23/05/2012 - 21:00
O tempo passou rápido para o Facebook. Fundado em fevereiro de 2004, em um pequeno dormitório na universidade Harvard por um grupo de jovens estudantes, à frente o nerd Mark Zuckerberg, a rede social fez história na manhã da sexta-feira dia 18. A empresa protagonizou a maior abertura de capital de uma companhia americana em valor de mercado até hoje. O do Facebook, que arrecadou cerca de US$ 16 bilhões no IPO, ficou acima dos US$ 104 bilhões (até o fechamento desta edição). Aos olhos dos investidores, é como se cada um dos 901 milhões de usuários da rede social, mais de 45 milhões deles brasileiros, valessem cerca de US$ 115. Bem mais que os US$ 25 desembolsados pelo próprio Facebook para cada um dos 40 milhões de usuários do Instagram, adquirido na primeira quinzena de abril, em um negócio de US$ 1 bilhão.
Euforia na Nasdaq: telão na Times Square mostra Zuckerberg e equipe celebrando o lançamento
das ações da maior rede social do mundo.
Em outras palavras, o valor representa mais de 24 vezes os US$ 4,2 bilhões de faturamento do negócio fundado por Zuckerberg, no ano passado. Para efeito de comparação, o Google, que fez seu IPO em 2004, fechou seu primeiro dia na bolsa valendo ao redor de US$ 23 bilhões ou pouco mais de 16 vezes a sua receita no ano anterior. O valor de mercado atingido pelo Facebook é maior ainda do que o de muitas empresas renomadas, como Disney (US$ 79 bilhões), Ford (US$ 38 bilhões), Boeing (US$ 52 bilhões), HP (US$ 44 bilhões) e Amazon (US$ 98 bilhões). Isso para citar apenas alguns exemplos icônicos. Atualmente, apenas 22 empresas listadas na bolsa americana, entre elas algumas de tecnologia, como Apple, Google, Microsoft e IBM, possuem valor de mercado superior ao do Facebook.
São dados que reforçam o caráter excepcional da maior rede social do mundo. Hoje, mais de um terço de todas as pessoas conectadas do planeta usa o Facebook para uma miríade de atividades, como publicar fotos, jogar games, ouvir músicas, ver filmes, conversar com os amigos, ler notícias e até fazer compras. Não por acaso, Zuckerberg , o cofundador e CEO da rede social, hoje com 28 anos, cuja fortuna é estimada em quase US$ 30 bilhões, era só sorrisos na hora de tocar o sino que simbolizava o início dos negócios na Nasdaq. “Só o tempo dirá se o valor de mercado do Facebook é fruto de uma grande confiança do mercado nos resultados futuros da empresa ou o sinal de uma nova bolha se formando”, diz Marcelo Coutinho, professor de comunicação da FGV-SP.
Fato é que não se via tamanho frenesi na Nasdaq desde os anos 1990. Mais precisamente, desde o período que antecedeu o estouro da bolha pontocom entre 2000 e 2002. Nessa época, o setor de tecnologia mergulhou em uma profunda crise, e as empresas listadas na Nasdaq perderam cerca de US$ 5 trilhões em valor de mercado. Apesar do burburinho, os tempos são outros. A bolsa de tecnologia está atualmente na casa dos 3.000 pontos, bem abaixo do pico de 5.132 pontos registrado no início da década passada. Mas se o foco da análise muda para os investimentos em start-ups que ainda não fizeram a abertura do seu capital, o espectro de uma nova bolha pontocom fica talvez mais presente.Hoje, pelo menos 20 empresas iniciantes de tecnologia, como a rede social Pinterest, o serviço de armazenamento de arquivos na nuvem Dropbox e a plataforma para aluguel de quartos e casas ao redor do mundo Airbnb, estão avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
“O mundo vive hoje uma escassez de boas oportunidades de investimento. E as empresas de internet, com o Facebook à frente, surgem com a promessa de altos retornos”, observa o professor de finanças da Escola de Economia da FGV-SP Samy Dana. “E, apesar dos grandes riscos envolvidos, elas novamente têm seduzido muita gente.” Um endurecimento nas regras de privacidade e a mudança da internet dos PCs para os smartphones e tablets surgem como as duas maiores ameaças ao futuro do Facebook. Mas Zuckerberg parece estar atento aos desafios. Não por acaso, boa parte de sua equipe de programadores passou a madrugada que antecedeu o IPO trabalhando na sede da empresa, em Menlo Park, no Vale do Silício. Tudo para tentar garantir que os bons resultados vistos na abertura de capital sejam apenas as preliminares de uma longa curtição.