Durante 37 minutos, na terça-feira 1º, o executivo francês Jean-Laurent Bonnafe foi sabatinado numa teleconferência global por analistas de mercado sobre o banco que preside, o BNP Paribas. Bonnafe respondeu a perguntas sobre a multa de US$ 8,97 bilhões aplicada à instituição financeira, que se declarou culpada por ter violado embargos americanos. No dia anterior, Georges Dirani, principal executivo jurídico do BNP nos Estados Unidos, havia representado o banco durante a audiência em Nova York que formalizou a multa.

A punição deveu-se ao fato de que, entre 2006 e 2010, o banco fez transações em dólares em Cuba, no Irã e no Sudão, países sujeitos a restrições impostas pelos Estados Unidos. No entanto, a indagação do analista Maxence La Gouvello, do Credit Suisse, ficou sem resposta. “O banco não é grande demais para gerenciar?” A questão faz sentido. Durante quatro anos, a equipe da área de óleo, gás e commodities do BNP liderou uma rede intrincada de bancos “satélites” que recebiam recursos de instituições sudanesas e os repassavam para outras casas, sem citar a origem do dinheiro.

Dessa forma, nem mesmo os funcionários do BNP em Nova York sabiam do esquema. “Essas coisas não deveriam ter acontecido e estamos tomando medidas necessárias para resolver o problema rapidamente, e é só o que eu vou dizer sobre isso”, disse Bonnafe, na teleconferência, se esquivando da pergunta de Gouvello. Além da multa, que foi recorde para casos de sanções político-econômicas, o BNP, que tem sede em Paris, não poderá fazer a compensação de transações em dólares, em especial da área de petróleo, gás e commodities durante um ano, a partir de janeiro de 2015.

O banco terá também de criar um departamento chamado “Grupo de Segurança Financeira” para garantir que sua conduta não infrinja nenhum outro regulamento ou embargo internacional. Atualmente, o BNP mantém operações em 75 países com mais de 180 mil funcionários, dos quais 140 mil na Europa. As principais áreas de atuação são varejo e banco de investimentos. No Brasil, o BNP atua no atacado e na gestão de fundos, tendo R$ 20 bilhões sob administração no fim de maio, dado mais recente disponível. Procurada, a filial brasileira não concedeu entrevista.

Para a agência de classificação de risco Moody’s, a multa gera incertezas em relação ao futuro do BNP. “Alguns clientes podem parar de fazer negócios com o banco voluntariamente ou por causa de proibições legais que impedem que eles tenham relações com firmas consideradas culpadas em delitos penais”, afirma a equipe da Moody’s em relatório. A fuga de clientes pode levar o banco a ter perdas ainda maiores do que os quase US$ 9 bilhões de multa. Como em um círculo vicioso, a redução do número de correntistas leva à queda na receita, diminuindo, assim, a capacidade de absorção dos choques externos, aumentando os riscos. Com isso, há chances de que um número ainda maior de clientes deixe o banco.

Por isso, a Moody’s alterou a perspectiva da nota de força financeira do BNP de estável para negativa, mas manteve a classificação de risco de longo prazo em A1. Na teleconferência, Bonnafe minimizou os danos e garantiu que a capacidade de o banco absorver choques vai permanecer inalterada. Ele disse esperar que o índice de Basileia permaneça em cerca de 10% – mesmo depois do pagamento da multa –, patamar consistente com o plano de negócios desenvolvido entre 2014 e 2016. “A área de óleo, gás e commodities representa apenas 1% do total do banco”, afirmou. As baterias das autoridades americanas, porém, não estão voltadas apenas para o BNP.

Os franceses Credit Agricole e Société Générale, os alemães Deutsche Bank e Commerzbank e o italiano UniCredit também estão sendo investigados. Desde 2009, os Estados Unidos já julgaram 22 casos contra instituições financeiras por terem feito negócios relacionados a países enquadrados em algum tipo de embargo econômico. Mas nenhuma pena chegou perto dos quase US$ 9 bilhões do BNP. Na verdade, os outros 21 bancos pagaram, ao todo, US$ 4,9 bilhões, desde que o presidente Barack Obama tomou posse. É um alerta que pesa no bolso, sem dúvida.