A crise econômica global, que atingiu mais fortemente a Europa desde o ano passado, está afetando diretamente a estratégia das empresas do Velho Continente. Além de colocarem o pé no freio, devido à redução da atividade econômica na região, muitas delas estão se desfazendo de ativos considerados não estratégicos. Um exemplo disso foi dado pela empresa de telefonia espanhola Telefónica, que, na semana passada, vendeu à americana Bain Capital sua divisão de serviços de atendimento ao cliente, a Atento. O negócio, que rendeu US$ 1,34 bilhão, pode produzir impactos no Brasil, onde 54% das receitas da Atento são geradas. 

 

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Ecos da crise: à exceção dos monumentos, parece que tudo pode ser vendido, no Continente

 

Transações do gênero tendem a se tornar cada vez mais corriqueiras nos próximos meses (veja no quadro ao final da reportagem), em uma espécie de liquidação corporativa. “A crise fez com que muitas empresas redimensionassem seus planos de expansão”, diz o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). “A venda de subsidiárias surge como uma opção rápida para reduzir o endividamento.” Essa, aliás, foi a motivação da Telefónica. Sua dívida de € 58,3 bilhões equivale a 2,7 vezes o lucro operacional antes de juros, impostos, depreciação e amortização. A meta dos espanhóis é reduzir essa relação para 2,35 vezes até o fim do ano. Será necessário, para alcançar esse objetivo, vender outros ativos. 

 

Isso explica também por que a alemã ThyssenKrupp decidiu passar nos cobres suas siderúrgicas nos Estados Unidos e no Brasil, onde atua em parceria com a Vale na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). Hoje, o movimento de compra e venda difere da grande temporada de fusões e aquisições, ocorrida no início da década de 2000, quando grandes conglomerados globais surgiram sem que houvesse o desembolso de um centavo sequer. Tudo foi feito com base na troca de ações. Desta vez, o que fala mais alto é a necessidade de fazer caixa. Para Corrêa de Lacerda, até mesmo os potenciais prejuízos podem representar ganhos futuros. “As empresas se livram de ativos não estratégicos e recuperam a capacidade de crescimento em bases mais sólidas”, afirma o economista. 

 

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