02/09/2011 - 21:00
Quinze anos depois de cruzar a linha de chegada de sua última prova automobilística, Emer-son Fittipaldi ainda não tirou o pé do acelerador, no sentido figurado, é claro. Desde então, o bicampeão da Fórmula 1 (F-1) e campeão da Fórmula Indy (F-Indy) tem se voltado exclusivamente aos negócios. Aos 64 anos, Fittipaldi acorda às 5 horas da manhã, malha por duas horas e segue para a EF Marketing e Comunicação, no Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo. Lá, ele analisa com seus executivos os diversos convites recebidos de empresas que querem tê-lo como garoto-propaganda, além de empreendedores que desejam associar suas marcas ao seu nome. Apenas com a venda de produtos no varejo, a grife Fittipaldi movimenta cerca de R$ 100 milhões por ano. Nesta semana, o empreendedor Fittipaldi vai anunciar ao mercado que resolveu pilotar mais um negócio. Ele se uniu ao publicitário Washington Olivetto, sócio da WMcCann, e à agência Momentum, presidida no Brasil por Marcos Lacerda e que pertence à americana McCann, um dos maiores grupos de publicidade do mundo.
Pé na tábua: Washington Olivetto (à esq.), Emerson Fittipaldi e Marcos Lacerda serão os comandantes,
no Brasil, da agência de marketing esportivo Momentum Sports, que nasce de olho na Olimpíada e na Copa
Juntos, eles estão criando a Momentum Sports, uma agência de marketing esportivo, que nasce de olho em eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Desta vez, Fittipaldi terá a oportunidade de investir, além de seu nome e capital, a experiência e os contatos amealhados ao longo de sua carreira como piloto. ?Conheço esportistas do mundo inteiro?, disse Fitti-paldi, com exclusividade, à DINHEIRO. A ideia da parceria surgiu durante jantar oferecido por Olivetto no final de 2010, no Rio de Janeiro. Foi nessa ocasião que Nick Brien, CEO da McCann WorldGroup, conheceu Fittipaldi e vislumbrou a possibilidade de criar uma nova divisão mundial do grupo, tendo o Brasil como base. Com investimento inicial em torno de US$ 5 milhões, os sócios pretendem acumular um faturamento de US$ 100 milhões nos próximos cinco anos. A empresa se beneficiará da estrutura atual da Momentum do Brasil, sediada em São Paulo.
A nova agência, no entanto, terá como copresidentes Fittipaldi, Olivetto e Kevin McNulty, executivo do grupo McCann, baseado em Nova York. ?Queremos transformar o fã do esporte em um fã de marcas?, afirma Lacerda. O primeiro desafio desta nova empresa será coordenar o ?Projeto Fittipaldi 40 anos?. Trata-se de uma série de eventos para comemorar os 40 anos do primeiro título de F-1 de Fittipaldi, conquistado em 10 de setembro de 1972, em Monza, na Itália. O negócio começou a ser tocado no ano passado e se estenderá até o final de 2012. Entre as principais ações do projeto estão o lançamento de um filme, uma exposição e um livro baseado na vida do ex-piloto. Fittipaldi, conhecido como Rato, no Brasil, e Emmo, nos Estados Unidos, pode ser considerado uma das personalidades brasileiras que melhor souberam trabalhar a própria imagem e mantê-la intacta, especialmente em um País onde as pessoas costumam relegar seus ídolos ao esquecimento. ?O comportamento diplomático e elegante, associado a sua carreira vitoriosa, transformou o nome Fittipaldi em uma marca valiosa?, diz Fábio Wolff, diretor da agência de marketing esportivo Wolff Sports.
Um exemplo de sua credibilidade ocorreu no final de 2010, quando a General Motors convocou o ex-campeão para assinar a edição especial de relançamento do sedã Omega no Brasil, um dos carros mais luxuosos da marca. ?Ter a chancela do Emerson ajudou muito a realçar os atributos esportivos de nosso carro?, afirma Gustavo Colossi, diretor de marketing da GM do Brasil. O mesmo acontece na seara de produtos destinados ao público jovem com apelo fashion. É o caso da grife de óculos Evoke, controlada pela paulistana Surfactory. No mês passado, a Surfactory assinou contrato de cinco anos para o lançamento de uma linha sofisticada, com o nome do piloto. O preço de venda será entre R$ 900 e R$ 2,8 mil. ?Em sua trajetória como piloto, Fittipaldi teve um papel importante como lançador de tendência?, diz Deminan Moraru, sócio da Surfactory. No calendário da empresa de Fittipaldi está previsto o lançamento de séries especiais de uma motocicleta Kawasaki e até mesmo de um helicóptero Agusta.
Assim como nas pistas, Fittipaldi também possui marcas impressionantes no campo do marketing. É o garoto-propaganda das baterias Moura, de Pernambuco, há 25 anos ininterruptos. ?Temos um retorno de imagem muito favorável?, afirma Adréa Lyra, gerente de marketing das baterias Moura. Fittipaldi não tem esse nível de aceitação apenas no Brasil. Sua imagem também vende nos Estados Unidos, país para o qual seguiu, em 1984, para recomeçar a carreira de piloto na F-Indy, após quatro anos afastado das pistas. O principal ingrediente do retorno era a tentativa de dar a volta por cima após a malsucedida experiência com a equipe Copersucar-Fittipaldi, que ele montou com o irmão Wilson (Wilsinho) Fittipaldi. O projeto durou sete anos e teve como melhor resultado a segunda colocação na prova realizada no Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em 1978. Nos EUA, sua veia de marqueteiro foi vital para recuperar o prestígio e recompor as finanças. Fittipaldi protagonizou uma das cenas mais curiosas da história da Indy.
A marca Fittipaldi movimenta no mercado cerca de R$ 100 milhões no varejo. O valor não inclui
os rendimentos com a venda de produtos, como as baterias Moura, da qual é garoto-propaganda
Para divulgar a Fittipaldi Citrus, sua marca de laranja, o piloto quebrou o protocolo ao vencer as 500 milhas de Indianápolis em 1989, a prova símbolo da categoria. Ele subiu ao pódio com uma garrafa de suco de laranja nas mãos em vez do tradicional litro de leite. ?Aquele leite me custou US$ 35 mil?, diz ele, referindo-se à multa que levou da organização do evento. ?Foi a garrafa mais cara que já comprei, mas o retorno de mídia foi fantástico.? A veia empreendedora de Fittipaldi, no entanto, surgiu antes que ele se transformasse em um piloto de sucesso. Aos 15 anos, com seu irmão Wilsinho, iniciou o primeiro negócio: uma fábrica de volantes esportivos com a marca Fórmula 1. Os irmãos também montaram uma fábrica de chassi de kart.
Hoje, quase 50 anos depois, além da agência de marketing e comunicação, seu portfólio de empresas inclui uma revenda de motos Kawasaki, uma empresa que representa a marca de helicópteros Agusta, além da fazenda de laranjas. A Fittipaldi Citrus é o negócio mais longevo do ex-piloto, que comprou a propriedade, situada em Araraquara, no interior de São Paulo, em 1974. Agora, ele pretende estender seus domínios para o setor de energia renovável e para a construção civil. Fittipaldi já negocia o lançamento de um condomínio de luxo com autódromo e kartódromo na região de Campinas (SP), além da instalação de uma usina de etanol em Mato Grosso do Sul. A estimativa é de que apenas este último empreendimento exija investimento de R$ 800 milhões. O projeto está em fase de captação de recursos. Pelo visto, pisar no freio é um termo que não consta do vocabulário do ex-piloto.
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Entrevista:
‘O segundo colocado é sempre o primeiro perdedor’
Prestes a lançar uma empresa de marketing esportivo, Emerson Fittipaldi falou à DINHEIRO:
Por que só agora o sr. decidiu criar uma empresa de marketing esportivo?
Quem pretende ter sucesso nas pistas precisa ter o apoio de um time de primeira. Caso contrário, não dá para andar na frente. Nos negócios também. Eu ainda não havia tido a oportunidade de me associar a uma equipe tão forte como a da Momentum Sports, que possui parceiros como Washington Olivetto e Marcos Lacerda, dois ícones do meio publicitário. Além disso, a realização de megaeventos esportivos no Brasil, aliada ao conhecimento que possuo desse mercado, compõe a receita perfeita para sermos bem-sucedidos.
A sua carreira empresarial começou antes ou depois da F-1 ?
Sempre tive a sensibilidade para aproveitar oportunidades. Antes de ser piloto de Fórmula 1, me envolvi em diversas empreitadas, como a fabricação dos volantes F-1, que fizeram muito sucesso nos anos 1960. Depois atuei com a produção de chassis de kart, Fórmula Vee, e equipamentos para motores Volkswagen. Também fizemos o protótipo Fitti-Porsche que, durante um tempo, foi o carro mais rápido do Brasil.
A equipe Copersucar foi o maior risco que o sr. já assumiu como empresário?
Sem dúvida, foi o projeto mais desafiador da minha vida como empreendedor. Ele foi muito mal-entendido pelo público e pela imprensa brasileira, que naquela época não tinha a dimensão do quanto é complexo montar uma equipe de Fórmula 1. Acabamos perdendo o patrocínio da Copersucar porque os brasileiros queriam resultados imediatos.
É sabido que essa empreitada lhe causou problemas financeiros. Em quanto tempo o sr. conseguiu se recuperar?
Demorei uns três ou quatro anos.
O sr. é mais competitivo nas pistas ou nos negócios?
Meu desempenho nas duas áreas é igual. Sempre fui focado nos detalhes e procurei me associar aos melhores. Nos negócios como na pista, o segundo colocado sempre é o primeiro perdedor, porque os patrocinadores só me deram duas opções: ser o campeão ou ser o primeiro lugar.