09/05/2014 - 20:00
O executivo francês Jacques Brault, diretor-geral da subsidiária da Fnac, é o que se pode chamar de homem movido a desafios. Em sua trajetória de 13 anos na rede francesa, com passagem pela filial da Grécia, exatamente no período mais agudo da recessão que varreu o país de Aristóteles, Sócrates e Platão, acabou sendo enviado para o Brasil, em 2011, quando a economia local ia de vento em popa. O Brasil, nesse contexto, era um eldorado no qual parecia fácil dobrar de tamanho em apenas cinco anos. Mas as recentes mudanças no panorama econômico local forçaram Brault a dar uma guinada nos planos traçados para o País.
A disposição de crescer continua a mesma, contudo, daqui para a frente, isso será feito de uma forma diferente. Em vez de megalojas instaladas em shopping centers, agora, a subsidiária da gigante francesa mira aeroportos, estações de metrô e de trem e até rodoviárias. Na prática, a empresa pretende encolher no formato para continuar avançando. “A Fnac completa 60 anos em 2014, e uma de nossas marcas sempre foi a mudança”, afirma Brault. “A inquietação e a busca por alternativas fazem parte de nosso DNA.” Não se trata de exagero. Em 1954, seu portfólio de produtos era composto por máquinas fotográficas, livros e discos de vinil.
Depois foram adicionados aparelhos de tevê, CDs e DVDs. Com receita global de € 3,9 bilhões, em 2013, a rede é uma das maiores vendedoras de produtos de entretenimento do mundo, com um portfólio que inclui tablets e laptops, além de celulares, tevês de tela grande e aparelhos de som. O modelo de lojas compactas, com tamanho que varia de 60 m² a 300 m², começa com a unidade que está sendo instalada no Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, cuja abertura está prevista para domingo 11, e será a 12ª unidade da rede por aqui. Ocupando um espaço de 126 m², o ponto de venda contará com produtos mais focados na conveniência: revistas, livros, CDs, DVDs, produtos eletrônicos portáteis e acessórios para notebook e produtos de telefonia, por exemplo, além do espaço kids.
No total, serão cerca de quatro mil itens à disposição dos clientes. “Não se trata de uma experiência, mas sim da primeira de uma série de filiais nesse formato”, diz o diretor-geral. Em dois anos, já foram abertas 20 lojas, sendo 18 na França. Por aqui, o executivo diz que não existe um limite predefinido. “Meu desafio é sempre superar a matriz.” O trabalho de adequação para um modelo compacto, tratando-se de uma rede que até aqui atuava apenas com lojas de três mil m², em média, ficou a cargo de uma equipe de dez pessoas, que passou 12 meses estudando o assunto. Isso, de acordo com analistas, pode ser vital na transição entre os dois modelos. “É preciso definir uma estratégia clara de ação e conhecer em profundidade o público que se pretende atender”, afirma a consultora Heloisa Omine, sócia da Shopfitting e professora do MBA de Marketing da ESPM-SP.
“Se em locais nobres como a ala internacional do maior aeroporto da América Latina o preço não deverá pesar tanto na decisão de compra dos consumidores, o mesmo princípio não poderá ser aplicado a locais populares como rodoviárias e estações de metrô.” No caso deste último, o diretor Brault está especialmente interessado na Linha Laranja do Metrô de São Paulo, que vai ligar a estação São Joaquim, no centro, a Brasilândia, na zona norte, e cuja conclusão está prevista apenas para 2020. Até lá, a Fnac vai ficar de olho nas oportunidades que surgirem pelo caminho. Há dois anos, a ambição do executivo francês era inaugurar 19 lojas.
Destas, apenas uma foi aberta, em março de 2012, no Flamboyant Shopping, em Goiânia, onde funciona como âncora do empreendimento. “Continuamos olhando todas as oportunidades”, diz. Com sua atuação limitada ao Centro-Sul, por conta da complexa logística que é abastecer as lojas com os cerca de 80 mil itens que comercializa, as chances de crescimento orgânico se tornam cada vez mais difíceis. Por causa disso, o executivo não descarta também nomear investidores interessados em franquias da marca. A experiência desse tipo permitiu a entrada no Catar, onde um grupo local abre, em julho, uma loja de 2,5 mil m². É graças à flexibilização do modelo que Brault segue traçando planos para o Brasil. “Continuo um otimista em relação à capacidade de crescimento da economia brasileira a médio prazo.”