A queda da nave espacial SpaceShipTwo, da Virgin Galactic, pioneira na oferta de voos turísticos espaciais, na sexta-feira 31, está colocando em xeque o recém-criado mercado de viagens para além da atmosfera terrestre. A nave caiu no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos, matando um dos pilotos e deixando o outro gravemente ferido. As causas ainda são desconhecidas, mas suas consequências já foram sentidas pelo magnata britânico Richard Branson, dono do grupo Virgin, conglomerado que engloba mais de 400 empresas de diversos setores.

Sua empresa teve de adiar a inauguração da rota Terra-espaço sideral, prevista para o início de 2015. O voo, ao custo de US$ 250 mil, já tinha cerca de 800 pessoas na lista de espera, entre elas celebridades como o cantor Justin Bieber e a atriz Angelina Jolie. O acidente também causou a desistência de alguns interessados. Cerca de 20 inscritos retiraram seu nome da lista de passageiros, segundo o jornal South China Morning Post. A expectativa é de que a Virgin Galactic, fundada em 2004 e que já levantou mais de US$ 150 milhões em investimentos, sofra uma redução drástica de demanda por esse tipo de aventura, dados os perigos associados aos voos espaciais.

Embora Branson tenha afirmado que não havia nenhuma falha crucial no projeto, o especialista Michael Blades, analista de indústria aeroespacial da consultoria Frost&Sullivan, ressalta o risco desse tipo de negócio. “Toda tecnologia, especialmente de aviação, envolve falhas”, diz. Outro acidente contribuiu para levantar dúvidas quanto à capacidade de empresas privadas proverem segurança para esse tipo de viagem. Apenas três dias antes, o Antares, foguete lançado pela Orbital Sciences Corporation, que não transportava passageiros, explodiu 15 segundos após a decolagem, no Estado americano da Virgínia.

A iniciativa privada tem sido, há alguns anos, promovida como uma alternativa mais vantajosa do que os programas governamentais da Nasa e do exército, por exemplo, para transportar pessoas e cargas para o espaço. “As empresas privadas podem oferecer alternativas mais rápidas e menos custosas para a indústria aeronáutica”, diz Nilton Rennó, cientista e professor da Universidade de Michigan. “Mas elas também assumem muitos riscos.” De qualquer maneira, Branson, não espera abortar seus planos. Afinal, não é apenas seu sonho que está em risco, mas sua marca, a Virgin, e a sua reputação. “Vamos trabalhar 24 horas por dia para retomar o rumo”, disse. O sonho, ao que tudo indica, ainda não acabou.