O neozelandês Dan Ammann, presidente mundial da General Motors Company, holding que controla todas as empresas da gigante automobilística de Detroit, trouxe para o Brasil algo que há algum tempo não se via no mercado de automóveis: otimismo. Em sua quarta visita ao País, na quinta-feira 20, o executivo, que assumiu o posto em janeiro deste ano, deixou claro aos seus comandados que o momento é de pensar em longo prazo. “O ambiente de negócios passa por uma clara desaceleração”, afirmou Ammann. “Mas estamos olhando para o futuro e esse é um mercado muito importante para a GM.” 

 

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Visão de longo prazo: (da esq. para a dir.) Marcos Munhoz, vice-presidente da GM do Brasil;

Jaime Ardila, CEO na América do Sul; Dan Ammann, presidente mundial (em destaque),

e Santiago Chamorro, presidente da montadora no Brasil

 

Além do otimismo do seu comandante, a terceira maior montadora do País em vendas está desenvolvendo um novo modelo, para substituir o carro-chefe da marca, o Celta. A novidade já está tomando forma nas pranchetas dos engenheiros da companhia. O Brasil irá liderar o desenvolvimento do novo modelo, que poderá ser vendido em outros mercados. O carro, um subcompacto, chega para concorrer com o recém-lançado Up! da Volkswagen e com os compactos Uno e Palio, da Fiat. Esse é o segmento que apresenta os maiores volumes de vendas. São os chamados carros de entrada, que vêm garantindo à Fiat e à Volkswagen, donas dos dois carros mais vendidos do País – Uno e Gol – a liderança do mercado. 

 

Segundo o presidente da GM para a América do Sul, Jaime Ardila, o projeto faz parte do novo plano de investimentos que a GM prepara para a América do Sul. A dificuldade, no entanto, tem sido enquadrar o novo carro nos parâmetros do Inovar-Auto, regime da indústria automotiva instituído em 2012 pelo governo. “Estamos trabalhando para encontrar a fórmula mágica que nos permitirá vender um carro na faixa de R$ 25 mil a R$ 30 mil com as especificações de eficiência energética exigidas”, diz o executivo. “Ainda não chegamos lá.” 

 

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Além de dar mais fôlego à GM na briga com suas maiores rivais, o projeto, que está sendo chamado de Jade, poderá representar a reativação da linha de automóveis de passeio na fábrica de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Com a descontinuidade de modelos como Corsa, Zafira e Meriva, a linha foi desativada, após negociações com o sindicato local e os investimentos foram transferidos para outras unidades. Em São José dos Campos, no entanto, a GM ainda mantém a produção da picape S10 e do SUV Trailblazer. 

 

A empresa não confirma, mas estima-se que o investimento necessário para fabricar o carro nessa unidade seja de R$ 2,5 bilhões. A previsão é de que o modelo seja lançado até 2017. “Estamos na fase de estudo técnico”, diz Ardilla. “Não é fácil aliar a demanda dos clientes com os requerimentos da legislação e ainda manter a rentabilidade.” Até o lançamento do subcompacto, no entanto, a GM espera enfrentar um período de vacas magras. Segundo Ardila, 2014 e 2015 serão anos em que as montadoras instaladas aqui terão mais dificuldades de competir na região. “Não vejo uma grande virada de mesa quando o assunto é venda”, afirma. Aumentar a capacidade de produção está fora de cogitação. 

 

A produção da GM no Brasil deverá ser de 650 mil unidades, praticamente a mesma do ano passado. Além das promessas de investimento feitas pelo CEO Ammann, a montadora tem outro bom motivo para pensar positivo. No ano passado, ela foi a única entre as quatro maiores a registrar crescimento nas vendas: 0,9%. A Fiat, a Volkswagen e a Ford registraram perdas consideráveis (veja quadro ao final da reportagem). As vendas de automóveis, no geral, caíram 3,1%. O desempenho “fora da curva” da GM coincide, justamente, com o encerramento do seu mais recente ciclo de investimentos na América do Sul. De 2008 a 2012, a empresa investiu R$ 5 bilhões para renovar seu portfólio. 

 

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