18/05/2011 - 21:00
Na estante de Jorge Gerdau Johannpeter, um livro guarda lugar cativo. Escrito pela filósofa russo-americana Ayn Rand, A Revolta de Atlas narra a história de empresários que, cansados da ineficiência estatal, entram em greve e entregam suas empresas aos burocratas e reguladores de plantão. Ao se apoderar das companhias, o Estado, que carece do empreendedorismo e criatividade, inerentes ao setor privado, termina por afundar a economia no caos. Pois o industrial catarinense que fez da gestão eficiente sua bandeira desde a década de 1990, quer manter essa história apenas no campo da ficção. Aos 74 anos, Gerdau assume a missão de incutir na máquina pública a cultura da boa administração, como líder da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade.
A instância foi criada pela presidente Dilma Rousseff por sugestão do próprio Gerdau. “As necessidades do Brasil mostram que a gestão é o caminho para o desenvolvimento”, disse o empresário na quarta-feira 11, em Brasília, depois de ser empossado pela presidente Dilma. Gerdau vai ter como parceiros, na empreitada, os empresários Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, e Henri Philippe Reichstul ex-presidente da Petrobras. Juntos, formarão o conselho ligado à Presidência da República, que terá a árdua tarefa de ajudar o governo a administrar melhor, enquanto gasta e desperdiça menos.
As ferramentas sairão da experiência bem-sucedida do time na iniciativa privada. “A Câmara de Gestão estará no centro da política de governo”, afirmou a presidente Dilma, que já tinha em mente o formato do grupo desde novembro do ano passado quando, então, recém-eleita, conversou com Gerdau sobre os desafios de inserir a cultura de eficiência na pesada máquina do Estado.
Durante o encontro, o presidente do Grupo Gerdau lhe apresentou a proposta de uma câmara formada por empresários e membros do governo, que dividiriam espaço de forma igualitária no debate de soluções. Dilma gostou da proposta e escolheu a dedo os integrantes do setor produtivo. Maciel Neto ganhou espaço pelo currículo bem-sucedido na iniciativa privada, e pela passagem marcante no setor público.
O público e o privado: Dilma terá ideias da elite empresarial brasileira,
liderada por Jorge Gerdau, para aprimorar a gestão pública
Como secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, chefiou as câmaras setoriais que buscaram aumentar a competitividade das empresas brasileiras depois da abertura econômica, durante o governo Collor (1990-1992). No caso de Henri Reichstul, pesou a favor sua gestão à frente da Petrobras entre 1999 e 2001. Foi ele quem definiu os processos que transformaram a estatal numa empresa dinâmica.
Abilio Diniz tem, por outro lado, a experiência como líder do maior grupo varejista do País. Ele nunca escondeu seu apoio ao governo, inclusive abrindo seu voto em plena campanha eleitoral. Na semana passada, ele não escondia o entusiasmo. “A importância que a câmara terá para o País dependerá do nosso bom trabalho”, afirmou Diniz à DINHEIRO.
O quarteto seguirá uma rotina de encontros com o primeiro escalão da Esplanada dos Ministérios: Antônio Palocci, da Casa Civil, Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Guido Mantega, da Fazenda e Miriam Belchior, do Planejamento. A câmara poderá ser acionada por órgãos do governo interessados em melhorar sua gestão. Mas pode ter atuação ativa, identificando gargalos e apontando ao governo onde é preciso melhorar processos.
Antes mesmo da instalação da câmara, Gerdau já havia feito uma experiência com o Ministério da Saúde. Uma das metas estabelecidas com a pasta previu a definição de um novo sistema de logística de compras para a Saúde, que venha a reduzir custos.
Com o novo órgão, Gerdau torna-se fiador do projeto de Dilma de ampliar a competitividade do País. O Planalto já havia tentado cooptar o empresário em outras ocasiões.
Em 2007, ele chegou a ser convidado para ser o ministro do Desenvolvimento, no lugar de Luiz Fernando Furlan. Declinou do convite. Durante o governo Lula, sua maior contribuição foi como membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão. “Gerdau teve um papel fundamental ao inserir o investimento em educação e inovação como metas essenciais para o desenvolvimento do País”, diz Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).
Maurílio Biagi Filho, presidente do Grupo Maubisa, conta que a ambição de Gerdau é aposentar a burocracia entranhada em Brasília. “O Jorge tem um sonho de o Brasil um dia enterrar as práticas
que atrasam o seu desenvolvimento”, diz.
Colaborou Hugo Cilo