27/10/2014 - 0:00
O segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff só começa oficialmente em 2015, mas a dança das cadeiras do seu governo já começou há quase dois meses. No início de setembro, a mandatária demitiu por antecipação, na prática e de forma improvisada, o ministro da Fazenda Guido Mantega. Em Fortaleza, em frente a um conjunto do Minha Casa Minha Vida, vitrine eleitoral da campanha, ela não demorou a responder a uma questão feita por uma repórter sobre a permanência de Mantega na Esplanada: “Minha querida, governo novo, equipe nova”.
Foi a única pista que deu sobre seu novo time no Executivo a partir de janeiro, depois que o adversário tucano Aécio Neves anunciou o nome de Armínio Fraga para a Fazenda, caso vencesse nas urnas. A demissão informal de Mantega foi um aceno aos empresários, que há tempos pedem um interlocutor mais próximo da classe junto ao governo. A grande dúvida do setor empresarial é quem comandará a economia depois de Mantega. Terá um perfil igualmente desenvolvimentista e intervencionista ou será alguém mais pró-mercado e conservador, capaz de conduzir as reformas que o Brasil precisa para voltar a crescer, como a tributária?
Sobre a futura equipe, nenhuma palavra durante a campanha. “Eu não falo isso, sabe por quê? Dá azar”, afirmou Dilma. Agora, vitoriosa nas urnas, a presidenta terá de acabar com o mistério e escalar um time de ministros capaz de afastar a desconfiança que já ronda o seu novo mandato. Das poucas luzes acerca de sua nova equipe, ganhou força a hipótese de uma repetição dos integrantes do governo atual que conquistaram a simpatia da presidenta, sobretudo na reta final do mandato, quando também atuaram na campanha. Esse perfil descreve principalmente o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Economista formado na USP e pós-graduado pela Unicamp, mesma escola da chefe, Mercadante é um integrante de confiança do PT. Foi eleito deputado por São Paulo duas vezes até chegar ao Senado, onde permaneceu até 2011. Do Congresso saiu para o seu primeiro ministério na era Dilma, o da Ciência e Tecnologia, e, depois de comandar a Educação, chegou à Casa Civil, onde seria responsável por fazer a interlocução com a campanha. Nos últimos meses, tornou-se o porta-voz informal da candidata no meio empresarial, posto que incluiu também a defesa do governo nos embates econômicos, missão compartilhada com o colega Mantega.
Mercadante é um dos nomes mais fortes para a sucessão na Fazenda. Além das atuações em favor da política econômica do governo, é visto como o único capaz de conduzir a economia como a presidenta quer. Tem ainda o diferencial de ser um profissional do quadro petista – Mercadante ajudou a fundar o PT. Pesa contra ele, porém, o que tanto se critica no governo atual: a falta de credibilidade com o mercado, que o considera muito parecido com Mantega. Sua indicação ou não ao cargo será um termômetro sobre a disposição da presidenta de melhorar a interlocução com investidores e empresários na segunda gestão.
Na lista de apostas para a Fazenda, Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do ministério, é outro forte candidato. O economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro era visto como o sucessor natural de Mantega até deixar o cargo no ano passado. Embora tenha alegado razões pessoais para sair do governo, sua dispensa reforçou rumores de uma provável intolerância à influência do Planalto nos assuntos da pasta. Segundo um ex-integrante do governo ligado à cúpula do PT, há dúvidas se Barbosa aceitaria um eventual convite para assumir a cadeira.
O mesmo risco, de recusa, ronda dois profissionais citados nos rumores de potenciais candidatos ao cargo: os empresários Josué Gomes da Silva (filho de José Alencar, vice-presidente no governo Lula) e Abilio Diniz, ex-dono do o Grupo Pão de Açúcar e atual presidente do conselho de administração da BRF. Um ex-integrante do governo considera improvável ver alguém com esse perfil na pasta. “Dilma nunca gostou de empresários. Não está no DNA dela.” Os dois executivos continuam na lista dos cotados para o Ministério do Desenvolvimento, na qual já apareceram na ocasião da saída do então ministro Fernando Pimentel, no início do ano.
Entre operadores do mercado financeiro circulou ainda, nos últimos dias, o nome de Luiz Carlos Bresser-Pereira como um dos prováveis sucessores de Mantega. Bresser, um dos fundadores do PSDB, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e que deu nome a um dos fracassados planos econômicos da era da hiperinflação, declarou voto em Dilma poucos dias antes das eleições. Ex-integrantes da equipe econômica consideram sua nomeação uma hipótese remota. “Seria muito mais lógico um Luiz Gonzaga Belluzzo do que um Bresser”, afirma um deles, que aponta o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles como o profissional mais capaz de reconquistar a credibilidade com o mercado, ainda que seja nome improvável para assumir o cargo.
Se há certeza de que haverá mudança na Fazenda, outro pilar da equipe econômica permanece incerto. Dilma Rousseff não deu sinais de que deve tirar Alexandre Tombini do Banco Central, apesar de não ter atingido o centro da meta de inflação (4,5%) em nenhum dos quatro anos. Para Valeriano Mendes Ferreira, professor de ciência política da Unicamp, a presidenta deve começar o mandato com um ministério mais político, ao contrário do que aconteceu em 2011. “Ela tinha uma imagem mais pura da questão de competência, tinha um ideal técnico”, diz Ferreira. “Agora precisará ter uma visão mais política, para ter articulação com o Congresso.
Senão, não governa, ficará mal informada e será malvista.” Entre os nomes políticos quase certos está o do cientista político Miguel Rossetto, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário e um dos coordenadores da campanha. Outros dois políticos ascenderam nos últimos meses: os petistas Jaques Wagner, governador da Bahia, e Ricardo Berzoini, hoje na Secretaria de Relações Institucionais. O petista baiano poderia assumir a Casa Civil, enquanto Berzoini iria para as Comunicações. Com esses nomes ou outros, o mais importante é que Dilma mostre a cara de sua equipe e a linha a ser adotada no novo governo. A corrida contra o tempo já começou e a economia não pode esperar.
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