Marcos de Oliveira, presidente da montadora americana Ford para a América do Sul, está sentado ao volante do lendário modelo T, o carro que revolucionou a indústria automobilística há mais de 100 anos. Enquanto posa para fotos no museu da Ford em Dearborn, cidade próxima a Detroit e sede global da companhia, ele se descuida e entrega. 

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“Os carros compactos são importantes, mas não são a única prioridade”
Marcos de Oliveira, presidente da Ford na América do Sul

“Esse será o próximo carro fabricado pela montadora, em Camaçari, na Bahia”, diz sorrindo. A brincadeira provoca riso entre os poucos presentes e demonstra que a Ford passa por um momento especial. Ao contrário da concorrente General Motors (GM), que ainda luta para devolver aos cofres públicos americanos a ajuda financeira recebida durante a crise econômica mundial, a Ford tem se preocupado exclusivamente com os lançamentos.  E a aposta mais recente chega às concessionárias brasileiras nesta semana. O New Fiesta, sedã importado do México, desenvolvido em seis diferentes países, é o cartão de visita para um ambicioso projeto da montadora no País. 

 

Em vez de brigar pela liderança de vendas de carros populares, segmento em que a Fiat e a Volkswagen estão na frente, a Ford quer ter a hegemonia em um mercado mais sofisticado e de preços mais elevados. 

 

Neste ano, 35% dos carros vendidos pela montadora americana terão valor acima de R$ 50 mil. Em cinco anos, a estimativa é de que a participação chegue a 45% das vendas. “Os compactos são importantes, mas não são a única prioridade”, diz Oliveira.

 

Há vários motivos para a Ford avançar nesse segmento. Primeiro, ao contrário da Volkswagen e da Fiat, a montadora americana nunca demonstrou vocação para atuar no mercado de carros populares e criar sucessos equiparáveis ao Gol e ao Uno. 

 

Em segundo lugar, as margens de lucro no segmento premium são muito mais atrativas. Enquanto em um carro popular elas variam entre 5% e 7%, nos de maior valor agregado partem de 15%. 

 

O terceiro motivo que surge para coroar a estratégia da montadora está diretamente ligado ao crescimento da renda do brasileiro, à facilidade do crédito e ao desejo de adquirir carros com itens de conforto. “A importação de automóveis mais caros é reflexo do desempenho da economia do País nos últimos anos”, diz Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria. 

 

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A tarefa, no entanto, requer atenção redobrada. É importante investir em todos os diferenciais de um novo carro, mas é preciso dedicação e conhecimento para atender um público muito mais exigente. Quem está disposto a desembolsar R$ 50 mil por um automóvel, como no caso do New Fiesta, quer detalhes (leia quadro) que sejam decisivos para a compra. 

 

O maior competidor do New Fiesta no segmento de sedãs será o Honda City. Para chegar à almejada liderança, porém, será preciso mais que os 12 mil veículos anuais que constam no plano inicial de importação. Nos sete primeiros meses de 2010, a montadora japonesa vendeu 19,1 mil unidades do seu City. 

 

“A competição será mais acirrada nesse segmento do que nos carros populares. Será preciso ser agressivo para conquistar o mercado”, diz Andrade, da Tendências. Para começar, a montadora americana posicionou o modelo com o menor preço entre todos os competidores, incluindo Polo Sedan e Peugeot 307 Passion, mesmo na versão completa. 

 

Se chegar à liderança entre os modelos sedã, a Ford confirmará sua direção e disposição de conquistar o segmento de carros de maior preço, como é o caso do EcoSport, o utilitário esportivo (SUVs) que está à frente do Tucson, da Hyundai. 

 

A próxima novidade é o Fusion híbrido, movido a energia elétrica e combustível, que tem grandes chances de chegar antes do final do ano às concessionárias. “Há uma oportunidade que a Ford vai aproveitar”, afirma o diretor global de vendas Jim Farley.