26/08/2016 - 20:00
Parecia que desta vez o resultado seria diferente. Depois de uma primeira negociação de fusão entre os grupos de moda Restoque e InBrands ter acabado sem acordo, em 2014, as duas empresas e seus acionistas principais – Márcio Camargo e Nelson Alvarenga, respectivamente – voltaram à mesa de negociações neste ano. Tudo indicava que as novas condições de mercado, com a crise econômica afetando fortemente o setor de moda e a perda de vendas preocupante dos dois grupos, levariam, enfim, ao casamento que criaria um conglomerado de mais de R$ 2 bilhões de faturamento anual. Mas o resultado foi o mesmo. Na quinta-feira 25, a Restoque, dona das marcas Dudalina, Le Lis Blanc, Bo.Bô, John John e Rosa Chá; e a InBrands, das grifes Ellus, Richards e VR, anunciaram, em comunicado conjunto, o encerramento das conversas porque “não foram alcançadas condições mutuamente aceitas entre as partes”.
Relatos de pessoas próximas das empresas indicam que a negociação de 2014 teria emperrado na difícil relação entre os acionistas principais, ambos considerados centralizadores. A briga de egos não teria permitido chegarem a um acordo quanto ao valor das companhias. Dessa vez, com as condições de mercado deterioradas, Camargo, da Restoque, estaria disposto a abdicar de parte de seu poder e da posição de presidente do conselho de administração em favor de uma tentativa de retomar a rentabilidade. Mas, ao fim do processo, considerou que as sinergias esperadas não compensariam as dificuldades da negociação e os problemas que poderia ter com Alvarenga no futuro. Na prática, a operação seria uma compra da InBrands por sua rival, que deveria ter mais de 60% das ações da empresa resultante. A companhia de Alvarenga, de capital fechado e um faturamento anual em torno dos R$ 900 milhões, acumula dívidas de R$ 591 milhões – situação que não casaria bem com o já alto endividamento da Restoque, uma empresa com receita bruta de R$ 1,5 bilhão e endividamento de R$ 761 milhões.
Além da questão da somatória de dívidas, a Restoque também teria de lidar com a sua dose de problemas próprios, já que o fundo Artesia, de Camargo e de Marcelo Lima, tem vivido em pé de guerra com os outros acionistas, os fundos americanos Advent e Warburg Pincus, desde que ele passou a comprar ações no mercado para aumentar a sua participação de 14% para 43% do controle. Sem contar outros obstáculos de ordem prática, como definir onde concentrar os funcionários das empresas combinadas, já que a sede da Restoque na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, não teria espaço para receber todos os empregados da administração. “Na primeira tentativa de fusão, havia muito mais chances de sucesso, já que as empresas iam bem e a crise estava só batendo à porta. Agora, seria um abraço de afogados”, avalia Douglas Carvalho, sócio da Target Advisor, consultoria especializada em varejo, que ajuda empresas de vestuário a fazer aquisições. “Mas a negociação nesse setor não é tão simples quanto comprar um terreno. É uma conversa com o cara criativo que construiu uma marca e tem orgulho disso.”
Para o consultor, o fracasso das negociações prejudicará mais a InBrands. Afinal, ambas precisarão de recursos financeiros para passar pela crise e a Restoque, por ter ações negociadas na B&MFBovespa, teria mais acesso a capital. Já a InBrands, que cogitou lançar ações na Bolsa, mas desistiu no ano passado, pode ter dificuldades de encontrar outros interessados no negócio. A saída seria o aumento do capital, que deveria ser feito pelo empresário e pelo fundo Vinci Partners, de Gilberto Sayão. Este último já se viu em situação similar em outro de seus principais investimentos, a construtora PDG, na qual precisou aportar R$ 500 milhões em 2012, e poderia não gostar de se ver de novo na mesma situação. Mas esse não vai ser um problema da Restoque. Procuradas, as partes envolvidas não comentaram.