Os exportadores brasileiros estão preocupados. Apesar de os números do comércio exterior ainda mostrarem um mercado pujante – o País exportou US$ 195,4 bilhões neste ano até o dia 7 de outubro, um crescimento de 30,4% em relação ao mesmo período de 2010 – a crise internacional já emitiu alguns sinais de aviso. O principal deles é que o crédito à exportação está mais caro. O preço das operações mais comuns, o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) e o Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE), com um ano de prazo, subiu até 0,3 ponto percentual em relação aos contratos fechados há dois meses. As linhas mais longas, com prazos entre um e três anos, foram reajustadas em média 0,5 ponto percen-tual. Empréstimos com prazos superiores a três anos praticamente desapareceram. Os poucos que ainda podem ser encontrados estão cerca de um ponto percentual mais caros. A diferença parece pequena, mas esses contratos envolvem cifras bilionárias e qualquer centavo afeta muito o resultado final.

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Isso ocorreu por causa de uma reação em cadeia. Os bancos europeus são os maiores financiadores do comércio internacional. Em razão dos temores de uma crise bancária na Europa, eles estão cerrando as portas (ainda que sem fechá-las completamente) para seus parceiros brasileiros. Como consequência, esses bancos têm sido obrigados a repassar essa alta de preços para seus clientes. “A primeira reação dos bancos à crise é diminuir os prazos de financiamento e, em seguida, elevar os preços das operações mais curtas”, diz Fernando Freiberger, diretor do HSBC Corporate. De acordo com ele, se a crise piorar, os clientes param de exportar e também ficam em situação precária. “O mercado se adianta a tudo isso e as taxas sobem”, afirma. O crédito à exportação depende de vários fatores. Esses empréstimos são formados por um custo base, medido em geral pela taxa de juros do mercado interbancário inglês, a chamada Libor. 

 

Outros componentes do preço são o risco de crédito do cliente, o risco da operação, as garantias oferecidas, o prazo e o relacionamento com o banco. Esse é um mercado muito ativo: grandes exportadoras, com vendas acima de US$ 500 milhões por ano, consultam os bancos todos os dias para verificação de preço. Sua situação está mais difícil, mas não chega a ser preocupante, pois contam com um fluxo de caixa previsível, dívidas administradas e maior poder de barganha com os bancos. Outra alternativa, especialmente para os maiores exportadores, é repatriar divisas que mantêm no Exterior. “As grandes companhias deixam o dinheiro lá fora para pagar importações e investir, mas em momentos de crise elas podem usar esses recursos para financiar suas próprias operações”, diz Wagner Medeiros, coordenador de câmbio e financiamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). 

 

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“As empresas pequenas têm menos fôlego e são mais prejudicadas” – Fernando Freiberger, diretor do HSBC Corporate

 

É uma solução para poucos, diga-se. “Como quase sempre ocorre, as pequenas e médias empresas sofrem mais porque não têm tanto fôlego para negociação”, diz Freiberger. Esse quadro pode se tornar mais complicado caso a situação na Europa se agrave, apesar de o socorro estatal ao banco franco-belga Dexia, fechado no início de outubro, ter oferecido um alívio para o mercado. “A liquidação do Dexia agrava a crise e aumenta a aversão ao risco”, diz José Candido Senna, presidente da comercial exportadora ConTrate. Segundo ele, se os governos europeus não apresentarem uma solução, deverá haver mais retração no crédito e maiores custos. A preocupação dos exportadores só não é maior porque há recursos no sistema financeiro para socorrer o setor. Os R$ 19 bilhões do Fundo Soberano e parte dos R$ 400 bilhões dos depósitos compulsórios dos bancos, podem ser usados para suprir uma escassez de crédito. No entanto, isso não garante que o dinheiro será barato, o que pode ameaçar os lucros e a competitividade do setor.