17/05/2013 - 21:00
O rigoroso inverno europeu deste ano vem castigando os alemães, que têm evitado sair de casa para fugir do frio e da neve. As baixas temperaturas seriam as responsáveis pelo pálido desempenho do PIB da maior potência do Velho Continente, que avançou mero 0,1% no primeiro trimestre deste ano, segundo dados divulgados pelo Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha na quarta-feira 15. Culpar os termômetros, porém, lembra as análises dos torcedores que apontam apenas os erros do juiz para justificar derrotas em campo. O pífio desenvolvimento do país indica que ele não está totalmente blindado dos ventos desfavoráveis que sopram na região.
Hollande, da França: ”O desafio é o crescimento, é encontrar
uma saída para a crise”
Na mesma quarta-feira, o Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat) revelou que a atividade econômica nos 17 países da Zona do Euro recuou 0,2% entre janeiro e março deste ano, a sexta retração trimestral consecutiva, marcando a mais longa recessão do bloco desde o estouro da crise em 2008. Os motivos dessa paralisia prolongada já eram evidentes para a maioria da população, que enfrenta taxas de desemprego altíssimas e tem sido submetida a seguidos cortes de benefícios e altas de impostos. A desgastada fórmula do arrocho, amplamente defendida pela chefe de Estado alemã Angela Merkel, reduziu a renda dos europeus, com graves repercussões sobre o consumo.
Portugal vende tudo: apartamento no Edifício Dakota, liquidado por US$ 12,5 milhões
“O discurso repetitivo sobre austeridade acaba desestimulando a população a ir às compras”, diz Kai Enno Lehmann, doutor em Relações Internacionais, do Grupo de Estudos Internacionais da Universidade de São Paulo. Na semana passada, porém, os críticos do conservadorismo das propostas para superar a estagnação europeia ganharam um aliado de peso, que passou a enxergar o óbvio. “O que abate a Europa é a recessão provocada por políticas de austeridade”, disse o presidente da França, o socialista Françoise Hollande, que completa um ano no poder nesta semana. A segunda maior economia da Zona do Euro voltou a registrar um quadro recessivo, com queda de 0,2% do PIB, no primeiro trimestre deste ano (leia quadro ao final da reportagem).
Perdeu, Merkel: política de arrocho da primeira-ministra da Alemanha
agravou a recessão no Velho Continente
“O desafio é o crescimento, é encontrar uma saída para a crise”, afirmou Hollande. Semanas atrás, o presidente francês já havia anunciado a redução da participação estatal em empresas como France Telecom, Air France e Renault. A ideia é vender ações e garantir € 60 bilhões em recursos para lançar um plano agressivo de investimentos. Nem todos os países do bloco, porém, têm uma margem de manobra como a França. O governo português, que enfrenta desemprego de quase 30% entre os jovens, e cuja economia recuou 3,9% no primeiro trimestre, está vendendo o que pode. Um desses ativos é um apartamento no centenário e luxuoso Edifício Dakota, famoso por ter sido o endereço do beatle John Lennon, localizado em frente ao Central Park, em Nova York.
O imóvel, de quatro dormitórios, foi vendido por US$ 12,5 milhões e ajudou a acertar as contas com os credores. Em meio ao quadro recessivo do bloco, há quem enxergue um lado positivo nos resultados divulgados na semana passada. A Europa teria alcançado o fundo do poço, capaz de tocar os brios dos chefes de Estado, como Hollande, que começaram a aposentar o discurso da austeridade e buscar alternativas. O primeiro ministro britânico, David Cameron, por exemplo, aproveitou o encontro com o presidente americano, Barack Obama, na segunda-feira 13, na Casa Branca, em Washington, para reforçar a pauta sobre a zona de livre comércio entre o bloco europeu e os Estados Unidos. “Precisamos aproveitar as oportunidades conjuntas, para garantir uma recuperação econômica saudável”, disse Cameron, logo após se reunir com Obama.