25/11/2011 - 21:00
Não é exagero dizer que o mercado de veículos de transporte é um dos setores que reagem mais rapidamente aos ventos da chamada economia real. Os números comprovam a conexão. Em 2009, por conta da crise econômica mundial, as vendas de caminhões caíram 12%. Em 2010, período em que a indústria retomou seu ritmo, o crescimento foi de 41%. Neste ano, a previsão é de que cresça 16,7%, segundo a Fenabrave, entidade que reúne as distribuidoras de veículos, chegando ao patamar histórico de venda de mais de 200 mil caminhões. Como o Brasil passa por um pesado período de investimentos em infraestrutura, em razão da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, não é difícil imaginar que o setor rodará nessa onda de expansão ainda por um bom tempo. Certo? Não exatamente, no curto prazo. Embora os grandes fabricantes tenham anunciado, nos últimos meses, investimentos bilionários para os próximos anos, 2012, pelo menos, deverá ser um ponto de inflexão, uma espécie de freada de arrumação temporária. O motivo é que, a partir de 1º de janeiro, todos os caminhões e ônibus deverão sair de fábrica com tecnologia para usar um diesel mais limpo, com menos enxofre.
Cortes, da Man: “As vendas estão um pouco mais aceleradas em 2011”
Além disso, para atender às novas exigências ambientais, os veículos deverão contar com um sistema de tratamento dos gases que saem pelo escapamento. Essa nova tecnologia deixará os modelos cerca de 10% mais caros. Outro problema é que o novo diesel ainda não está disponível em muitos postos de abastecimento. Por ser um combustível de nova geração, é necessário também que o posto invista na instalação de mais um tanque e em outros equipamentos para vender o produto. Conclusão: muitas empresas e pessoas físicas anteciparam as compras, inflando o resultado de 2011. “As vendas estão um pouco mais aceleradas”, afirma Antônio Roberto Cortes, presidente da MAN Latin America. “No primeiro semestre de 2012, é bem provável que haja uma queda até o mercado se adaptar.” Essa é a mesma sensação da Mercedes-Benz. “Muitas transportadoras estão antecipando a renovação de suas frotas para economizar na aquisição dos veículos e na logística”, afirma Tânia Silvetri, diretora de marketing de vendas de caminhões da companhia.
De quanto deve ser a queda do mercado de caminhões em 2012? Esta é uma resposta de US$ 1 bilhão. Escaldadas, as empresas do setor já estão trabalhando para buscar alternativas para não frear o crescimento. Cortes, por exemplo, negocia com o governo uma taxa de juros de 5% pelo programa de financiamento do BNDES, o Finame. Hoje, eles estão no patamar de 10%. Mesmo com as incertezas sobre o próximo ano, as perspectivas do setor são boas. Assim como no mercado de automóveis, muitas montadoras estão anunciando investimentos na ampliação de sua oferta e capacidade de produção. “Estão todos de olho no potencial da economia brasileira”, diz Sérgio Reze, presidente da Fenabrave. “O Brasil é uma das apostas mais certas para se investir em longo prazo.”O movimento é encabeçado pelas líderes do segmento, a MAN e a Mercedes. A primeira anunciou que investirá aproximadamente R$ 1 bilhão até 2016. “O Brasil é prioridade para a MAN”, diz Cortes. Segundo ele, a frota brasileira tem, em média, 20 anos, taxa duas vezes superior a de países desenvolvidos.
A Mercedes, por sua vez, encerrará seu ciclo de investimento de R$ 1,5 bilhão em 2013, época em que terá dobrado sua capacidade produtiva, chegando a 150 mil veículos por ano. A marca voltará a produzir dois modelos de caminhões na fábrica de Juiz de Fora (MG) a partir de janeiro de 2012. Essa unidade estava desativada desde dezembro de 2010, quando deixou de produzir o automóvel CLC. Além desses investimentos, outras marcas de caminhões anunciaram a disposição de erguer fábricas no País. Entre elas várias novatas, como a holandesa DAF, as chinesas Sinotruck, Shacman e Foton Aumark, além da americana Navistar. Dona da fabricante de motores MWM, a Navistar acaba de assumir o controle total da NC2, montada em parceria com a Caterpillar, para produzir os caminhões International, em Caxias do Sul (RS), e já anunciou a construção de outra planta no Brasil até 2013. “O bom ritmo da produção agrícola e industrial e o aumento das obras de infraestrutura no Brasil estão chamando a atenção do mundo inteiro”, diz Reze. “Podemos ter uma leve queda nas vendas em 2012, mas logo retomaremos o ritmo de crescimento.”