21/06/2013 - 18:00
A juventude brasileira, um grupo de 42,1 milhões de pessoas com idade entre 18 e 30 anos que movimenta R$ 506,6 bilhões por ano, segundo o instituto Data Popular, mostrou sua cara para o Brasil na semana passada. Milhares de jovens lideraram os protestos que tomaram o País, revelando uma capacidade de indignação e de articulação que não era vista havia pelo menos 20 anos. Com a personalidade forjada junto com a evolução da internet e dos gadgets digitais nos últimos anos, essa geração – batizada de millenium – intriga sociólogos e deixa políticos, empresários e investidores boquiabertos. Se eles hoje representam os consumidores e líderes corporativos de amanhã, o que esse movimento popular significa para a economia e os negócios? Como as empresas devem se relacionar com eles?
Protesto em SP: as redes sociais ganharam mais audiência do que as tevês durante as manifestações
Por enquanto, há mais perguntas do que respostas. Mas uma avaliação do comportamento da massa humana que tomou as ruas fornece algumas pistas importantes de como agir diante de fatos tão arrebatadores. Indignados não apenas com os R$ 0,20 de aumento da passagem em algumas cidades, os manifestantes extravasaram sua indignação com serviços públicos de má qualidade e a corrupção. Com alguns cliques em computadores, tabletes e smartphones, eles convocaram os amigos e fermentaram o movimento nas redes sociais. O Facebook – que há poucos meses passou a veicular publicidade de empresas em meio aos posts dos usuários – virou uma poderosa ferramenta de convocação.
Tornou-se uma espécie de megafone digital patrocinado, em que as marcas das empresas ficaram expostas à ira e à simpatia dos participantes. Ao lado do Facebook, canais como o Instagram e o YouTube viraram concorrentes poderosos da imprensa tradicional, com relatos em tempo real do que acontecia nas ruas. Os abusos policiais dos primeiros dias de protestos em São Paulo e no Rio de Janeiro foram filmados e transmitidos pelos jovens, o que gerou ondas de indignação e de simpatia com os manifestantes, que, no início, eram tratados como baderneiros por emissoras de tevê e políticos como o governador de São de Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Nova era: a tecnologia é aliada poderosa das manifestações por projetos
coletivos, como a redução da tarifa
Imagens feitas por amadores ajudaram a identificar o estudante de arquitetura Pierre Ramon, que depredou a porta da Prefeitura de São Paulo na terça-feira 18. Nas mãos dessa nova geração, os smartphones ganharam um novo status. A qualidade da conexão e os recursos de fotos e vídeos foram determinantes para testemunhar este momento. Diversas empresas perceberam o movimento e passaram a patrocinar vídeos na rede. O Laboratório Fleury adicionou um anúncio ao vídeo de nove minutos de um protestante que explicava no YouTube por que valia a pena sair da zona de conforto e apoiar o movimento contrário ao aumento de R$ 0,20 – o vídeo teve 720 mil visualizações. Alguns jovens editaram cenas emocionantes e colocaram como trilha sonora a música “Vem pra rua”, produzida para um comercial de tevê de uma montadora de veículos.
Uma peça do uísque Johnny Walker, em que um gigante de pedra acorda no Rio, foi lembrada. Alguns desses vídeos foram patrocinados por empresas como a operadora Vivo. Nada será como antes e todo cuidado é pouco numa era em que a verdade fica exposta em tempo real. Ao contrário do que propõe o livro 1984, de George Orwell, o Grande Irmão que tudo vê não está nas mãos de poucos, mas de qualquer pessoa a partir de um celular. “A democracia é diretamente afetada pela tecnologia, assim como aconteceu em outros países”, diz Gustavo Diament, diretor de marketing da operadora Claro. E o que pensam os jovens indignados? Uma pesquisa realizada no ano passado pela agência WMcCann em sete países, incluindo Brasil, China e Estados Unidos, identificou três valores muito fortes da geração millenium: a colaboração, a autenticidade e a justiça.
“Eles saíram do individualismo e aguçaram um senso coletivo”, diz Aloísio Pinto, vice-presidente de planejamento da WMcCann. Ficar rico também não é o que mais importa, assim como o consumo pelo status. “Muitos jovens preferem adiar a compra de um carro, por exemplo, e gastar dinheiro para viajar”, diz Pinto. Eis por que o transporte público tornou-se prioridade. “Queremos ganhar dinheiro, mas não adianta se o restante da população estiver em situações precárias”, disse Guilherme Gomiero, 19 anos, estudante de administração, de São Paulo, que estava em seu quarto dia de protesto na quinta-feira 20. “País rico não é aquele em que pobre tem carro, mas aquele em que rico usa transporte público.”
Colaboraram: João Varella e Bruna Borelli