05/04/2013 - 21:00
No fim de dezembro, os irmãos Bernardo e Miguel Gradin, acionistas do grupo Odebrecht e controladores da GranInvestimentos, a holding de negócios da família do empresário baiano Victor Gradin, se reuniram com André Chiarini, sócio da Infra Partners, consultoria e operadora em empresas de logística. O local escolhido foi a cafeteria da charmosa Livraria Travessa, no Leblon, bairro sofisticado da zona sul no Rio de Janeiro, mas o tema da conversa passou longe de livros, CDs ou outros produtos expostos no local. Chiarini aproveitou o reencontro com os velhos conhecidos para apresentar o projeto de criação de uma empresa especializada no transporte de cargas. Menos de dois meses depois nascia a MTO. “Compramos a ideia no ato”, diz Bernardo.
Nos trilhos: Chiarini (à esq.) teve a ideia de usar a ferrovia para transporte
de cargas nobres e convenceu Miguel Geadin a apostar no negócio
“O projeto é baseado na inovação e na tecnologia, duas das premissas que movem nossos investimentos.” A companhia será a ponta de lança dos negócios em logística que o clã Gradin pretende fazer. Para isso eles dispõem de R$ 1 bilhão para gastar até 2020. Desse montante, R$ 330 milhões vão ser aplicados na estruturação da MTO. Um dos diferenciais da companhia, de acordo com Miguel, será o transporte, por via ferroviária, de cargas de alto valor agregado: eletroeletrônicos, alimentos, medicamentos, bebidas e produtos de higiene e beleza, além de insumos industriais como derivados de petróleo. O foco será a ligação das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, o principal eixo econômico do País e onde são gerados quase 17% do Produto Interno Bruto (PIB).
Hoje, a malha ferroviária carrega basicamente minério de ferro e insumos siderúrgicos. A carga seguirá dentro de contêineres acomodados em vagões de trem na linha operada pela MRS Logística. “Mais que apenas fazer o transporte, queremos ser um provedor de soluções para nossos clientes”, afirma Miguel. A expectativa é de que a operação gere um ganho de até 10% para os clientes, quando comparada ao serviço tradicional feito por caminhão. Isso porque o setor rodoviário vem experimentando inúmeras restrições. Desde a fixação de uma jornada máxima de trabalho para os motoristas até à proibição de circulação desses veículos em áreas urbanas.
“Queremos atrair projetos inovadores no setor produtivo que tenham por trás
empreendedores com capacidade técnica para tocá-los”, Bernardo Gradin
Além do transporte em si, a MTO contará com pátios logísticos em Mogi das Cruzes (SP) e Queimados (RJ). Na área total de 700 mil metros quadrados serão instalados armazéns que poderão ser usados como centros de distribuição pelos clientes. “O uso de contêineres facilita a movimentação da carga de forma rápida e automatizada”, diz o consultor em logística Alexandre Rojas, professor de sistemas inteligentes de transportes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Trata-se de um projeto ousado até mesmo na visão de competidores, como o empresário Urubatan Helou, controlador da Braspress, a maior transportadora de cargas do País, dona de uma frota de 1,6 mil veículos entre caminhões e furgões.
“Qualquer iniciativa na área de logística é muito bem-vinda,” afirma. “Mas não sei se investiria nessa vertente, porque, tratando-se de cargas nobres em trajetos de curta distância, agilidade é fundamental.” Segundo Chiarini, sócio da MTO, com uma fatia de 15%, e responsável por gerir a companhia, todas as eventuais dificuldades estão contempladas no plano de negócio, que começou a ser elaborado em 2011. A partir do primeiro trimestre de 2015, a empresa terá a exclusividade do transporte de carga em um trem por dia. Em 2018, a frequência será ampliada para duas partidas diárias. Com isso, ele acredita ser possível movimentar anualmente um milhão de toneladas de produtos, o equivalente a 5% do volume deslocado no eixo Rio-São Paulo.
Estrada sinuosa: a cada dia passam mais de 390 mil caminhões pelos 400 quilômetros
da rodovia presidente Dutra
O faturamento para o primeiro ano da MTO é estimado em R$ 50 milhões. Mas a via Dutra não é a única estrada na qual a família Gradin quer apostar suas fichas no segmento de logística. Uma equipe de técnicos da GranInvestimentos está acompanhando de perto o debate em torno da MP dos Portos. Uma das propostas em debate é a flexibilização da atuação dos terminais privados, que hoje só podem operar com cargas próprias. “Com uma boa estrutura logística ligando as duas cidades, o Porto do Rio de Janeiro pode ser uma opção ao de Santos”, diz o consultor Rojas. Tanto Bernardo quanto Miguel fazem mistério em relação ao montante que a GranInvestimentos tem em caixa.
Desde que a família se afastou da gestão do grupo Odebrecht, em 2010, com a saída do patriarca Victor do conselho de administração, de Bernardo da presidência da petroquímica Braskem e de Miguel da Odebrecht Óleo e Gás, já foram investidos R$ 800 milhões. A lista inclui a GranBio, que está desenvolvendo uma nova tecnologia para a produção de querosene, diesel e nafta a partir da cana-de-açúcar. O negócio já atraiu parceiros de peso no Exterior, como a italiana BetaRenewables, a dinamarquesa Novozymes e a holandesa DSM, de biotecnologia. Por sua vez, a BNDESPar fez um aporte de R$ 600 milhões na GranBio. O clã não deve parar por aí. “Queremos atrair projetos inovadores no setor produtivo que tenham por trás empreendedores com capacidade técnica para tocá-los”, afirma Bernardo.