuma meta agressiva individualmente”.