12/02/2013 - 21:00
A italiana Fiat lidera a venda de automóveis no mercado brasileiro há 11 anos. Tanto tempo assim no degrau mais alto do pódio é fácil de ser entendido. A estratégia foi investir em veículos populares, como o Uno e o Palio. Com design moderno, manutenção barata e uma boa relação custo/benefício, a montadora de Turim tornou-se uma empresa difícil de ser batida nesse segmento. Mas, no topo da pirâmide, com carros maiores, mais caros e luxuosos, a Fiat é quase uma novata no Brasil. Essa situação, no entanto, pode começar a mudar. O aprofundamento da parceria que a companhia mantém com a americana Chrysler e a possível volta dos míticos carros da Alfa Romeo, marca da qual é dona, deve colocar a montadora de novo na briga por essa fatia de mercado no País.
Direção global: Sergio Marchionne, CEO do grupo Fiat, aposta nas marcas de luxo,
como a Alfa Romeo, e em suas margens de lucro para manter a companhia lucrativa
“As ofertas das duas empresas se complementam”, afirma Fernando Trujillo, analista da consultoria automotiva americana IHS Automotive. “O veículo mais caro da Fiat é exatamente o ponto de partida dos modelos da Chrysler.” Internacionalmente, a união de Fiat e Chrysler já demonstra bons resultados. Em recente entrevista, o CEO mundial do grupo Fiat, Sergio Marchionne, afirmou que a companhia pretende concluir a fusão com a montadora americana até o fim de 2014. O negócio dará à Fiat participação de 65% na Chrysler. O apetite para o negócio não é em vão. Em 2009, quando comprou 20% da marca americana, a Chrysler estava à beira da falência. O dinheiro italiano foi fundamental para a companhia sair da crise. Agora, o jogo se inverteu.
Foi a Chrysler que ajudou o grupo a lucrar US$ 369 milhões no terceiro trimestre de 2012. Não fossem as vendas da montadora americana, a companhia poderia ter ficado no vermelho, pois a operação da Fiat amargou um prejuízo de US$ 281 milhões no período. “Precisamos ser honestos e admitir que foi a recuperação da Chrysler que nos permitiu cumprir as metas”, afirmou Marchionne, durante apresentação dos resultados do período. Essa parceria deverá ser reforçada no Brasil. A fábrica que a Fiat está construindo em Goiana, região metropolitana do Recife, será destinada a veículos de maior valor agregado. Para isso, duas plataformas sairão das novas linhas de montagem, de acordo com fontes ligadas à operação.
Ferreira, da Chrysler: o executivo era diretor da case New Holland,
braço de máquinas agrícolas da Fiat, e foi escalado para comandar
o retorno da Chrysler no Brasil
Uma delas é a utilizada nos sedãs Fiat Viaggio, na China, Dodge Dart, nos EUA, e Alfa Romeo Giulietta, na Europa. Por aqui, ela deverá equipar o substituto do Fiat Linea e um SUV urbano que brigará com Ford EcoSport e Renault Duster. A outra plataforma está em desenvolvimento pela Jeep e deverá ser a base de uma picape média da Fiat no País. Com essa configuração, a companhia abre um precedente para que modelos da Chrysler e até da Alfa Romeo também sejam produzidos na unidade. A Chrysler, no entanto, não confirma a informação. “Não há planos de produzir localmente, até porque a nova fábrica é da Fiat”, afirma Sérgio Ferreira, diretor-geral da Chrysler no Brasil.
A sinergia de produção entre as marcas do grupo Fiat não é um fato totalmente novo no grupo. Na Europa, algumas unidades mais recentes já trabalham dessa maneira. É o caso da fábrica de Cassino, na Itália, que produz os modelos Fiat Bravo, Alfa Romeo Giulietta e Lancia Delta. Ela foi uma das três unidades a receber a visita de uma delegação formada por diretores de instituições de ensino e representantes do governo de Pernambuco, no fim de janeiro deste ano. “Nós já havíamos visitado as instalações de Betim, mas o pessoal da Fiat achou que deveríamos conhecer fábricas com perfil mais próximo do que será a de Goiana”, afirmou Antônio Carlos Maranhão de Aguiar, secretário do Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo do Estado de Pernambuco.