30/10/2015 - 20:00
É conhecida dos torcedores apaixonados por futebol a célebre conversa entre o treinador da seleção brasileira Vicente Feola e o atacante Garrincha. Em sua preleção para o jogo contra a ex-União Soviética, na Copa da Suécia, em 1958, o técnico desenhou a jogada que envolveria vários jogadores e terminaria com um gol. Garrincha com sua simplicidade habitual, perguntou a Feola. “Tá legal, mas você já combinou isso com os russos.” A proposta feita pelo fundo LetterOne, do bilionário russo Mikhail Fridman, de aportar até US$ 4 bilhões na operadora brasileira Oi, condicionada a fusão com a TIM, relembrou essa história.
A pergunta de todos no mercado é se Oi e LetterOne já haviam combinado a estratégia com os italianos da Telecom Italia, controladora da TIM no Brasil. A proposta russa foi aprovada pelo conselho de administração da Oi, na semana passada. Agora, o banco de investimento BTG Pactual, contratado pela Oi para estruturar a oferta, corre para apresenta-la à TIM. Em sua passagem pelo Brasil, na semana passada, o presidente da Telecom Italia, Marco Patuano, negou que tenha aberto uma negociação formal e disse que só aceita conversa se houver mudanças no marco regulatório brasileiro.
“Qualquer oportunidade com telefonia fixa implica investimentos grandes, precisa de marco regulatório atualizado”, disse Patuano, na Futurecom, evento de telecomunicações, que aconteceu na semana passada, em São Paulo. “Enquanto não se resolver o problema da concessão, não acontece nada”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Não é de se estranhar, portanto, que o presidente da Oi, Bayard Gontijo, tenha defendido mudança nas regras de concessões, previstas para serem atualizadas até o fim deste ano. Em uma apresentação de 25 minutos, Gontijo propôs trocar investimentos em telefonia fixa por banda larga. “O modelo atual está esgotado”, disse o executivo.
“Sou obrigado a instalar um telefone público a cada 300 metros, mas os jovens nunca devem ter usado um telefone público na vida deles.” Um tema sensível também é o dos bens que devem ser devolvidos no fim da concessão, em 2025. Não se sabe claramente o que deve ou não retornar ao Estado. A Oi, por exemplo, tem mais de sete mil imóveis e não pode vendê-los. “Costumo me perguntar se a Oi é uma empresa imobiliária ou de telecom”, brincou Gontijo. Não é a primeira vez que Oi e TIM tentam uma fusão, que formaria a maior empresa de celular do Brasil, à frente da Vivo. Em 2014, o negócio quase aconteceu.
A transação só não avançou por detalhes insuperáveis, na ocasião. Patuano, por exemplo, pedia garantias de que se aparecessem esqueletos na balanço da Oi, depois da fusão, eles não seriam assumidos pela operadora italiana. Outro ponto crítico era a questão do controle. O executivo italiano queria ser majoritário no negócio, o que não agradou os sócios brasileiros da Oi. Com dívidas bruta de R$ 51,2 bilhões e com dificuldade de investir, o controle do negócio parece ser o menor dos problemas da LaFonte, da família Jereissati, e da AG Telecom, do grupo Andrade Gutierrez, principais acionistas da Oi.
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Um bilionário bom de briga
O fundo LetterOne pertence ao russo Mikhail Fridman, um dos homens mais ricos da Rússia, com uma fortuna estimada em R$ 14,7 bilhões, segundo o ranking da Forbes. Nascido em 1964, em Lviv, na Ucrânia, Fridman começou sua carreira vendendo tapetes e ingressos de teatro. Quando a União Soviética ruiu, ele foi um dos empresários que emergiram dos destroços do antigo império comunista soviético.
A holding Alfa-Eco, criada em 1989, deu origem ao grupo Alfa, que detém participações em bancos, empresas de telecomunicações e de energia. Em 2005, Fridman criou a Altimo, que investe em empresas de telefonia. Por meio dela, o oligarca russo é o maior acionista da VimpelCom, operadora com sede na Holanda com fatias em empresas na Rússia e na Itália, entre outros países. Ele também é acionista minoritário da Turkcell. Pouco se sabe sobre Fridman, mas é certo afirmar que ele não hesita em comprar uma briga.
Entre os casos que ilustram seus estilo agressivo para os negócios estão os litígios societários com a petroleira britânica BP e a companhia norueguesa de telecomunicações Telenor. Em 2013, ele vendeu sua fatia na TNK-BP por mais de US$ 14 bilhões. Em seguida criou a LetterOne, para investir de negócios de telecomunicações e tecnologia. É parte desse dinheiro que pode parar nas mãos na nova empresa resultado da união de Oi e TIM – caso os italianos concordem, é claro.