Pontualmente, às 10h da quinta-feira 13, um senhor oriental de terno escuro e cabelos tingidos de acaju entrou no Palácio do Planalto. A discreta figura e sua comitiva subiram para o terceiro andar até o gabinete da presidente Dilma Rousseff, exatos seis meses após o primeiro encontro entre os dois, em Pequim. Tratava-se de Terry Gou, o empresário taiwanês, CEO e controladora da Foxconn, a maior empresa montadora de produtos de tecnologia do mundo. Do plano de investimentos de US$ 12 bilhões que anunciara em abril, Gou confirmou a Dilma sua intenção de construir duas fábricas para produzir no Brasil telas e displays sensíveis ao toque – touchscreens – nos próximos anos. 

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Lição de casa: o CEO da Foxconn, Terry Gou, diz que o País precisa
fazer a sua parte para receber o polo industrial de US$ 12 bilhões

Famoso por fabricar os cobiçados gadgets da Apple, Gou assegurou também que não haverá mais atrasos na linha de produção de iPhones e iPads na unidade de Jundiaí, em São Paulo: os primeiros exemplares saem da fábrica em dezembro. Quem procurava mais detalhes, porém, deparou com um executivo para lá de escorregadio. Parcerias? “Não posso dar mais informações.” Financiamento do BNDES? “Não tenho um contrato assinado. Ainda”, despistou diante do Planalto. Com direito a uma breve pausa de 15 minutos – Dilma pediu licença para atender a uma ligação internacional – Gou passou três horas no gabinete presidencial discutindo os planos da Foxconn para o Brasil. Sem adiantar prazos ou datas, o taiwanês deixou claro que o Brasil ainda precisa fazer o dever de casa para receber um investimento do porte do anunciado na China no primeiro semestre, que inclui a implantação de um polo industrial de 2,2 milhões de metros quadrados. 

 Entre outras coisas, de acordo com ele, o País precisa capacitar sua mão de obra. “Talvez saia em quatro ou seis anos, tudo depende da capacidade brasileira de absorver tecnologia”, afirmou. Outra é oferecer a intrincada contrapartida logística exigida pela instalação do polo industrial que abrange desde a qualidade local do ar à garantia de abastecimento ininterrupto de água e energia. “Estamos discutindo um investimento complexo, energia e água, aeroporto internacional e logística e fibra ótica”, disse o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Em contrapartida, a empresa deve garantir a transferência de tecnologia para os parceiros nacionais. Segundo Mercadante, seis Estados se candidataram a abrigar o futuro polo industrial da Foxconn. 

 

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A DINHEIRO apurou que, além de São Paulo, onde já estão instaladas três unidades da Foxconn, uma das quais produzirá iPhones e iPads, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro estão no páreo. Na terça-feira 11, Gou esteve na capital paulista com Luciano Tavares de Almeida, presidente da Investe SP – a agência local de atração de investimentos. Minas Gerais e Rio, por exemplo, já receberam pelo menos duas missões da Foxconn nos últimos meses. Pernambuco entregou sua proposta ao governo federal, há duas semanas, oferecendo uma área no polo industrial do Porto de Suape. “Temos o porto mais competitivo do Brasil e logística eficiente. Somos um forte candidato”, disse à DINHEIRO Márcio Stefanni, presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper). 

 

O governo não tem poupado gestos para atrair os investimentos da Foxconn. A Lei do Tablet, um conjunto de incentivos que promete reduzir em 30% o preço final de celulares e tablets, foi sancionada na quinta-feira 13, dia de sua reunião com Dilma. O governo já definiu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fará parte da engenharia financeira para viabilizar o negócio. “O BNDES é indispensável e tem participado de todas as negociações”, disse Mercadante. Consumar o negócio significaria o ingresso do Brasil no restrito clube de fabricantes de telas touchscreen, formado por quatro países da Ásia: Japão, Coreia do Sul, Taiwan e China. O Brasil, assim, seria o primeiro país do Ocidente com uma manufatura do gênero e integraria a cadeia produtiva de uma empresa com 1,3 milhão de funcionários e US$ 100 bilhões em faturamento. 

 

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Colaborou Cristiano Zaia