01/01/2015 - 14:00
Nascidos na Escócia, os irmãos Edward e Fleetwood Pellew Wilson gostavam de navegar e de fazer negócios. No entanto, diferentemente de muitos de seus conterrâneos que emigraram, eles não buscaram um eldorado na Índia ou na América do Norte. Ambos aportaram em Salvador, em 1832. Trabalharam como armadores até estabelecerem sua própria companhia em 1837, dedicada à importação de carvão mineral das Ilhas Britânicas, na capital baiana. Três décadas mais tarde, já no Rio de Janeiro, onde até hoje está baseado o grupo, Edward Jr., primogênito do irmão mais velho e sucessor do pai à frente dos negócios, foi bafejado por um golpe de sorte.
A Guerra do Paraguai aumentara bastante a demanda de carvão pela Marinha Imperial, impulsionando os negócios da empresa que administrava ao lado dos irmãos e primos, já denominada Wilson, Sons. Um século e meio mais tarde, embora pouco visível para o grande público, a Wilson, Sons – que já não é mais controlada pela família – tornou-se uma empresa de grande porte. Faturou mais de R$ 1 bilhão nos nove primeiros meses de 2014 explorando dois terminais portuários, os do Rio Grande do Sul e de Salvador, três portos secos, além de transportar cargas e operar uma frota de rebocadores que, ao longo de 2013, realizaram 53.900 manobras portuárias.
No último trimestre, a companhia finalizou um projeto de expansão que consumiu US$ 1 bilhão nos últimos dois anos. Sua meta é ampliar as atividades nas áreas de logística, além de procurar novas oportunidades de investimento no setor portuário e de petróleo. “O País vai necessitar de investimentos em infraestrutura, especialmente nas áreas em que atuamos mais diretamente, como terminais portuários e óleo e gás”, diz o economista carioca Felipe Gutterres, principal executivo financeiro da empresa. A turbulência econômica não assusta, diz ele.
“Nossos negócios são resilientes às turbulências de curto prazo”, afirma. Pouco mais de um terço das receitas da Wilson, Sons vem da prestação de serviços para a indústria petrolífera, tanto transportando óleo extraído pelas plataformas oceânicas quanto mantendo essas estruturas enormes estáveis. Falar é mais fácil do que fazer. Para impedir que ventos ou correntes marítimas desloquem as plataformas, às vezes é necessário vinculá-las a um rebocador que opera 24 horas por dia. Segundo Gutterres, a meta é que, até 2020, as atividades petrolíferas ganhem importância para a empresa e passem a representar quase metade do faturamento.
O executivo diz acreditar que a queda recente dos preços do petróleo, que recuaram aos menores níveis em cinco anos na quarta-feira 17, não deverá afetar a empresa, mesmo que a Petrobras e as demais petroleiras que exploram as jazidas do pré-sal desacelerem seus investimentos devido à queda das cotações. “A demanda por embarcações será pesada, com ou sem pré-sal”, diz ele. Os investidores parecem concordar.
Desde o início de 2012, quando a Wilson, Sons desatracou seu programa de investimentos, seus papéis avançaram 26,7% na bolsa, diante de uma queda de 17,2% do Índice Bovespa nesse período. “A empresa vai se beneficiar da finalização de seu ciclo de investimentos, que deverá levar a uma expansão da geração de caixa, à melhoria das margens operacionais e a um crescimento mais acelerado da receita”, avalia Sara Delfim, analista do Bank of America Merrill Lynch. Em seu mais recente relatório, ela recomenda a compra das ações e estabelece um preço-alvo de R$ 33, o que representa uma valorização potencial de 10% em relação ao fechamento da quarta-feira 17.