A penúltima vez em que a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton se encontraram foi em setembro, em solo americano. Na ocasião, Clinton se limitou a dizer a jornalistas que a conversa com Dilma havia sido “fantástica”, sem detalhar o conteúdo. No último encontro dos líderes, na segunda-feira 9, porém, ele não economizou elogios. Em evento promovido pelo Clinton Global Initiative, no Rio de Janeiro, o ex-presidente exaltou em público as políticas de transferência de renda e a concessão de crédito para a inserção de alunos em universidades privadas, o ProUni. 

 

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Aplausos: a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente americano Bill Clinton

participam de evento no Rio de Janeiro 

 

“O Brasil obteve sucesso em reduzir as desigualdades”, disse Clinton. “Programas como o Bolsa Família são muito importantes.” Os aplausos, no entanto, não são extensivos ao desempenho econômico de Dilma, muito inferior ao do colega americano em oito anos de mandato. A começar pelo ritmo de crescimento do PIB, que deve ser, em média, de 2,2% no Brasil, entre 2011 e 2014, ante 3,9% obtidos no governo democrata (leia quadro ao final da reportgem). Quando assumiu como chefe de Estado da maior potência mundial, em 1993, Clinton optou por um trio de ferro para comandar a economia. 

 

Além de manter o lendário Alan Greenspan na presidência do Federal Reserve (FED), o banco central americano, nomeou o renomado economista Robert Rubin na Secretaria do Tesouro, que ficou no cargo durante as duas administrações de Clinton, até ser sucedido por seu subsecretário, o ex-economista-chefe do Banco Mundial Lawrence Summers. “Ele formou um grupo de pensadores que formularam um grande plano de longo prazo para os EUA”, diz o Paulo Feldmann, professor da FEA/USP. “Isso norteou a gestão de Clinton.” Um dos segredos da inflação baixa, segundo o economista da LCA Consultores Antonio Madeira, é o respeito que Clinton demonstrou à independência do presidente do FED. 

 

“Autonomia também verificada no governo Lula, que deu poder ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garantindo-lhe status de ministro”, diz Madeira. “Na gestão de Dilma, fica a impressão de que Alexandre Tombini é mais sensível às pressões do governo.” Essa ausência de autonomia dificultaria o combate à inflação, segundo os especialistas. E explicaria o fato de o governo Dilma registrar taxas superiores à meta de 4,5% todos os anos. Há quase um consenso entre os estudiosos de que o arrocho fiscal foi o principal acerto da política econômica adotada por Clinton. 

 

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Trio de ferro: Lawrence Summers (à esq.), Robert Rubin (ao centro) e Alan Greenspan (à dir.)

lideraram o ajuste fiscal e o crescimento econômico no governo Bill Clinton

 

Seu antecessor George Bush, o pai, entregou o governo com uma dívida bruta de 70,1% do PIB. Oito anos depois, esse índice chegou a 53%. A melhora nas contas públicas, que se deveu à redução dos gastos militares e a uma maior arrecadação, resultaram em um superávit orçamentário. Com empresários e investidores mais confiantes, o mercado de trabalho deslanchou – a taxa de desemprego passou de 7,4% para 4% após oito anos de mandato. “Ao sinalizar uma política fiscal conservadora, gerando ajuste nas contas públicas, Clinton promoveu um círculo virtuoso na economia”, afirma. No Brasil, o caminho escolhido pela presidenta Dilma é diferente. 

 

A dívida bruta herdada de 54,6% do PIB subiu para 59%. Na avaliação dos analistas, a política de desoneração de impostos para alguns setores não gerou o resultado esperado para o crescimento da economia e o seu efeito colateral foi a piora nas contas públicas, elevando o risco Brasil. “Isso repercutiu negativamente junto aos investidores”, diz Madeira. Ainda assim, o atual governo conseguiu êxito na geração de empregos. No encontro com Clinton, a presidenta destacou as parcerias feitas com o setor privado na área de energia e de infraestrutura, além do controle da inflação. 

 

“Todo esse processo, aliado à democratização do crédito, contribuiu para a construção de um mercado de consumo de massa”, disse Dilma. Apesar do descompasso nos principais indicadores econômicos, os dois presidentes têm um ponto em comum: a alta popularidade. Clinton é lembrado por ter feito um dos melhores governos da história americana, enquanto Dilma mantém grande índice de aprovação. A seu favor, a presidenta tem a possibilidade de mais um mandato, no qual poderia melhorar o seu desempenho. Nesse caso, ampliar o diálogo com o ex-presidente americano pode ser um bom caminho. 

 

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