Durante boa parte de seus 317 anos de existência, a Casa da Moeda do Brasil cumpriu basicamente sua função constitucional: produzir as notas e as moedas que fazem girar a economia brasileira. 

Na prática, seu único cliente era o Banco Central (BC). Hoje, a empresa segue confeccionando real. Contudo, a cada ano a Casa da Moeda vem abrindo espaço em seu portfólio para atender a outros órgãos governamentais, além de atuar em concorrências no Exterior – será ela que imprimirá uma parcela das notas de guarani, que circula no Paraguai, e do peso, usado na Argentina.

 

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“A palavra lucro foi incorporada ao nosso dia a dia” Luiz Felipe Denucci, presidente da Casa da Moeda.

 

A diversificação se intensificou a partir de 2008, quando o parque industrial situado em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, começou a produzir desde selos holográficos para cigarros e garrafas de bebidas até certidões de óbito e de casamento. 

 

Juntas, essas linhas de produtos  já respondem por 65% do faturamento da empresa, que fechou 2010 com receitas de R$ 2,1 bilhões, o quádruplo do obtido em 2007. Mas é na rubrica “Rentabilidade sobre o patrimônio líquido” que é possível enxergar, com mais clareza, os benefícios da nova estratégia. A rentabilidade deu um salto espetacular,  de 6,9%, em 2006, para 92,7% em 2009 e 84,7% no ano passado, gerando um lucro líquido de R$ 416 milhões. 

 

“Temos uma função de empresa pública, que é a de produzir notas e moedas. Mas nem por isso pode abrir mão da lucratividade e da competitividade”, afirma Luiz Felipe Denucci, presidente da estatal, no posto desde 2008. 

 

“A palavra lucro foi incorporada ao nosso dia a dia.” Trata-se de um discurso que, até bem pouco tempo atrás, não fazia parte do vocabulário de uma empresa cujos dirigentes ainda são escolhidos pelo critério político. 

 

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Denucci chegou lá graças a uma indicação do PTB. Mas ele possui um currículo competitivo. Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denucci construiu uma longa carreira como técnico de empresas estatais e de economia mista. 

 

Estão em seu currículo companhias como a Brasilcap e Brasil Saúde (ambas ligadas ao Banco do Brasil)  e instituições como o BC e  a Superintendência de Seguros Privados (Susep). 

 

“O problema da gestão pública é quando se alia a sugestão política com a falta de planejamento”, diz Reginaldo Nogueira, coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec de Minas Gerais. “Com um bom corpo técnico e uma agenda modernizadora, os resultados aparecem.” 

 

A estratégia de Denucci avançou em duas frentes: na modernização do maquinário e valorização dos funcionários. No ano passado, foram aplicados R$ 244,3 milhões. Este ano, o objetivo é atingir R$ 360 milhões. 

 

Com isso, ele espera intensificar a expansão das operações para além da fronteira brasileira. Seu próximo alvo é a licitação que o governo da Venezuela pretende fazer para terceirizar a produção de sua moeda. 

 

Sua política de recursos humanos inclui o fortalecimento da participação dos funcionários nos lucros e resultados. Em 2010, os 2,3 mil empregados dividiram uma bolada de R$ 24,7 milhões. 

 

Apesar de todos os pontos positivos, Denucci não escapou de uma grande “saia-justa” recentemente. No ano passado, a Receita Federal multou o dirigente em 

R$ 3,5 milhões, por causa de um suposto repasse de recursos financeiros ao Exterior em 2000.  

 

Denucci contesta a decisão. Alega que suas contas pessoais passaram a ser devassadas e que sofre perseguição política, como represália à adoção da transparência nos números da Casa da Moeda.