A surpresa positiva para o Brasil na disputa do Oscar, que vai ter a sua cerimônia de premiação na noite do dia 28 de fevereiro, foi a inclusão do desenho “O Menino e o Mundo” entre os indicados a melhor longa-metragem de animação. O filme, vencedor de mais de 40 prêmios, é dirigido pelo paulistano Alê Abreu, mas quem prestar atenção aos seus créditos vai encontrar nele um sobrenome bem conhecido no mundo dos negócios. Responsável pela trilha sonora, Ruben Feffer, é o filho caçula de Max Feffer e neto de Leon Feffer, os empresários que tornaram a Suzano em uma das maiores potências globais do setor de papel e celulose, com faturamento de R$ 7,5 bilhões, nos primeiros noves meses de 2015.

A paixão pela música corre no sangue da família. Quando imigrou da Ucrânia, Leon trouxe na mala um violino que usava para tocar música judaica. Max escolheu o trompete, por conta de sua paixão pelo jazz. E Ruben preferiu não optar: ele compõe trilhas sonoras usando computador, instrumentos tradicionais e até um violoncelo feito de PVC e latão. Aos 45 anos de idade, Ruben Feffer, mais conhecido como Binho, já se tornou uma referência no mercado de trilhas sonoras para animações.

Quase todas as séries animadas nacionais lançadas nos últimos anos têm a assinatura da sua produtora, a Ultrassom. A empresa também compõe para documentários e séries televisivas, e começa a aparecer em propagandas. O sucesso de “O Menino e o Mundo” promete abrir mais portas. Feffer embarcou para Los Angeles, na terça-feira 2, e ficará por lá até a cerimônia do Oscar. Aproveitará o período para fazer contatos. “O mercado olha diferente para quem foi indicado”, diz.

“Nos EUA, ele separa as produtoras de som entre as nunca indicadas, as indicadas ao Oscar e as vencedoras, com oportunidades muito diferentes para cada categoria.” No meio tempo, Feffer também participará da premiação do Annie Awards, o Oscar da animação, que deu três indicações ao desenho brasileiro. Um deles para a trilha sonora. É um destino diferente do esperado para um herdeiro de uma grande empresa. Ruben trabalhou na administração, na área de compras e de tecnologia da Suzano.

Em 1998, resolveu se dedicar à música. Três anos depois fundou a Ultrassom, que funcionou no seu quarto até 2004. Hoje, a empresa possui quatro estúdios e trabalha em músicas para nove séries. O seu espírito empreendedor, de fato, não está adormecido. Ele é sócio da distribuidora de filmes Elo, que lançou “O Menino e o Mundo” nos cinemas, e acompanha o desempenho da Suzano. Os três irmãos, David, Daniel e Jorge, permanecem no conselho de administração. “Não me distanciei 100% da Suzano”, diz. “Sempre converso com os meus irmãos sobre a empresa.”