O setor de petróleo e gás está recheado de projeções superlativas sobre o crescimento do mercado nacional. Com a exploração da camada do pré-sal, a Petrobras deve multiplicar por cinco a extração de petróleo, passando de 200 mil para um milhão de barris diários, até 2017. Até lá, a companhia pretende lançar 49 novos navios ao mar, ampliando para 110 sua frota de petroleiros. Para suprir as plataformas de exploração do pré-sal que serão construídas, será preciso dobrar para 568 a frota de embarcações de suporte, encarregadas de rebocar as megaestruturas. Essa expansão rápida, porém, escancara uma dor do crescimento brasileiro: a falta de mão de obra qualificada, em terra e no mar. 

 

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No balanço do mar: Marinha amplia capacidade de formação de oficiais

de navios mercantes para dar conta do recado

 

Só nos estaleiros, onde são construídos os navios que seguem para a exploração em alto-mar, o número de empregados passou de 1,9 mil para 62 mil, nos últimos 12 anos. O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) calcula que outras 30 mil vagas sejam abertas até o fim de 2015. Para garantir a oferta de trabalhadores, a Petrobras investe, desde 2006, num programa de formação que já capacitou 90,7 mil profissionais para o setor de óleo e gás e a indústria naval. Mas, com as previsões de novos investimentos – só a Petrobras deve investir US$ 70 bilhões até 2016 –, o esforço de qualificação precisa ser acelerado. Até o fim de 2015, a companhia de petróleo estima que a demanda por profissionais gere 200 mil novos postos de trabalho. 

 

Ou seja, será preciso formar duas vezes mais pessoas na metade do tempo. “Vivemos um problema crônico de falta de mão de obra na cadeia de óleo e gás desde 2005”, diz Jean Paul Prates, da consultoria Expetro, do Rio de Janeiro. O assunto já afeta até mesmo a Marinha, responsável por qualificar os oficiais das tripulações da marinha mercante, que contava um déficit de 227 profissionais em 2011. O número parece pequeno, equivale à tripulação de 22 barcos de apoio ao setor de petróleo. Um estudo feito a pedido da Transpetro, braço de logística da Petrobras, aponta que podem faltar 992 oficiais em 2020. Um dos reflexos desse quadro foi a valorização dos salários: a remuneração de um oficial já supera os R$ 12,7 mil mensais, crescimento real de 37,4%, desde 2003.

 

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Prates, da Expetro: ”Falta de profissionais na cadeia

de óleo e gás é crônica, desde 2005″

 

A Diretoria de Portos e Costas (DPC) da Marinha já está atenta a essa lacuna. “A relação entre oferta e demanda por oficiais deverá se equilibrar a partir de 2015”, diz o vice-almirante Ilques Barbosa Júnior, diretor do DPC. O problema é que a capacitação de oficiais demanda quatro anos de estudos – sendo três em regime de internato – antes de partir para o alto-mar. “A formação é longa e o setor precisa de uma solução já”, diz Bruno Rocha, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma). Uma saída encontrada pelo governo para reduzir o gargalo foi flexibilizar, até o fim de 2013, o cumprimento da exigência de contratação de dois terços de tripulação brasileira em 91 embarcações estrangeiras que operam no País. 

 

No ano passado, foram concedidos 17,7 mil vistos de trabalho para estrangeiros em embarcações e offshore, 16% a mais que em 2010, incluindo oficiais marítimos. Enquanto isso, a Marinha brasileira corre contra o tempo. Único órgão autorizado a preparar oficiais no País, a Marinha ampliou sua capacidade de formação nas duas academias que mantém, no Rio de Janeiro e em Belém. Em 2012, serão 726 novos oficiais, o maior número desde 1976, quando a indústria naval brasileira vivia seu auge. E a previsão é de que sejam formados, em média, 1,1 mil oficiais por ano, até 2020. Até lá, a ordem é salve-se quem puder. 

 

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