07/02/2014 - 21:00
Nas próximas semanas, pode sair a aguardada fusão das mineradoras Namisa e Casa de Pedra, de Congonhas, em Minas Gerais, controladas pela gigante siderúrgica CSN, do empresário Benjamin Steinbruch. A possível operação criaria a terceira maior empresa do setor no mundo, atrás apenas da anglo-australiana BHP Billiton e da Vale. Juntas, Namisa e Casa de Pedra terão potencial para produzir cerca de 80 milhões de toneladas de minério de ferro por ano – a metade do obtido pela BHP, no ano passado, e próximo aos 100 milhões de toneladas da Vale. A megafusão dependeria apenas do sinal verde de Steinbruch, que busca uma solução para o impasse com seus sócios minoritários na Namisa, donos de 40% do capital.
Benjamin Steinbruch, presidente da CSN: “não se trata apenas
de uma questão de investimento”
Isso deve acontecer, segundo a DINHEIRO apurou, até o final deste mês. O consórcio asiático formado pelas japonesas Itochu, JFE Steel, Kobe Steel e Nisshin Steel, além da sul-coreana Posco e da taiwanesa China Steel, ameaça exigir judicialmente que a CSN recompre sua participação na Namisa sob o argumento de que Steinbruch descumpriu o plano de investimentos acordado entre as partes, em 2008, quando os orientais entraram na mineradora com aporte de R$ 3,1 bilhões. Se não houver consenso, o embate será levado à arbitragem. “O melhor dos mundos, para os dois lados, é a fusão da Namisa com a Casa de Pedra”, diz a analista da corretora Concórdia, Daniela Martins.
Embora ainda não haja uma definição, a julgar pelas declarações de Steinbruch, ele concorda. “Justiça é sempre a última opção”, disse o empresário. “Não se trata apenas de uma questão de investimentos, mas de diversas implicações societárias, administrativas, comerciais e industriais.” A fusão da Namisa com a Casa de Pedra é, para Steinbruch, tanto a opção menos conflituosa quanto a mais barata. O empresário, se não receber a aprovação dos sócios, tem a alternativa de recomprar pelos R$ 3,1 bilhões que foram pagos, acrescidos de juros e correção monetária, a fatia dos asiáticos na Namisa. “Mas queremos que o caso seja resolvido, e uma eventual fusão criaria a terceira mineradora de ferro do mundo”, afirmou o empresário, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
O imbróglio entre os acionistas da Namisa começou quando a controladora engavetou, sob protestos dos sócios orientais, cerca de R$ 4,7 bilhões em investimentos na ampliação de sua capacidade de produção de minério de ferro, que saltaria dos atuais 6,8 milhões para 38 milhões de toneladas por ano. Desde aquela época, a prioridade de Steinbruch passou a ser a ferrovia Transnordestina, que ligará o Piauí aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), a um custo de R$ 7,5 bilhões. O desfecho do embate é crucial para o futuro da CSN, cujo endividamento é de R$ 17,7 bilhões. Além disso, a fusão também é vista com bons olhos pelo consórcio, que, procurado pela DINHEIRO, não quis se manifestar.
Expectativa: o melhor dos mundos para a CSN (fotos ao lado) é a fusão das operações de minério, que criaria
a terceira maior mineradora do mundo. A opção também é bem vista pelos sócios asiáticos
Em 2013, no acumulado até setembro, o caixa da CSN estava em R$ 14,4 bilhões. No mesmo período, o faturamento foi de R$ 12,3 bilhões, 15% maior que em 2012. A relação dívida líquida/Ebtida, de acordo com os dados do terceiro trimestre, está em 3,65 vezes, superior à média do setor, de 2,8 vezes. Embora conte com a simpatia dos sócios, um dos obstáculos à criação de uma nova empresa é o estilo mão de ferro de Steinbruch na administração da CSN. “Falta clareza na companhia, porque as decisões são centralizadas por Steinbruch”, diz o analista do Banco do Brasil, Victor Penna. “Há uma série de incertezas que pairam sobre a empresa.”
Para Penna, a opção por priorizar a ferrovia Transnordestina não foi bem assimilada pelo mercado. “O retorno em mineração é muito mais alto que em ferrovias e os investidores não gostaram da decisão”, diz Penna. “Logística é importante para o País, mas os investidores estão focados em rentabilidade.” No entanto, caso a hipótese da compra dos 40% dos sócios prevaleça e a CSN seja obrigada a levantar recursos para desatar o nó da Namisa, uma das alternativas é a venda de seus 20% de participação na concorrente Usiminas.
Em 2012, Steinbruch tentou assumir o controle da siderúrgica mineira, mas a ofensiva foi barrada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pelos demais acionistas da Usiminas, entre eles a Nippon Steel, que, inclusive, saiu da Namisa por desentendimentos com Steinbruch, em 2011. “As ações da Usiminas se tornaram o maior mico para a CSN”, diz Daniela. O mercado e os investidores já fazem as suas apostas. E se não for resolvido na mesa de negociações, o contencioso com os asiáticos na Namisa pode ir para a arbitragem e aí se estender por mais tempo. Um jogo que, em princípio, não interessa a nenhuma das partes.