O 14º andar de um moderno edifício da Avenida Faria Lima, zona Sul de São Paulo, onde se concentram os grandes bancos de investimento do Brasil, está mais silencioso. Quase todas as cadeiras estão vazias em um dos cantos da conhecida sala de negociação que reúne os profissionais mais importantes do banco BTG Pactual. Os operadores de commodities que as ocupavam mudaram-se para Londres, onde ficam as instalações da Engelhart Commodity Trading Partners (ECTP). Com cerca de 800 funcionários e sócios, a ECTP é o resultado de uma cisão nos negócios do BTG. Para melhorar os indicadores de uso de capital próprio, conhecido como índice de Basileia, o banco anunciou, em abril, a separação das operações com commodities, excetuando-se os negócios com energia. Engelhart é um nome próprio de origem nórdica (literalmente “coração de anjo”), que significa destemido. Porém, segundo o compêndio de neologismos americano Urban Dictionary, também pode significar alguém muito consciente de sua própria superioridade. É uma definição adequada para o banco, e em especial para seu fundador, André Esteves. Depois de passar por uma crise, o BTG se esforça para criar uma agenda positiva e mostrar que o pior já passou, preservando as características de sua formação.

Para relembrar o caso. Esteves foi preso pela Operação Lava Jato em novembro passado, por acusações de envolvimento em uma suposta operação para tirar do Brasil o ex-executivo da Petrobras, Nestor Cerveró. Nada ficou provado, mas o BTG Pactual sofreu o golpe mais sério de sua história. O valor de mercado caiu 35% nos primeiros dias após a prisão, e a gestão de recursos encolheu de R$ 230 bilhões em setembro de 2015 para R$ 118 bilhões, em junho. Para estancar a crise, os sócios agiram rápido. Ainda em novembro de 2015, destituíram Esteves das funções executivas e venderam ativos. Além da Engelhart, foram embora participações em companhias como BR Properties, a rede Estapar e o banco suíço BSI, que havia sido comprado em meados do ano passado.

Depois de estabilizarem o navio e se livrarem de todo o lastro possível, os sócios remanescentes do BTG Pactual embicaram a proa para águas mais tranquilas. Esteves, sem função executiva, mas dando expediente na sede do banco ao lado da cadeira do presidente do Conselho, Pérsio Arida, reorientaram o banco para suas atividades originais, entre elas fusões e aquisições e gestão de ativos. Segundo Marcelo Kalim, co-CEO do banco, a nova estratégia foi tornar o BTG Pactual mais leve e menos alavancado. “Reduzimos bastante as atividades de merchant banking”, disse ele há duas semanas na teleconferência de resultados, referindo-se às participações do BTG em outras empresas. “Nos próximos trimestres, vamos nos concentrar na redução de despesas e na melhora das margens.” O executivo disse que o banco terá de ganhar mais com menos. Ao longo dos próximos meses, ele disse não acreditar em um grande crescimento da carteira de empréstimos, mas afirmou esperar um aumento das margens.

Uma das mudanças na estratégia envolve captar clientes menos abonados oferecendo os fundos de investimento do banco. Segundo Marcelo Flora, sócio do banco, depois de dois anos de preparação, o BTG deverá lançar, no início de outubro, uma plataforma de distribuição de investimentos por meio de celulares. “Vamos oferecer nossos fundos, que hoje estão disponíveis para investidores institucionais e têm aplicações mínimas de R$ 5 milhões, para quem tiver pelo menos R$ 50 mil para aplicar”, disse ele à DINHEIRO. “Notamos que uma parte do varejo de alta renda oferece uma oportunidade de mercado.” A meta é captar 10% desse segmento, representado por dois milhões de investidores, que aplicam R$ 550 bilhões. O desafio é sepultar de vez a crise de confiança, conquistar esses clientes e convencer o mercado de que tudo voltou ao normal. Neste ano, as ações já subiram 18,4%, metade da alta do Ibovespa. Para Tito Labarta, analista do Deutsche Bank em Nova York, o BTG Pactual ainda terá de encontrar maneiras de retornar à rentabilidade patrimonial de 20% ao ano. Labarta recomenda manter as ações.