Há um ponto em comum nas agendas de Roberto Setubal, principal executivo do Itaú Unibanco, e de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. Ao anunciarem os resultados de 2012, pouco antes do Carnaval, ambos frisaram a necessidade de aumentar a participação dos empréstimos imobiliários nas carteiras de crédito dos bancos que comandam. “Esse é um financiamento de longo prazo, essencial para a saúde do sistema financeiro”, disse Trabuco. “É a carteira mais importante para os bancos nos países de economia madura”, afirmou Setubal. Mesmo o Banco do Brasil, tradicionalmente dedicado ao financiamento do agronegócio, vem reforçando sua atuação nessa área. 

 

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Crédito em expansão: financiamentos imobiliários deverão chegar a 16% do PIB em 2020,

diz Vitor Bidetti, presidente da InterServices

 

Na avaliação do mercado, a divulgação dos resultados do banco estatal, prevista para a quinta-feira 21, deverá exibir um crescimento dos números nessa área. O avanço do BB deverá ser acompanhado por um movimento semelhante da Caixa Econômica Federal, que vem acelerando a concessão de financiamentos de imóveis. Tanta ênfase em um só produto acabou criando um gargalo nas engrenagens de liberação de empréstimos e abriu oportunidades de negócio para empresas dedicadas a lidar com a aparentemente interminável papelada que os envolve. É o caso da InterServices, companhia dedicada ao processamento de transações. Quando um cliente solicita um financiamento imobiliário em uma agência bancária, é uma empresa como a InterServices que analisa a papelada do cliente e a documentação do imóvel e, no caso de o crédito ser concedido, emite os boletos de cobrança e confere a realização dos pagamentos. 

 

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Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco: ”empréstimos imobiliários

são essenciais para a saúde do sistema financeiro”

 

Dessa maneira, os departamentos imobiliários dos bancos são desafogados. “Esse personagem é muito comum em outros países”, diz Vitor Bidetti, principal executivo da InterServices, empresa paulista fundada há seis anos. O campo é vasto. Pelas contas do Banco Central (BC), os empréstimos imobiliários vêm apresentando o crescimento mais rápido no universo do crédito. Em dezembro de 2010, eles representavam 7,7% do total de financiamentos. Dois anos mais tarde, em dezembro de 2012, essa fatia havia crescido mais de dois pontos percentuais, para 10,8%. E isso é apenas o começo. A carteira imobiliária dos bancos representava 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 e deve chegar a 16% do PIB em 2020, avalia Bidetti. 

 

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Roberto Setubal, do Itaú Unibanco: ”financiamento de longo prazo,

a carteira de crédito mais importante dos bancos nas economias maduras”

 

Quem conhece o setor concorda com essa avaliação. “A carteira imobiliária dos bancos é uma ferramenta essencial para conquistar clientes de longo prazo”, afirma o economista Roberto Troster, especializado no sistema financeiro. Ele também descarta a hipótese de que esse crescimento leve a distorções como as que ocorreram em países como os Estados Unidos e a Espanha. Uma atitude cautelosa dos bancos, que não concedem empréstimos quando a prestação supera 30% da renda do cliente, e a complicada burocracia dos cartórios, que evita fraudes mas trava os negócios, são uma garantia adicional de que o crescimento desses empréstimos vai ocorrer sem risco de bolhas, como a que balançou o sistema bancário americano em 2008. 

 

O crescimento deverá ocorrer principalmente nos financiamentos voltados à população de menor renda, que vai adquirir o primeiro imóvel participando de programas governamentais. Outra indicação da solidez desse mercado é a expansão dos fundos imobiliários. Segundo o sistema de informações Economática, seu patrimônio no fim de 2012, era de R$ 25,7 bilhões, ante R$ 8,5 bilhões 12 meses antes. Segundo Bidetti, esses fundos serão os grandes compradores de títulos emitidos com base nos empréstimos concedidos pelos bancos. “A queda dos juros vai gerar uma demanda por esses papéis, garantindo um fluxo de recursos estável.”

 

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