Depois de os investidores estrangeiros terem colocado o Brasil no mapa das finanças globais, agora é a vez de as grandes gestoras internacionais oferecerem ativos rentáveis lá de fora para os brasileiros. Nos últimos meses, as gigantes Franklin Templeton, HSBC Asset e Blackrock lançaram fundos que investem em ações e títulos de outros países para conquistar clientes por aqui, de olho na diversificação de portfólio de clientes abonados. Mas será que captar reais para transformá-los em dólares ou euros é mesmo uma boa estratégia de negócios para o mercado tupiniquim?

A americana Franklin Templeton, que tem US$ 920 bilhões sob gestão no mundo, e a gestora do HSBC, que gerencia US$ 439 bilhões ao redor do globo, têm certeza que sim. Ambas até realizaram uma dança das cadeiras na cúpula local e promoveram executivos que lidavam diretamente com clientes para implementar essa estratégia. Alcindo Canto Neto assumiu a presidência do HSBC Asset, em junho, com a transferência de Pedro Bastos para Hong Kong. Até então, o economista era diretor de distribuição.

Já na Franklin, o também economista Marcus Vinicius Gonçalves deixou Miami, nos Estados Unidos, para substituir o presidente Heitor de Souza Lima. As duas casas têm o mesmo objetivo: aumentar o número de fundos e o volume de ativos sob gestão no País. Atualmente, a Franklin tem apenas US$ 3 bilhões e pretende chegar a US$ 10 bilhões até 2018. Por sua vez, o HSBC possui US$ 40 bilhões e quer ampliar esse valor com novos fundos globais. A seu favor, os novos presidentes contam com possíveis mudanças nas regras dos fundos multimercados, que estão em estudo pela Comissão de Valores Mobiliários.

Existe a possibilidade de fundos de ações investirem até 20% do seu patrimônio líquido no Exterior. Hoje, o teto é de 10%. Outra possibilidade é que investidores com mais de R$ 300 mil para investir possam aplicar até 40% de seu patrimônio líquido fora do País, o dobro do atual. Já no caso do investidor profissional, a ideia é que possa investir 100%. Desde já, as instituições globais apostam na estrutura que possuem no Exterior e na diversidade que podem oferecer para os clientes locais.

“A ida do Pedro Bastos (ex-presidente da HSBC Asset) para Hong Kong vai nos ajudar a oferecer mais opções da região Ásia-Pacífico para os investidores brasileiros e a aumentar a presença de investidores asiáticos no mercado brasileiro”, diz Neto. A casa possui quatro fundos globais: um multimercado, um focado em países emergentes, outro relacionado à área Ásia-Pacífico e um de renda fixa. Somados, têm recursos de R$ 530 milhões atualmente. “Esses quatro fundos podem virar oito e depois 12. Mas tudo isso vai depender da demanda.

Temos uma tendência de criar fundos cada vez mais customizados”, diz o novo presidente da HSBC Asset. Já a americana Blackrock, que possui R$ 3 bilhões sob gestão no Brasil, lançou, em abril, um novo fundo de índice, ETF, o iShares S&P 500, baseado no indicador das 500 maiores empresas da bolsa americana. Será o primeiro fundo de índice estrangeiro a ser listado na BM&FBovespa. De acordo com o presidente para o País, Bruno Stein, o primeiro de vários. “Quando abrimos nossa filial no Brasil, em 2007, já estava em nossos planos a ideia de montar ETFs locais e internacionais”, afirmou Stein.

Mas como convencer a clientela a investir no Exterior? Segundo Gonçalves, da Franklin Templeton, o brasileiro já viu que os juros podem cair e a rentabilidade na renda fixa, minguar. “No Brasil, discute-se a possibilidade de recessão, enquanto nos Estados Unidos fala-se em crescimento ”, argumenta ele. Também é uma possibilidade de ter exposição a outras moedas e a setores da economia de pouca presença na bolsa, como o de biotecnologia. Seu alvo são clientes com patrimônio entre R$ 500 mil e R$ 5 milhões e renda superior a R$ 10 mil mensais.

Até outubro, a Franklin pretende trazer ao Brasil o fundo Global Total Return. Produto com mais de US$ 190 bilhões sob gestão ao redor do globo e que investe em moedas, juros e crédito privado e público. “Estamos propondo bater uma taxa de juros bem alta (CDI) com um produto global. Se conseguirmos fazer isso, será um golaço.” Caso concretizem suas estratégias, as gestoras poderão seguir para um segundo momento: colocar o Brasil no mapa da exportação dos fundos e tornar o mercado de capitais brasileiro cada vez mais conhecido em outras regiões.