A reação foi rápida e vultosa. O investimento de R$ 7 bilhões anunciado pela General Motors no Brasil entre 2024 e 2028 marca estratégia que visa não só a retomada da liderança do mercado nacional, como a manutenção da produção no País. A bandeira vai apostar em mobilidade sustentável para driblar a desconfiança gerada nos últimos meses sobre o futuro das operações na região, diante da baixa rentabilidade.

O planejamento inclui renovação de portfólio, desenvolvimento de tecnologias, além da criação de negócios. A iniciativa foi revelada no último dia 24 pelo presidente da GM Internacional, Shilpan Amin, durante encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, quase dois meses após a abertura de plano de demissão voluntária (PDV) que resultou na saída de 1,1 mil dos cerca de 16 mil colaboradores do quadro da montadora por aqui.

A redução do número de funcionários, segundo a GM, foi decorrente da queda das vendas no Brasil. Um retrato preocupante para um futuro que se desenha bastante desafiador.

Apesar de o segmento de carros de passeio ter apresentado crescimento – emplacou 1,72 milhão de unidades no ano passado, acima de 1,57 milhão de um ano antes –, a marca caiu do primeiro (16,76%, em 2022) para o terceiro lugar (15,79%), atrás agora da líder Volkswagen (16,87%) e da Fiat (16,11%), em segundo.

Já no acumulado geral de carros de passeio e de comerciais leves a empresa perdeu uma posição, do segundo (14,89%, em 2022) para o terceiro posto (15,05%), mesmo com o aumento percentual – a Fiat lidera (21,8%), seguida pela Volkswagen (15,8%), vice-líder. Os emplacamentos totais nos dois segmentos chegaram a 2,17 milhões de unidades em 2023, contra 1,95 milhão do período anterior.

Os resultados acenderam o alerta na sede da GM em São Caetano do Sul.

O novo ciclo de investimento tem como objetivo reforçar a competitividade da empresa e a sustentabilidade de suas operações e produtos.

“O Brasil é estratégico para o plano global de expansão de negócios da GM”, disse Shilpan Amin, em nota. “É um mercado com alto potencial de crescimento com vocação também para veículos de novas tecnologias, em sintonia com a matriz energética predominantemente limpa do País”.

Já Chamorro acredita que este será o período de maior transformação da GM no Brasil. “As mudanças são necessárias em virtude das atuais demandas da sociedade e dos consumidores.”

Shilpan Amin, presidente internacional da GM (Crédito:Divulgação)

“O Brasil é estratégico para o plano de expansão da GM. É um mercado com alto potencial de crescimento, com vocação para veículos de novas tecnologias.”
Shilpan Amin, presidente internacional da GM

PROJETOS

O novo aporte terá diferentes destinações. Será utilizado: 
na modernização das cinco fábricas da GM no Brasil,
na renovação do portfólio de produtos nacionais da marca Chevrolet,
na produção local de novos modelos,
e na chegada de novos importados.

Estão previstos para o intervalo 2024-2028 os lançamentos da Spin 2025 e dos elétricos Blazer EV e Equinox EV, assim como a renovação dos modelos S10, Onix e Onix Plus, Tracker e Montana.

O tema eletrificação também ganhou destaque. Chamorro destacou o potencial do Brasil para carros elétricos puros, além da grande capacidade de produzir novas tecnologias. E tanto ele como Amin deixaram em aberto a possibilidade de a GM investir em modelos híbridos, discurso contrário aos anteriores e ao pregado até então pela matriz nos Estados Unidos, que via a propulsão 100% elétrica como única opção no futuro da indústria automotiva. A história, porém, mudou. Na segunda-feira (30), a CEO global da GM, Mary Barra, admitiu a investidores que a montadora venderá híbridos plug-in na América do Norte, a exemplo do que faz na China, após pressão de concessionários. A expectativa é que a decisão seja estendida ao Brasil.

A opção por híbridos, na visão do especialista Cássio Pagliarini, é fundamental para a GM se manter competitiva no País. O sócio da Bright Consulting, consultoria especializada no setor, acredita que a hibridização dos modelos é o caminho natural para a eletrificação total.

A estratégia tem sido adotada, por exemplo, pela Stellantis e pela Volkswagen, principais concorrentes da bandeira. “O Brasil ainda não tem uma vasta rede de postos de carregamento para carros 100% elétricos, além de o preço [dos modelos] ainda ser muito alto diante de um volume baixo”, disse.

Pagliarini também considera essencial a renovação do portfólio da GM. Exceção à nova Montana, lançada recentemente, os demais produtos passaram por atualização já há algum tempo. “Enquanto modelos como Hilux [Toyota], Frontier [Nissan] e Ranger [Ford] tiveram reformulações bem fortes, com alguns deles sendo considerados até novos ou plataformas novas, a S10 (GM) segue com a plataforma antiga”, disse. A mesma situação é observada em relação aos veículos Onix, Onix Plus e Tracker. “É preciso acelerar o ritmo de atualizações, mas não se vê uma atuação forte da GM para mudar isso”.

Enquanto busca um novo rumo no mercado brasileiro, a GM celebra importantes resultados globalmente. A companhia obteve lucro líquido de US$ 2,1 bilhões no quarto trimestre de 2023, 5% maior do que o ganho de US$ 1,99 bilhão apurado em igual período do ano anterior. A receita, porém, sofreu leve queda anual de 0,3% no trimestre, a US$ 42,98 bilhões. Os números foram impactados por greve de colaboradores nos Estados Unidos.