A fabricante paulista de calçados Vulcabrás anunciou, na segunda-feira 18, a compra de uma fábrica na Índia para transferir ao país asiático a parte mais intensiva de mão de obra de sua produção de tênis. O negócio, cujo valor não foi divulgado, revela uma mudança de postura de alguns setores industriais no Brasil. 

Em razão da competição com importados e do real valorizado, algumas empresas estão transferindo sua produção ou parte dela para o Exterior. Dona das marcas Azaleia, Dijean, Olympikus e Opanka, e representante da Reebok no Brasil, a empresa controlada pelo gaúcho Pedro Grendene, começará a  produzir em Chennai, quinta maior cidade indiana, no sul do país.

 

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“Escolhemos a Índia por ser mais fácil de fazer negócios do que a China”

Milton Cardoso, presidente da Vulcabrás

 

Em dois anos, a Vulcabrás, que faturou R$ 1,95 bilhão no ano passado, vai investir US$ 50 milhões na linha de produção asiática, onde devem ser gerados cinco mil empregos diretos. Na fábrica, serão produzidos os cabedais, a parte superior do tênis. O desenho, a fabricação do solado e a montagem final do produto continuarão no Brasil. 

 

“Os cabedais produzidos aqui representam até 70% do custo do calçado. Na Ásia, passarão a ser 30%”, afirmou à DINHEIRO Milton Cardoso, presidente da Vulcabrás. De acordo com ele, a empresa procurou um local que oferecesse uma cadeia produtiva similar à brasileira, com economia de escala, pessoal treinado e equipamento disponível. A Índia é hoje o segundo maior produtor mundial de calçados, à frente do Brasil e atrás da China.

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A Vulcabrás não é um exemplo isolado. Recentemente, a fabricante de cosméticos Natura acelerou seu processo de internacionalização. A companhia abriu uma fábrica na Colômbia, voltada para maquiagem, sabonetes e cremes, e outra no México, de xampus e perfumes. O presidente da empresa, Alessandro Carlucci, afirmou, durante anúncio dos resultados de 2010, em fevereiro, que o objetivo principal dessas plantas industriais é produzir para os mercados locais. 

 

A Vicunha Têxtil também anunciou no início deste ano acordo com o grupo argentino Ullum para iniciar a produção de denim na Argentina. “À medida que a defasagem cambial aumenta, o cenário favorece a importação e a fazer investimentos no Exterior”, diz Sherban Leonardo Cretoiu, gerente do núcleo de negócios internacionais da Fundação Dom Cabral. “Acredito que as empresas brasileiras devem ampliar suas estratégias de internacionalização.”