Duas datas serão celebradas como feriado dentro das fábricas na General Motors em todo o mundo: 16 de setembro e 18 de novembro. A primeira marca a fundação da companhia, em 1908. 

 

A segunda, a partir deste ano, simbolizará a reconstrução daquela que durante mais de meio século foi a maior fabricante de automóveis do planeta, posição perdida recentemente para a japonesa Toyota. 

 

Na quinta-feira 18, a GM voltou a negociar seus papéis na bolsa de Nova York, após dramáticos 16 meses de reestruturação – o que, na prática, significou o renascimento da companhia, símbolo do poder industrial americano. 

 

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Jaime Ardila, presidente da GM América do SUl

 

Para não deixar a empresa falir, os governos dos Estados Unidos e Canadá, além do sindicato United Auto Workers, assumiram participação acionária na montadora e evitaram o tombo letal da gigante de Detroit, em 2008. A quase estatização da GM fez com que ela ganhasse o apelido de Government Motors, título que soa como ofensa em uma economia neoliberal.

 

Ao mesmo tempo que comemorava com estardalhaço o retorno à bolsa, um discreto anúncio do presidente para a América do Sul, Jaime Ardila, indicou que a nova fase da GM poderá ter influência nas operações brasileiras. 

 

A partir deste ano, os balanços financeiros dos mercados do continente serão desmembrados dos resultados globais – isso ajudará o próprio mercado a entender melhor a performance de países em franca expansão, como o Brasil. 

 

Em uma primeira leitura, o desmembramento indica que a companhia estaria se preparando para uma eventual abertura de capital no Brasil. O IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações) não seria algo inédito entre as multinacionais que atuam no País. 

 

O banco espanhol Santander abriu capital na Bovespa e captou R$ 14 bilhões. “Não pensamos nisso agora. A empresa tem um plano de investimento agressivo, estamos capitalizados e não pretendemos descentralizar o controle operacional”, disse Ardila.

 

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Assim como o IPO é impensável para a filial brasileira, ninguém apostaria numa estatização da GM antes da crise de setembro de 2008. Mas o socorro não apenas salvou a montadora da falência como também forçou uma profunda reestruturação.

 

No IPO de quinta-feira, a GM levantou US$ 20,15 bilhões, valor muito próximo ao que o mercado previa. O dinheiro tende a continuar a entrar no caixa da montadora nas próximas semanas. 

 

Hoje a GM mantém um endividamento perto de zero, tem custos de produção mais enxutos e um plano agressivo de lançamento de produtos. “Tivemos uma segunda chance. Poucos tiveram esse privilégio. Reconstruímos a GM”, disse Jaime Ardila. 

A reconstrução da GM nos Estados Unidos deverá ter reflexos aqui. 

 

Nos últimos cinco anos, o crescimento das vendas no País elevou de 3% para 8% a participação do Brasil nos resultados globais. Em 2010, do cerca de um milhão de unidades na América do Sul, 650 mil serão no mercado brasileiro. 

 

Não por acaso, todas as fábricas da GM no País estão em ampliação, em um investimento de R$ 5 bilhões até 2012. Uma nova unidade, para a produção de motores, começará a ser erguida em Joinville no ano que vem, quando R$ 2 bilhões serão investidos no Brasil.